Crise energética no sul da Ásia prejudica segundo maior exportador de roupas

Além dos apagões, que arriscam produtividade, inflação nos países importadores também afetou número de pedidos

Entre as empresas que o país atende estão a Gap e a H&M
Por Arun Devnath
13 de Agosto, 2022 | 09:20 AM

Bloomberg — A indústria de vestuário de Bangladesh, segundo maior exportador do mundo depois da China, está enfrentando uma combinação de desaceleração da demanda global e crise energética nacional que ameaça apagar a recuperação do país pós-pandemia.

A Plummy Fashions, fornecedora da PVH (controladora da marca Tommy Hilfiger) e da Zara, controlada pela Inditex, registrou queda de 20% nas encomendas de julho em relação ao ano anterior, disse seu diretor administrativo Fazlul Hoque.

“Varejistas dos mercados europeu e americano estão adiando as remessas de produtos acabados ou atrasando os pedidos”, disse em entrevista. “Com o aumento da inflação nos países para os quais exportamos, acabamos seriamente afetados”.

A diminuição dos pedidos é um risco para a economia na qual a indústria do vestuário representa mais de 10% do produto interno bruto e emprega 4,4 milhões de pessoas. O timing é um dos piores em Bangladesh, pois as autoridades estão recorrendo a cortes de energia para preservar as reservas de combustível em meio a uma crise energética em toda a região, causada em parte pela guerra na Ucrânia, o que está acabando com a produtividade.

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“O fornecimento ininterrupto de energia é fundamental entregarmos produtos a tempo”, disse Hoque. “Estamos enfrentando uma combinação de vários problemas no país e no exterior”.

Apagões que duram horas

Com a crise energética, o custo de fazer negócios aumentou. O Standard Group, um dos principais exportadores que abastece a Gap e a H&M, depende de geradores por pelo menos três horas por dia para alimentar suas unidades de tingimento e lavagem no centro de fabricação de Gazipur, nos arredores de Dhaka.

O custo da eletricidade proveniente dos geradores é o triplo da rede nacional porque o diesel está caro”, disse Atiqur Rahman, presidente do Standard, em entrevista separada. “Não podemos manter nossas unidades de tingimento e lavagem fechadas devido à falta de energia elétrica. Se o fizermos, todos os tecidos irão para o lixo”.

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Outro fator é a fraqueza do euro em relação ao dólar, que está acabando com o apelo das exportações de Bangladesh – cotadas em dólares.

“O vestuário é um item discricionário”, disse Charlie Robertson, economista chefe global da Renaissance Capital. “Se a conta de energia na Europa está aumentando, então as pessoas têm de cortar gastos discricionários – e as roupas serão um deles”, disse ele.

Efeito de contágio

A preocupação na indústria do vestuário do país sul-asiático lembra os pedidos cancelados nos primeiros dias da pandemia. As exportações de vestuário caíram para uma mínima de cinco anos de US$ 27,95 bilhões no exercício fiscal até junho de 2020, antes de uma recuperação. O país viu que as exportações de vestuário bateram um recorde de US$42,6 bilhões no exercício fiscal encerrado em junho, representando 82% do total das exportações.

Os exportadores também veem sinais ameaçadores do corte da projeção de lucros do Walmart (WMT) para o ano todo e sua promessa de reduzir os preços do vestuário.

Além disso, há um efeito de contágio regional do Sri Lanka, disse Robertson, apontando que as exportações do Paquistão estão ficando “muito mais baratas” por conta da fraqueza de sua moeda. “Isso aumenta a pressão sobre Bangladesh, e os principais mercados de exportação – com a Europa – comprarão menos produtos têxteis”, afetando o crescimento das vendas.

Bangladesh buscou um empréstimo do Fundo Monetário Internacional, tornando-se o mais recente país do sul da Ásia a pedir assistência, já que o petróleo mais caro corrói os estoques de dólares da região.

As reservas cambiais em Bangladesh caíram para US$ 39,79 bilhões em 13 de julho, ante US$ 45,33 bilhões um ano antes. Isso é suficiente para cobrir cerca de quatro meses de importações, pouco mais que a cobertura de três meses recomendada pelo FMI. O déficit comercial do país bateu um recorde de US$ 33,3 bilhões no exercício fiscal encerrado em junho.

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“Acabamos de nos recuperar da pandemia de covid-19 e logo começou a guerra”, disse Rahman, do Standard Group. “Somos apenas vítimas”.

--Com a colaboração de Karthikeyan Sundaram.

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