Hong Kong tenta acabar com a covid sem o lockdown

Partes da cidade podem ser isoladas quando os casos surgirem até que os moradores tenham testado negativo

Fila para teste de covid em Hong Kong
Por Kari Soo Lindberg e Danny Lee e Shirley Zhao
15 de Fevereiro, 2022 | 04:36 PM

Bloomberg — À medida que os funcionários sêniores de Hong Kong descartam a especulação de que a cidade possa sofrer um novo lockdown para conter um surto repentino de ômicron, o governo dá indícios de quais ações tomará.

Partes da cidade podem ser isoladas quando os casos surgirem até que os moradores tenham testado negativo, de acordo com autoridades e conselheiros. A extensão pode variar de edifícios únicos a áreas maiores, enquanto a duração desses minibloqueios pode variar. De acordo com o governo, o cenário em que os moradores são forçados a ficar em suas casas por semanas a fio está fora de questão, como visto em cidades de Xi’an a Melbourne.

A retórica oficial sobre a impraticabilidade do lockdown em toda a cidade se fortaleceu em meio à preocupação de que apenas uma medida tão drástica seria suficiente para reduzir o número de casos a zero. A líder de Hong Kong, Carrie Lam, disse, na terça-feira, que o governo “não tem planos de impor um lockdown completo e irrestrito”.

A desconfiança generalizada do governo entre os 7,4 milhões de habitantes da cidade significa que há muito ceticismo de que as autoridades manterão sua palavra. A aplicação rigorosa das leis de segurança nacional por parte de Pequim, desde junho de 2020, levou à prisão dezenas de legisladores da oposição, jornalistas e ativistas pró-democracia. Em janeiro, Lam disse que escolas secundárias permaneceriam abertas, mas menos de uma semana depois o governo anunciou um fechamento.

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Quaisquer que sejam as intenções do governo, há poucas dúvidas de que um bloqueio em toda a cidade causaria imensos danos à economia, negócios e meios de subsistência de Hong Kong, de acordo com analistas, líderes empresariais e políticos entrevistados para esta reportagem. Mesmo a simples implementação de tal medida seria praticamente impossível devido à falta de mão de obra, e arriscaria inflamar as tensões entre a polícia e os moradores menos de três anos após protestos os colocarem uns contra os outros.

“Quando a palavra lockdown é usada, as pessoas assumem que será no estilo chinês, mas Hong Kong não pode fazer o que a China fez – fisicamente não é possível”, disse Bernard Chan, um financista e membro do Conselho Executivo consultivo de Lam.

A pressão sobre o governo para conter o surto, o pior da cidade desde o início da pandemia, está aumentando. Os casos se multiplicam à medida que a ômicron encontra espaço entre as medidas anti-covid da cidade. As infecções diárias superaram 2.000 na segunda-feira pela primeira vez, com outras 1.619 relatadas na terça-feira. O sistema de saúde está sobrecarregado, com milhares aguardando hospitalização, as instalações de isolamento estão cheias e as mortes começam a aumentar.

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Hong Kong está entre os últimos lugares do mundo que se recusam a conviver com a covid, mesmo que a ômicron torne essa estratégia cada vez mais difícil e cara. Apesar da explosão de casos, Pequim deixou claro que Hong Kong não tem escolha a não ser seguir a política covid-Zero que fez a cidade se isolar do mundo durante grande parte dos últimos dois anos. As viagens aéreas são praticamente inexistentes no outrora movimentado centro de viagens, com proibição de entrada de voos provenientes de países como EUA e Reino Unido, enquanto a fronteira com a China continental segue fechada.

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