Arko Advice: tributação de lucros e dividendos virá com Lula ou Bolsonaro

Para Cristiano Noronha, vice-presidente da consultoria de análise política, medida aliviaria pressão por outros aumentos de impostos, como sobre grandes fortunas

Configuração das bancadas na Câmara vai obrigar Lula a ser "pragmático", diz Cristiano Aragão, vice-presidente da Arko Advice
28 de Setembro, 2022 | 04:54 PM

Bloomberg Línea — Independentemente do resultado das eleições presidenciais, alguma medida de tributação sobre a distribuição de lucros e dividendos deve ser aprovada pelo Congresso. É o que prevê o cientista político Cristiano Noronha, sócio e vice-presidente da consultoria de risco político Arko Advice.

“Não importa o governo, essa medida virá. Mas talvez o Lula faça algo mais escalonado”, disse Noronha nesta quarta-feira (28) em evento organizado pela agência de classificação de risco Fitch Ratings.

Isso enfraqueceria e tiraria apelo político da proposta de um imposto sobre grandes fortunas, defendida por alguns campos do PT e pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes.

Noronha disse acreditar que um eventual governo Lula será “fiscalmente responsável” e que não deve fazer nenhuma “maluquice” nesse campo. Entretanto ele disse que ainda há muitas incertezas, especialmente em relação à âncora fiscal que a administração petista deve adotar se ganhar a eleição, já que Lula e alguns integrantes da campanha defendem acabar com o teto de gastos.

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Previsão de resultado

Cristiano Noronha disse que a Arko trabalha com cenário em que Lula é o favorito para vencer as eleições deste ano, mas avaliam ser pouco provável que o faça no primeiro turno.

Segundo ele, existe uma “regra” dos dez pontos: se Lula passar para o segundo turno com mais de dez pontos de vantagem sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL), “as chances de reação são muito pequenas”. Se a distância for menor que dez pontos, Noronha acredita que Bolsonaro tem chance de se recuperar.

Para o cientista político, o cenário que se apresenta, em que a maioria das grandes bancadas do Congresso é de direita e hoje dá apoio a Bolsonaro, obrigaria Lula a ser “mais pragmático”. A previsão dele é que a bancada de esquerda ocupe cerca de 30% das cadeiras na Câmara - cerca de 171 cadeiras, mas os partidos da base do atual governo ainda continuem sendo maioria.

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“Espero pragmatismo de Lula do ponto de vista político. Ele não vai poder se furtar de ter apoio de partidos que estão na base de Bolsonaro”, afirmou. A previsão dele é que o PL, o PP, o PSDB e o MDB apoiem o ex-presidente caso ele seja eleito no domingo (2/10) ou no segundo turno.

Noronha previu, no entanto, que o Congresso mantenha a “independência” do Executivo que vem mostrando hoje - muito por causa de medidas orçamentárias, como o orçamento secreto (mecanismo de destinação de emendas que não identifica o parlamentar autor do pedido de envio de verbas) e o orçamento impositivo (parte do Orçamento no qual o Executivo não pode interferir).

“A independência do Legislativo em relação ao Executivo deve se manter”, disse. Segundo ele, Bolsonaro foi o presidente que mais teve vetos derrubados pelo Congresso. Foram mais de 60, e “nem o primeiro mandato nem acabou ainda”.

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Pedro Canário

Repórter de Política da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero em 2009, tem ampla experiência com temas ligados a Direito e Justiça. Foi repórter, editor, correspondente em Brasília e chefe de redação do site Consultor Jurídico (ConJur) e repórter de Supremo Tribunal Federal do site O Antagonista.