Conselho da Petrobras pode mudar política de preços para evitar ingerência

Há uma preocupação crescente entre acionistas de que a estatal comece a arcar com o custo de manter preços mais baixo

Proposta de transferir ao conselho a competência para estabelecer as diretrizes para o reajuste dos preços dos combustíveis pode ser votada em uma reunião do conselho em 27 de julho
Por Mariana Durao
18 de Julho, 2022 | 07:33 PM

Bloomberg — O conselho da Petrobras (PETR4; PETR3) está discutindo se deve assumir o controle da política de preços de combustíveis da estatal em um movimento que poderia protegê-la melhor da influência política, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

A política de preços da Petrobras atualmente é determinada pela diretoria executiva. Por enquanto, os preços dos combustíveis da petrolífera estão atrelados aos níveis internacionais. Mas há uma preocupação crescente entre os acionistas de que a Petrobras comece a arcar com o custo de manter preços mais baixo, com o petróleo acima de US$ 100 o barril.

A Petrobras está sob pressão crescente para domar os preços de combustíveis em meio à indignação pública com a inflação. O presidente Jair Bolsonaro, que busca a reeleição em outubro, já demitiu três presidentes da Petrobras e atacou a empresa pelo que chama de “lucros abusivos”.

A proposta de transferir ao conselho a competência para estabelecer as diretrizes para o reajuste dos preços dos combustíveis pode ser votada em uma reunião do conselho em 27 de julho, de acordo com as pessoas, que pediram para não serem identificadas. As negociações são preliminares e os detalhes ainda estão sendo discutidos. Não está claro se a mudança teria que ser aprovada pelos acionistas da petrolífera, que votarão em um novo conselho de administração no próximo mês, disseram as pessoas. A diretoria seguiria sendo responsável por decidir quando aplicar altas ou cortes de preços, mas levando em conta a estratégia ditada pelos conselheiros.

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A Petrobras não respondeu imediatamente a um pedido de comentário pela Bloomberg News. Em um comunicado nesta segunda-feira, a empresa anunciou uma assembleia extraordinária de acionistas em 19 de agosto.

A eleição de novos membros do conselho, que ocorrerá apenas quatro meses após a entrada dos atuais membros, é a mais recente tentativa do governo brasileiro de alinhar a tomada de decisões da estatal com sua própria agenda.

“A política não pode ser o lucro pelo lucro”, disse Bolsonaro na sexta-feira (15) durante evento ao vivo nas redes sociais, segundo a Agência Estado. “Petrolíferas do mundo todo diminuíram a margem de lucro; é o que a gente quer da Petrobras.”

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O governo, que é o acionista majoritário da estatal, propôs oito candidatos para o conselho de 11 membros. Dois já têm assentos: Márcio Weber e Ruy Schneider. Três outros membros atuais do conselho não poderão ser substituídos na reunião de agosto.

Um comitê interno da Petrobras disse na semana passada que dois candidatos não são elegíveis devido a potenciais conflitos de interesse: Jonathas Assunção, que trabalha na Casa Civil, e Ricardo Soriano, procurador-geral da Fazenda, que tem processos fiscais contra a Petrobras. O conselho votou na segunda-feira por unanimidade para ratificar a decisão do comitê, disse a Petrobras em comunicado.

Outros candidatos incluem:

  • Gileno Gurjão, Edison Garcia e Iêda Cagni, que ocupam cargos no governo Bolsonaro
  • Caio Paes de Andrade, o presidente nomeado no mês passado
  • Marcelo Gasparino e o banqueiro José João Abdalla Filho, ambos atuais membros do conselho, e cujos nomes foram novamente apresentados por um grupo de acionistas minoritários

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