Flutuação das commodities veio para ficar, diz chefe da Cargill

Gregory Broussard, chefe global de comércio financeiro da unidade de gestão de risco da empresa, diz que lado da oferta seguirá apertado

A necessidade de depender menos de regimes instáveis para commodities ganhou destaque em meio à pior inflação dos EUA em quatro décadas
Por Kim Chipman
06 de Abril, 2022 | 08:54 AM

Bloomberg — As oscilações bruscas nas commodities, do trigo ao petróleo, vieram para ficar, com cadeias de suprimentos globais sendo reavaliadas após a invasão russa na Ucrânia.

Isso de acordo com Gregory Broussard, chefe global de comércio financeiro da unidade de gestão de risco da gigante agrícola Cargill.

É provável que o ostracismo econômico da Rússia persista mesmo que a guerra termine, levando o mundo a repensar como suprimentos críticos como grãos, fertilizantes e combustíveis são adquiridos e produzidos, disse Broussard em entrevista à Bloomberg. Países provavelmente começarão a acumular commodities como precaução.

Veja mais: Brasil busca potássio em Belarus em meio a sanções à Rússia

PUBLICIDADE

“Vamos sair desta guerra mais apertados no lado da oferta do que entramos”, disse ele. “Quando se começa a aplicar sanções, elas não se dissipam da noite para o dia. Isso tem implicações no roteamento de matérias-primas.”

A necessidade de depender menos de regimes instáveis para commodities ganhou destaque em meio à pior inflação dos EUA em quatro décadas. Também coincide com outro fator de volatilidade - o esforço global para reduzir emissões até meados do século, em uma tentativa de evitar mudanças climáticas catastróficas.

“Todo mundo vai avaliar como obtém matérias-primas, se pode de fato produzir essas matérias-primas sem ter que lidar com players como a Rússia”, disse Broussard, que raramente dá entrevistas públicas e conhece os maiores mercados agrícolas em todo o mundo.

PUBLICIDADE
Guerra traz oscilações turbulentas para grãos, ouro e gasolinadfd

Desistir das exportações russas não será fácil. A Rússia é o maior fornecedor de gás natural da União Europeia, respondendo por mais de 40% das importações. É também um dos principais exportadores globais de fertilizantes, que são produzidos com hidrogênio e amônia, vistos também como ingredientes promissores para futuros combustíveis “limpos”.

Governos e empresas estão procurando novas fontes de biocombustíveis, fora do cultivo alimentar, à medida que mais empresas de petróleo procuram produzir diesel ecológico a partir de ingredientes como soja e canola.

“As pessoas estão tentando transformar tudo, de madeira a esterco de vaca, em combustíveis”, disse Broussard. “Todos os tipos de tecnologias estão na mesa para ajudar a responder à pergunta: queremos abrir mão da metade de nossa comida para colocar em nosso carro?”

Como a transição energética vai se desenrolar é uma incógnita, mas no curto prazo, uma coisa é clara, disse Broussard: “Será altamente transformador”.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também

Gympass e QuintoAndar: como aprender com mudanças que vieram na pandemia