Guerra na Ucrânia causa ondas de choque nas indústrias europeias

Da indústria química à de roupas, empresas do continente alertam sobre a alta de preços em toda a cadeira de produtos

A invasão da Ucrânia pela Rússia aumentou os problemas da cadeia de suprimentos que atingiram a produção de automóveis nos últimos dois anos
Por Lisa Pham e Albertina Torsoli
17 de Março, 2022 | 10:39 AM

Bloomberg — Da ThyssenKrupp à Ocado e à proprietária da Zara, a espanhola Inditex, a guerra da Rússia contra a Ucrânia está prejudicando as cadeias de suprimentos, elevando os custos e reduzindo os lucros em uma faixa cada vez maior de empresas europeias.

Para a ThyssenKrupp, o conglomerado alemão, a guerra colocou em dúvida a planejada separação de suas operações siderúrgicas. Ocado disse na quinta-feira (17) que a guerra está agravando as incertezas sobre a inflação. Na Inditex, a decisão de fechar temporariamente todas as 502 lojas na Rússia ameaça um golpe nos lucros.

Mesmo antes da invasão da Rússia, empresas como Nestlé e Unilever haviam alertado sobre os efeitos do aumento de custos e interrupções na cadeia de suprimentos desencadeadas pelo covid-19. Agora, a guerra está amplificando esse impacto, forçando as empresas de todos os setores a decidir se aceitam a redução dos lucros ou repassam os custos crescentes aos clientes.

“Não demorou muito para as empresas começarem a citar a guerra na Ucrânia para justificar o aumento dos preços, já que os custos dos insumos começam a prejudicar as margens”, disse Michael Hewson, analista-chefe de mercado da CMC Markets UK. “Este será o desafio para as empresas daqui para frente, com o aumento do custo da energia, bem como os custos agrícolas e de outras matérias-primas.”

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A Fevertree Drinks, fabricante de misturadores de coquetéis, reduziu nesta semana sua previsão de lucro depois que a invasão levou a um aumento nos preços das commodities. Ocado alertou que a receita pode crescer menos do que o esperado em sua joint venture de supermercados online com a Marks & Spencer, citando o aumento dos custos de energia. As ações caíram até 9,4% em Londres na quinta-feira (17).

A invasão da Rússia três semanas atrás elevou os preços do petróleo, dos metais e das matérias-primas e aumentou os problemas da cadeia de suprimentos que atingiram a produção de automóveis nos últimos dois anos. As vendas de automóveis na União Europeia caíram para o menor nível já registrado em fevereiro, com os fabricantes se preparando para mais interrupções na produção devido à escassez de peças.

A fabricante alemã de autopeças Schaeffler na semana passada descartou a previsão de lucros para o ano, culpando a guerra por interromper tudo, desde matérias-primas e taxas de frete até preços de energia e as perspectivas de crescimento global.

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Companhias aéreas como a Deutsche Lufthansa e a Air France-KLM enfrentam preços de combustível mais altos e o potencial de outro golpe nas viagens, no momento em que se preparavam para uma tão esperada recuperação pós-pandemia.

“Embora a exposição à Rússia e à Ucrânia seja, na maioria dos casos, muito limitada em termos de vendas, as preocupações estão mais no impacto indireto através do aumento dos custos de insumos na lucratividade e também na carteira do consumidor”, diz Michel Keusch, gerente de fundos da Bellevue Asset Gestão.

--Com a colaboração de Thomas Mulier, Rafaela Lindeberg, Craig Trudell, Charles Capel, Katie Linsell e Christopher Jasper

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