Adeus, Bonafont: Por que a Danone desistiu do mercado de água mineral no Brasil

Gigante do iogurte segue o exemplo da Nestlé e abandona o segmento de água engarrafada no Brasil; haverá demissões, e a Danone pretende focar em produtos de maior rentabilidade

Companhia deixa de produzir água mineral da marca Bonafont no Brasil
15 de Setembro, 2022 | 03:28 PM

Bloomberg Línea — O mercado brasileiro de água mineral viu a participação de players estrangeiros diminuir nos últimos anos. Neste mês, a gigante francesa Danone, maior fabricante de iogurte do mundo, interrompeu a produção da marca Bonafont no país, alegando seu plano de focar em segmentos mais rentáveis e com maior potencial de crescimento.

A saída da Danone desse nicho ocorre depois que a suíça Nestlé vendeu, em 2018, seu negócio de água no Brasil para o Grupo Edson Queiroz, de capital fechado, dono das águas Indaiá e Minalba, sediado no Ceará. Com a desistência das duas multinacionais, a única estrangeira com market share relevante no mercado brasileiro de água mineral agora é a norte-americana Coca-Cola.

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O conglomerado familiar cearense possui 24,8% do volume de água mineral consumido no Brasil, seguido pela Coca-Cola com 17,9% de participação, segundo levantamento da consultoria GlobalData. Em 2021, esse mercado cresceu 2,9% em volume anual no Brasil, totalizando 3,58 bilhões de litros, segundo a “Just Drinks”, site especializado ligado à GlobalData.

O Grupo Edson Queiroz informou à Bloomberg Línea, por meio de sua assessoria de imprensa, que possui 27,7% do volume de água mineral no Brasil, citando dado referente ao mês de julho, apurado pela ferramenta Nielsen Scantrack.

“Como parte da estratégia de criação de valor global da Danone, revisamos o nosso portfólio no Brasil e, como resultado dessa análise, decidimos focar o negócio local nas categorias maiores, mais rentáveis e em crescimento. Com isso, interrompemos, no dia 3 de setembro, a produção de água Bonafont no Brasil. A decisão por descontinuar a categoria de águas no Brasil não afeta outros mercados em que Bonafont está presente e nem a categoria de águas da Danone no mundo”, disse a Danone, em nota.

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Segundo a multinacional francesa, a Bonafont tem uma participação minoritária no portfólio da Danone Brasil e é comercializada, principalmente, no estado de São Paulo. A decisão de descontinuar a marca no Brasil vai provocar demissões, mas a empresa não informou o número de cortes.

“Estamos empenhando todos os esforços para minimizar o impacto junto aos colaboradores, alocando-os em outras áreas e garantindo condições adequadas de desligamento, incluindo pacote especial acima das exigências legais, programa de requalificação para equipe operacional e serviço de recolocação profissional especializado”, informou a multinacional.

Fora do mercado de água mineral, a gigante francesa planeja mirar em segmentos de inovação, como produtos à base vegetal, entre outros nichos. “Focaremos a nossa atuação nas categorias de laticínios, produtos à base vegetal e nutrição especializada, o que permitirá alocar mais recursos em inovação contínua para atender às demandas de nossos consumidores”, explicou a Danone.

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O discurso da companhia sobre o foco em seu “core business” lembra o da Nestlé em março de 2018, quando deixou o mercado de água mineral no Brasil. A Nestlé disse, na época, que iria focar seus investimentos em categorias nas quais tem maior perspectiva de crescimento, como café, produtos lácteos, nutrição, alimentação animal e orgânicos.

A transação da Nestlé Waters, divisão de águas do Grupo Nestlé, com o Grupo Edson Queiroz envolveu a venda das marcas brasileiras São Lourenço e Petrópolis e um acordo de distribuição das marcas globais premium Perrier, S. Pellegrino e Acqua Panna. O dono de Minalba e Indaiá tinha, na época, 10,7% de participação do mercado e já era o maior fabricante de água engarrafada do país.

Segundo a consultoria Kantar, o consumo de água reflete as diferentes realidades socioeconômicas do Brasil, com a bebida de filtro e torneira ganhando popularidade entre todas as classes sociais, principalmente C, D e E, nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro.

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“A água mineral cresceu principalmente via classe C, na região do Rio de Janeiro. Relacionadas à praticidade, as embalagens mais compradas são as que têm menos de cinco litros”, afirma a consultoria Kantar, no estudo “Consumer Insights 2021″, publicado em maio deste ano.

No Brasil, o setor é fiscalizado pela ANM (Agência Nacional de Mineração), uma autarquia federal vinculada ao Ministério de Minas e Energia. O consumo de água engarrafada tem suas peculiaridades em comparação a outros países. Os restaurantes brasileiros, por exemplo, estimulam a compra de água mineral, em vez de servir água de torneira, como é comum nos EUA e na Europa.

A variedade do produto também é limitada. Na Califórnia, por exemplo, já se encontram inovações como a água mineral infusionada com CBD (canabidiol, substância encontrada na cannabis). As embalagens também são bem diferentes. No Brasil, as gôndolas dos supermercados apresentam, em sua maioria, água em garrafas de plástico simples, sem inovações em tampas e aberturas. Com o aumento do custo do insumo e a oferta de produtos mais baratos, é cada vez mais comum encontrar garrafa de plástico de menor densidade e consistência.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.