Faculdades começam a oferecer aulas de TikTok para influenciadores nos EUA

Com alunos cada vez mais trabalhando online, universidades passaram a oferecer táticas de construção e negociação de marca

Universidades americanas apostam em aulas para formar influenciadores
Por Claire Ballentine, Misyrlena Egkolfopoulou e Paulina Cachero
08 de Maio, 2022 | 06:01 PM

Bloomberg — Trinta estudantes da Duke University, na Carolina do Norte, se reuniram para uma de suas últimas aulas do ano letivo em uma tarde de terça-feira em abril. Mas, em vez de se preparar para os exames finais, eles gravaram vídeos para o TikTok.

Bem-vindo às faculdades da geração Z.

A nova geração de rostos conhecidos nas redes sociais é mais jovem do que nunca, e eles estão transformando este sucesso nas plataformas em carreiras lucrativas antes mesmo de se formarem, fazendo milhares de dólares por mês. Com o movimento, as universidades começaram a perceber a necessidade de aulas para ajudar seus alunos a crescer seus nomes e marcas online. O objetivo? Oferecer cursos que ajudarão as faculdades a permanecerem relevantes em um momento em que uma conta popular do TikTok é mais valiosa para alguns do que um diploma.

A influencer Natalia Hauserdfd

O curso oferecido pela Duke University – oficialmente chamado de “Building Global Audiences” (ou, em português, “Construindo Audiências Globais”) - e também conhecido como “aula de TikTok”, ensina os alunos a otimizar sua presença nas redes sociais. Ao longo do semestre, os alunos da turma do professor Aaron Dinin ganharam, juntos, 145 mil seguidores e 80 milhões de visualizações nos vídeos que produziram.

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Natalia Hauser, aluna do segundo ano da classe, tem cerca de 227 mil seguidores, com um aumento de 12 mil novos seguidores durante o semestre. Sua conta no TikTok (@natisstyle) a ajuda a gerar de US$ 1 mil a US$ 7 mil por mês por meio de parcerias com marcas como Barnes & Noble, Macy’s, Canon e Pepsi. Às vezes, seus posts podem custar até US $ 5 mil.

Hauser, cujos vídeos se concentram principalmente em sua rotina de beleza e moda, bem como em sua família em Miami, disse que a aula a ensinou a negociar com marcas e descobrir quanto ela poderia cobrar por seu trabalho.

A conta de Hauser no TikTok tem mais de 227 mil seguidoresdfd

“Acho que as pessoas não entendem quanto dinheiro existe nessa indústria”, disse. “Isso envolve muita negociação”.

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“Ensinando TikTok”

As aulas focadas em mídias sociais não são um conceito exatamente novo nas universidades dos EUA. Desde que plataformas como Twitter, YouTube e Instagram assumiram um papel central na cultura de influenciadores, os cursos de marketing digital e comunicação se tornaram uma parte essencial da educação universitária para qualquer pessoa interessada em seguir tal caminho.

Dinin, que é Ph.D. em inglês e com experiência como empresário de tecnologia, ensinava marketing para redes sociais no Instituto de Inovação e Empreendedorismo da Duke University quando percebeu a enorme quantidade de alunos criando algum tipo de conteúdo para as redes, e foi decidiu criar uma disciplina em torno disso.

Junto com o curso de Duke, a Escola Annenberg da University of Southern California e a Virginia University também oferecem programas semelhantes. As habilidades para ganhar dinheiro online são ainda mais procuradas depois que a National Collegiate Athletic Association passou a permitir que seus atletas lucrem com seus nomes e imagens.

O professor Aaron Dinin durante a aula "Construindo Audiências Globais", na Duke Universitydfd

Não foi fácil para o professor Dinin convencer a administração Duke a oferecer esse tipo de aula. Para alguns na instituição, as redes sociais pareciam um fenômeno passageiro para os jovens. Mas Dinin vê isso como uma nova forma de comunicação e arte.

“Há uma sensação das gerações mais velhas de que ser um influenciador é um traço superficial da Geração Z”, disse Dinin. “Mas a realidade é que essas plataformas de mídia são exatamente como o mundo é. Há muitas oportunidades para empreender e muito alcance.”

Criação de conteúdo

Na aula da Duke University, os alunos – que juntos têm cerca de 600 mil seguidores em todas as plataformas – comparam análises e metas para suas contas e discutem por que certas postagens têm um bom desempenho ou não. As tarefas envolvem o uso de tendências atuais do TikTok como inspiração para conteúdos e análises. Eles podem filmar seus próprios conteúdos durante as aulas e passar algum tempo divulgando suas marcas.

Um dos vídeos de maior sucesso feitos neste semestre mostrava Hauser e seus primos venezuelanos em uma reunião de família e tem três milhões de visualizações e 649 mil curtidas.

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Junior Ben Chipman (@benchipman5), que faz vídeos sobre seu estilo e sua vida universitária, conseguiu um estágio no LinkedIn em Nova York neste verão, em parte por causa de sua experiência na construção de sua marca pessoal.

O influencer Benjamin Chipman dfd

“Preciso estar presente nas redes sociais para conseguir um emprego em lugares e posições em que estou interessado”, disse.

Embora criar conteúdo em tempo integral possa ser um caminho arriscado, Athan Wright (@athanwrightt), um calouro que documenta sua vida em um canal do YouTube, planeja transformar seu novo estrelato nas mídias sociais em uma carreira profissional.

O nativo de Charlotte, Carolina do Norte, publica vídeos sobre ritos de passagem, como a abertura de cartas de aceitação da faculdade e o dia da mudança, além de brincadeiras geralmente envolvendo estudantes de sua universidade.

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O influencer Athan Wright dfd

Em um dia ensolarado de primavera na Duke University, vários alunos reconheceram Wright e o abordaram, dizendo que assistiram seus vídeos para se preparar para a faculdade.

Ainda assim, nem todo mundo está tão fascinado por sua fama recém-descoberta.

“Minha mãe está muito preocupada comigo”, disse.

Abandonando a faculdade

Se um diploma universitário é realmente necessário para um criador de conteúdo é uma questão com a qual muitas aspirantes a estrelas das redes sociais estão lutando, especialmente considerando as altas mensalidades. Enquanto isso, a receita de postagens personalizadas no TikTok pode variar de US$ 2,5 mil a US$ 20 mil, dependendo dos seguidores e do engajamento da conta, de acordo com a Bullish Studios, uma agência de talentos para influenciadores.

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Dados da empresa de pesquisa Statista mostram que a economia global de influenciadores mais que dobrou desde 2019 e chegou a um recorde de US$ 13,8 bilhões em 2021. É claro que a maioria dos usuários do TikTok não ganha nada com suas postagens, e aqueles que procuram parcerias com marcas geralmente lutam para ganhar mais de algumas centenas de dólares aqui e ali.

Para alguns, a matemática é óbvia. Mark Setlock (@financeunfolded) era formado em finanças e contabilidade na Universidade de Michigan e tinha planos de trabalhar como banqueiro de investimentos em Wall Street.

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O influenciador Mark Setlock dfd

Ele lançou o Finance Unfolded no TikTok em janeiro de 2021, e diz ter ganho 60 mil seguidores só no primeiro mês. Ele recebeu sua primeira oferta paga para fazer um vídeo de 30 segundos por US$ 300 em março do ano passado. Em dezembro, ele arrecadou US$ 40 mil no mês e decidiu abandonar a faculdade depois de apenas três semestres para se dedicar à nova carreira digital em tempo integral. Agora, o jovem de 19 anos diz que está assinando acordos de patrocínio de seis dígitos.

“Isso apenas expandiu minha mente para todas as possibilidades e sobre o quão legítima essa carreira pode ser”, disse Setlock. “Eu não apenas ganho muito mais do que faria com a faculdade trabalhando em Wall Street, mas sinto que estou genuinamente causando um impacto no mundo.”

Plano de carreira

Brianna Seaberg (@briseaberg) começou na University of Southern California com a intenção de buscar um emprego na área de negócios da indústria do entretenimento. Mas depois de ingressar na USC Reach, um clube dirigido por estudantes para aspirantes a influenciadores, ela vê futuro na criação de conteúdo em tempo integral.

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Nos últimos anos, a Escola Annenberg de Comunicação e Jornalismo da USC mudou seu currículo para treinar seus alunos a serem bem-sucedidos em um mundo cada vez mais digital, inclusive como influenciadores. Seaberg começou a fazer algumas das aulas que ajudam os alunos a construir sua marca pessoal. Um curso que ela fez sobre o poder da persuasão a ajudou a negociar um patrocínio de US$ 1 mil com o Papa John’s, uma cadeira de restaurantes.

A veterana da faculdade disse que ganhou mais de US$ 20 mil em cerca de oito meses, fechando acordos de patrocínio de até US$ 5 mil com grandes empresas, incluindo H&M, CoverGirl e Amazon.

Ela usou o dinheiro para viagens e atividades, mas também contribuiu com parte de sua renda para uma conta do Roth IRA e investiu em ações por meio do popular aplicativo de corretagem Robinhood.

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“Comecei a ver muitas pessoas ganhando dinheiro com acordos de marca e fazendo conteúdo patrocinado – isso me abriu os olhos”, disse ela. “Criar conteúdo para marcas não me deu apenas liberdade financeira, mas liberdade na minha vida para poder fazer mais coisas.”

– Esta notícia foi traduzida por Melina Flynn, Content Producer da Bloomberg Línea.

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