América Latina deve concluir ciclo de alta de juros ainda neste ano, diz XP

Em relatório, instituição destaca que bancos centrais devem continuar subindo juros diante de pressões persistentes de preços de commodities, gargalos e demanda aquecida

Com menor pressão inflacionária, XP vê espaço para cortes de juros no próximo ano, com a taxa Selic encerrando 2023 a 10%
19 de Setembro, 2022 | 01:15 PM

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Bloomberg Línea — O esforço global dos bancos centrais para controlar a disparada da inflação tem levado a um aumento sem precedente de juros ao redor do mundo, o que deve provocar uma desaceleração acentuada da atividade econômica. Na América Latina, a inflação continua em tendência de alta e com surpresas contínuas, o que tem feito diferentes instituições revisarem suas projeções para cima. É o caso da XP, que vê uma inflação pressionada e sem sinais de alívio na região.

Em relatório divulgado nesta segunda-feira (19) com exclusividade à Bloomberg Línea, a XP destacou que a inflação nos principais países da América Latina continuou em tendência de alta, refletindo pressões contínuas advindas dos preços elevados das commodities, gargalos nas cadeias de produção, e demanda agregada ainda elevada.

A avaliação é a de que os bancos centrais da região terão que subir os juros para patamares ainda mais elevados, dado que a alta dos alimentos e da energia continua a ter uma forte contribuição nos preços, se espalhando para outros setores da economia.

“Com a inflação persistentemente elevada, os bancos centrais da região têm mantido um ritmo acelerado de aumento dos juros, e ainda vão precisar continuar em uma trajetória de alta”, escrevem os responsáveis pelo estudo Francisco Nobre, economista da XP, e Andres Pardo, chefe de estratégia macroeconômica para a América Latina.

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Com exceção do Brasil, que já entrou em um processo de desinflação, a XP elevou as projeções de inflação para as demais economias da América Latina. Os economistas reforçam, contudo, que não abandonaram as expectativas de que o processo de desinflação global comece ainda neste segundo semestre.

Para Nobre e Pardo, o ciclo de aperto monetário se aproxima do fim, e a taxa terminal de juros será alcançada até o final de 2022 na maior parte dos países da região.

“Para 2023, vemos espaço para cortes no segundo semestre, mas os juros devem permanecer em níveis elevados em relação a padrões históricos. Consequentemente, condições financeiras mais apertadas devem contribuir para um alívio da demanda agregada, e reduzir pressões sobre preços”, escrevem os economistas.

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Além disso, o time da XP aponta que a queda nos preços das commodities e a normalização nas cadeias de produção contribuem para a desinflação global.

Confira as projeções e estimativas da XP para a inflação e taxa de juros no Brasil, na Colômbia, no México e no Chile:

Brasil: projeções melhoram apesar de mundo incerto e eleições

A três semanas da eleição presidencial, a XP destaca que o desafio fiscal no Brasil é grande, assim como a demanda por reformas estruturais.

Com a perspectiva de que a economia seguirá em recuperação, a casa elevou mais uma vez a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, de 2,2% para 2,8%. Para 2023, a previsão de expansão da atividade subiu de 0,5% para 1%.

Sob o efeito das reduções de tributos e beneficiada pela descompressão global de custos, a inflação vem caindo no país, e o IPCA registrou deflação em julho e agosto. Para este ano, a XP estima alta de 6,1% para o IPCA (ante 6,8%), enquanto para 2023, a projeção agora é de 5,3% (ante 5,5%).

De acordo com Nobre e Pardo, com as expectativas de inflação se estabilizando, o Banco Central deve interromper o ciclo de aperto monetário. “Sem ruptura fiscal, vemos espaço para cortes de juros no próximo ano, com a taxa Selic encerrando 2023 a 10%”, escrevem.

“No entanto, ainda é cedo para comemorar. A sustentabilidade desses resultados encorajadores depende da política fiscal no próximo governo, das perspectivas de reformas e do reequilíbrio global pós-pandemia. De toda forma, há sinais de que a economia brasileira tem potencial para um ciclo favorável adiante. Resta saber se vamos aproveitar a oportunidade”, escrevem os analistas.

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México: pressões inflacionárias contínuas e juros mais altos

Em agosto, a inflação no México veio acima do esperado, sugerindo pressões contínuas. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) avançou 0,70% no mês, com as variações mensais rodando acima do intervalo dos últimos 10 anos. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses avançou de 8,15%, em julho, para 8,70%, em agosto, marcando o maior aumento desde abril de 2021.

No relatório, a XP destaca que a inflação no México se encontra em patamares historicamente elevados, mas abaixo do pico da inflação encontrado em outros países da região. Com pressões contínuas, o time revisou as projeções de inflação para o final de 2022, de 8,2% para 8,5%. Para o final de 2023, a estimativa é de alta de 5,3% da inflação no país.

“Acreditamos que o Banxico (banco central do México) vá manter o ritmo acelerado de aperto monetário. Com a inflação rodando acima das expectativas do banco central, acreditamos que o mais provável seja um terceiro aumento consecutivo de 0,75 ponto percentual na próxima reunião (projetávamos 0,50pp anteriormente), o que levaria os juros para o 9,25%”, escreve a XP.

A casa também revisou as expectativas de taxa de juros terminal, de 9,75% para 10,0%, que deve ser atingida até o final no ano, segundo os economistas Nobre e Pardo.

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Chile: ativos descontados, refletindo riscos domésticos e internacionais

A inflação do Chile está entre a mais altas na América Latina. O índice de preços ao consumidor (IPC) avançou em 1,2% em agosto, acima das expectativas do mercado, e marcou a sexta viação acima de 1% nos primeiros 8 meses do ano.

A XP avalia que o processo de desinflação no Chile ganhará tração no segundo semestre, porém, em um ritmo mais lento. Os analistas revisaram as projeções de inflação para o final de 2022 de 11,5% para 12,3%. Com o processo de desinflação acelerando no ano que vem, a projeção é de que a inflação encerre 2023 em 5,6%.

Na avaliação dos economistas, os ativos chilenos devem continuar voláteis, refletindo um prêmio de risco elevado. “Avaliamos que a rejeição da nova constituição deve ter um impacto positivo nos ativos financeiros do Chile no curto prazo, refletindo um alívio dos riscos fiscais. No entanto, as incertezas políticas devem permanecer elevadas, uma vez que a permanência da Constituição atual não é considerada uma opção, e o debate constitucional vai continuar”, escrevem Nobre e Pardo.

Colômbia: economia superaquecida pressiona a inflação

Para a Colômbia, a XP elevou suas projeções para a inflação de fim de ano, de 10,2% para 11,2%. Para 2023, as estimativas subiram de 5,8% para 6.1%. A avaliação é a de que o BanRep (banco central da Colômbia) deve manter um ritmo acelerado de alta, mas que ele está se aproximando do final do ciclo.

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“Com a inflação persistentemente pressionada, o foco deve ser esfriar a atividade econômica, que segue muito aquecida, o mais rápido possível”, destaca a dupla de economistas. A casa mantém as expectativas de que o banco central encerrará o ciclo de alta de juros em outubro, e projeta uma taxa terminal entre 10,75% e 11,0% (ante 10% anteriormente).

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.