Mercado segue sinal do BC e aposta de alta da Selic cai à metade

Investidores compram a visão de que a inflação vai voltar para a meta com apenas mais uma alta da Selic

Mercado segue sinal do BC e aposta de alta da Selic cai à metade
Por Davison Santana e Josue Leonel
30 de Março, 2022 | 09:35 PM

Bloomberg — Os juros futuros remam contra a maré no Brasil e desafiam o aumento global das taxas, já que os investidores compram a visão do Banco Central de que a inflação vai voltar para a meta com apenas mais uma alta da Selic.

A precificação de alta de juros no restante do ano caiu pela metade desde a reunião do Copom de 16 de março, quando o BC sinalizou o fim do seu agressivo ciclo de aperto monetário em maio. Mais importante, as taxas de juros futuros de longo prazo também caíram, numa indicação de que os operadores esperam que a inflação desacelere, mesmo sem os aumentos adicionais da Selic que muitos previam.

A queda dos juros futuros no Brasil vai contra o movimento observado em outros mercados emergentes, onde os rendimentos sobem de forma geral, junto com os yields dos EUA. Os rendimentos dos Treasuries subiram recentemente com a precificação de mais aperto monetário na maior economia do mundo, em meio à preocupação com o aumento dos preços.

“O BC elevou as taxas em quase 1.000 pontos base em dois anos, então certamente está disposto a combater a inflação”, disse Brendan Mckenna, estrategista de câmbio do Wells Fargo, em Nova York. “Há pouco que eles possam fazer para se defender contra choques externos, mas em algum momento precisam esperar que os efeitos de políticas mais rígidas se materializem.”

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O BC desafiou as expectativas dos analistas quando apontou que um aumento final de 1 ponto percentual da Selic em maio seria suficiente para trazer a inflação de volta à meta de 3,25% no próximo ano. A última pesquisa Focus mostra que os economistas projetam o IPCA a 3,8% no próximo ano.

“O BC estava em determinado momento muito refém da Focus e agora decidiu agir pela sua própria visão”, disse Tony Volpon, estrategista-chefe da Wealth High Governance e ex-diretor do BC.

Os investidores rapidamente aceitaram a visão do Banco Central e ajustaram sua posição -- a curva agora precifica alta de 35 pontos-base em junho, depois da alta de 1 pp em maio. Há duas semanas, o prêmio para cobrir o risco que o ciclo precisaria ser estendido era de mais de 100 pontos-base.

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A postura mais dovish do BC sugere que as autoridades querem evitar exageros depois que a decisão de cortar a Selic para a mínima recorde de 2% abriu espaço para um aumento acentuado da inflação. Na época, as autoridades entregaram todos os cortes de juros que estavam precificados na curva de juros, atendendo também às expectativas dos economistas.

O movimento de queda dos juros futuros do Brasil acontece mesmo diante da alta das taxas no México, Colômbia e Chile, em razão do aumento nos rendimentos dos EUA. Isso reforça a credibilidade do BC brasileiro, já que muitas vezes os comentários dovish são recebidos negativamente pelos operadores -- que, em vez de ajustarem as apostas à estimativa mais branda, pressionam as taxas para cima na visão de que a resposta da política monetária não será suficiente para controlar a inflação.

O real também se mostra resiliente, e mantém seu posto de moeda com maior alta neste ano, mesmo com a visão de que a Selic não deve subir tanto quanto esperado anteriormente. Os juros já elevados provavelmente são suficientes para continuar atraindo capital estrangeiro, especialmente porque a guerra Rússia-Ucrânia afasta os investidores das economias emergentes que são diretamente afetadas.

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