Confiança do agronegócio é a menor em quase dois anos

Piora da percepção com relação à economia e aumento dos insumos esfriam os ânimos, mas otimismo ainda permanece

Confiança do agronegócio é a menor em quase dois anos
03 de Março, 2022 | 04:10 PM

Bloomberg Línea — O agronegócio já não está mais tão confiante quanto antes. O índice de confiança do setor, aliás, terminou o ano passado no patamar mais baixo em quase dois anos, registrando uma queda de 9,5% no quarto trimestre de 2021 em comparação com o terceiro trimestre d ano passado.

O Icagro (Índice de Confiança do Agronegócio), medido pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e pela CropLife, indica que são dois os fatores que levaram toda a cadeia do agronegócio reduzir as expectativas para o desenvolvimento do setor.

“Um deles é a piora da percepção do setor com relação à economia brasileira. O segundo motivo foi o esfriamento dos ânimos causado pelo expressivo aumento nos custos dos insumos, o que perpassa praticamente todos os elos da cadeia e para o qual não se espera solução no curto prazo”, diz a Fiesp.

A entidade lembra que as matérias-primas passam por um momento de oferta escassa e preços em alta, com impacto negativo tanto para as indústrias quanto para os produtores, aliado às taxas de câmbio elevado que, se por um lado ajudam na hora de exportar, por outro, penaliza na hora de produzir. A queda na confiança do setor, no entanto, ainda não representa um sinal de pessimismo. Segundo a Fiesp, mesmo com o recuo no índice, o indicador permanece acima dos 100 pontos, o que ainda sinaliza otimismo do setor.

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Quem mais perdeu confiança no setor foi o setor industrial, que atua depois da porteira. O elo da cadeia reduziu em 12,7% seu nível de confiança, para o patamar mais baixo desde o primeiro trimestre de 2020, em um dos piores momento da pandemia. As empresas que atuam basicamente no processamento e exportação dos produtos agropecuários sentiu o aumento nos custos dos fretes, a baixa disponibilidade de contêineres e o consequente atraso nos embarques, o que acabou por comprometer o andamento das exportações de produtos como café, açúcar e algodão. “Pesaram também as variáveis macroeconômicas, externas e internas, como o aumento da taxa de juros, a queda no rendimento médio das famílias e a inflação em alta, que afetaram as expectativas das indústrias de alimentos”, disse Roberto Betancourt, vice-presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp (Cosag).

Para o produtor rural em si, a desconfiança piorou também. O índice de confiança de pecuaristas e agricultores é o mais baixo desde o segundo trimestre de 2019 e pesa sobre esse menor entusiasmo uma percepção mais negativa sobre o futuro da economia do que o próprio desenvolvimento da atividade produtiva em si. O aumento dos custos de produção, perspectiva de maior dificuldade no acesso ao crédito e um cenário de consumo, especialmente no mercado interno, mais fraco.

Para quem está antes da porteira, na indústria de insumos, o otimismo também perdeu força e sentimento do segmento é que o ano terminou sem que houvesse uma perspectiva de alívio para questões importantes que afligem o setor, cenário que deve ser mantido no futuro próximo. “A oferta e os preços das matérias-primas tendem a continuar pressionados e diversos fatores contribuem para o problema, como a persistência de gargalos logísticos que foram causados pela pandemia de Covid-19 e multiplicaram o custo dos fretes em 2021″, disse Christian Lohbauer, presidente executivo da CropLife Brasil. “A este cenário somam-se as crises energéticas pelas quais atravessam vários países do globo, além de problemas geopolíticos entre Rússia e Ucrânia, que podem impactar a disponibilidade de fertilizantes com origem na região”, disse.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.