Americanas: CVM questiona negociação atípica antes de anúncio de CEO

Órgão que fiscaliza o mercado de capitais pede explicações sobre oscilações e movimentação antes e depois de comunicado sobre Sergio Rial na sexta (19)

A Americanas anunciou na última sexta-feira (19) que Sergio Rial será o CEO da companhia a partir de 2023
24 de Agosto, 2022 | 08:13 AM

Bloomberg Línea — As ações da Americanas (AMER3) registram negociações consideradas atípicas na B3 (B3SA3) desde o último 10 de agosto, com aumento tanto de oscilações como do número de negócios e do volume movimentado, apontou a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) nesta terça-feira (23).

A mudança foi identificada antes e depois do anúncio da escolha do executivo Sergio Rial (ex-Santander), na noite da última sexta-feira (19), como novo CEO da companhia a partir de janeiro de 2023.

A autarquia que regula e fiscaliza o mercado de capitais pediu oficialmente esclarecimentos à companhia sobre as variações apontadas.

“Acerca da movimentação observada, a companhia destaca que não tem conhecimento de nenhum fato que tenha motivado as últimas oscilações registradas em suas açoes”, disse o CEO e diretor de Relações com Investidores da companhia, Miguel Gutierrez, em comunicado na noite desta terça.

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Em julho, a ação da Americanas teve uma média diária de negociação aproximada de R$ 200 milhões. Esse volume mais do que triplicou no último dia 10, quando AMER3 disparou mais de 7%.

Nos dois pregões seguintes, houve quedas acentuadas, de até mais de 9%, com volume de negócios acima do dobro da média de julho. No último dia 15, o preço do ativo voltou a saltar com força, mais de 16%, para devolver nas quatro sessões seguintes parte da valorização acumulada.

O auge da movimentação com o papel aconteceu na ultima segunda-feira (22), no primeiro pregão depois do anúncio da sexta à noite, quando os negócios superaram R$ 1 bilhão, e a cotação encerrou o pregão com 22,48% de alta. O papel subiu mais 15,91% ontem (23), a R$ 18,50.

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Analistas atribuíram a forte valorização nesta semana à reação de investidores ao anúncio do novo CEO. “Nós vemos a notícia como positiva e acreditamos que o mercado também verá essa mudança como um passo na direção certa, uma tentativa de trazer ideias novas para uma das mais bem-sucedidas histórias do varejo brasileiro”, apontou relatório do Itaú BBA.

Os analistas Thiago Macruz, Maria Clara Infantozzi e Gabriela Moraes escreveram que AMER3 tinha sido deixada de lado por investidores nos últimos trimestres. “Com a mudança da administração, acreditamos que mais investidores estão provavelmente dando à AMER3 o benefício da dúvida e pressumindo que mais valor pode ser extraído desse ativo em breve”, citou o relatório.

A XP também divulgou relatório sobre a substituição de Miguel Gutierrez por Rial a partir de 2023, considerando a notícia como um fato positivo. “Rial possui um histórico de gestão focado em controle de custos, sendo uma liderança motivadora e inspiracional, características que serão chave para suportar a transformação em curso da Americanas, além de trazer mudanças estruturais no processo de transformação cultural da companhia”, comentaram os analistas.

Por outro lado, a XP reduziu suas estimativas para alguns indicadores da companhia, cortando o preço-alvo para 2023 de R$ 21 para R$ 20 e citando, entre os motivos, “resultados de curto prazo mais desafiadores” e um “crescimento de receita mais conservador”.

A recomendação para o papel foi mantida em neutra. “Também reduzimos nossas estimativas de lucro líquido, por conta da elevação de taxas de juros”, citou o relatório da XP, acrescentando que os analistas “preferem estar expostos a outros varejistas com uma relação de risco/retorno mais equilibrada e com níveis de valuation similares”.

No ano, apesar da alta acentuada nesta semana, o papel acumula desvalorização de 41,10%.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.