Turismo brasileiro retoma nível pré-covid só em 2023

Dados da Anac, Google, Oxford e Ministério da Saúde sustentam projeção de que só no ano que vem a cadeia do turismo volta ao nível pré-pandemia

Projeções apontam retomada lenta para o turismo nacional
29 de Janeiro, 2022 | 09:28 AM

São Paulo — A ciência de dados tenta projetar o ritmo da recuperação do faturamento do setor aéreo brasileiro, ou seja, sua volta ao patamar de 2019, antes da pandemia da covid. Há indicações de que a evolução dos resultados deve se dividir em quatro momentos: o baque histórico de receitas (2020), a retomada (2021), o impulso (2022) e o retorno ao céu de brigadeiro (2023). Claro, tudo depende da ocorrência ou não de uma nova variante do coronavírus, capaz de impor fechamento do comércio, indústria e serviços e reduzir a mobilidade.

O economista Rafael Foscarini, diretor de estratégia da Belo Investment Research, cruzou os últimos relatórios de dados do setor aéreo para chegar à conclusão de que 2023 será o ano da recuperação para as atividades turísticas e para a aviação.

“A nossa projeção mostra que o setor aéreo brasileiro deve recuperar os impactos negativos da pandemia só em 2023, se não surgirem novas variantes do coronavírus que impactem significativamente a atividade econômica. É um sinal verde para toda a cadeia do turismo, incluindo hotéis e restaurantes”, afirmou o sócio da empresa de pesquisa de investimentos que utiliza dados econômicos e mercadológicos alternativos e tradicionais para analisar as tendências globais e regionais, e apoiar decisões de investimentos para clientes em variados mercados.

Já o economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), Fabio Bentes, responsável pela pesquisa mensal da entidade, projetou, no último dia 13 de janeiro, que a fase de recuperação pode começar já no final do terceiro trimestre de 2022.

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O setor terá condições de reaver seu pleno potencial de geração de receitas a partir de setembro de 2022. Confirmadas as expectativas, tanto serviço quanto turismo registrariam as maiores taxas anuais de crescimento desde o início da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços, criada em 2012)”, disse Bentes.

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Para todos os aeroportos do Brasil, a projeção da Belo Investment Research para 2022 é que o aumento no número de passageiros deve ser de 42,19%, saindo dos 68.684.517 registrados em 2021 para aproximadamente 98 milhões neste ano.

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Dados cruzados

O levantamento da casa de pesquisa levou em consideração, além da série histórica do número de passageiros feita pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) desde 2016, mais três bases de dados alternativos: relatórios de mobilidade das cidades do Google; o número de brasileiros vacinados registrado pela Our World in Data e o número de pesquisas e interesse por voos feito pelo Google.

O relatório de mobilidade da comunidade nas cidades brasileiras registrado pelo Google Mobility é baseado no tempo gasto pelas pessoas nas cidades ou número de visitantes, de acordo com o período de referência da ferramenta que é de cinco semanas entre os dias 3 de janeiro a 6 de fevereiro de 2020, período anterior às restrições promovidas pela pandemia. Já o índice de procura por passagens aéreas pela internet registrado pelo Google Trends é o valor de referência baseado em uma série histórica iniciada em 2016.

Outra fonte de dado é o índice de vacinação no Brasil contra a covid-19 do centro de pesquisa e dados ligado à Universidade de Oxford, na Inglaterra, Our World in Data. Até a útima terça-feira (24), pelo menos 69,09% da população tinha recebido as duas doses da vacina. A previsão é que até o final de 2022 cerca de 90% dos brasileiros tenham, pelo menos, uma das duas doses.

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Privatização

Um recorte da projeção da Belo Invesment Research é o desempenho dos dois terminais movimentados do país que estão com leilão de privatização marcados para 2022. O Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o 2º maior em número de passageiros no Brasil, deve registrar aumento de 83,48% no número de passageiros em 2022 em relação ao ano passado, segundo projeção da consultoria.

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Dados da Anac mostram que 9.654.974 de pessoas passaram pelo terminal paulistano em 2021. Levantamento da casa de pesquisa estima que em 2022 o número de passageiros será de cerca de 18 milhões, mas 22,42% menor do que o registrado em 2019, anterior a pandemia, que foi de 22.833.711.

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Já a previsão para o Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, considerado o 7º mais movimentado do país, é de aumento de 11,97%, com aproximadamente 8 milhões para 2022 contra 6.826.377 registrados pela Anac em 2021. Em relação a 2019, o Santos Dumont deve ter uma defasagem na ordem de 16,38%.

O diretor da Belo explica que as projeções foram feitas para Congonhas e Santos Dumont porque fazem parte do último lote de aeroportos que será concessionado ainda no primeiro semestre deste ano. “Esses números revelam uma recuperação gradual de todos os terminais brasileiros, em especial desses dois aeroportos, o que deve atrair mais interesse dos investidores quando houver a concessão prevista pelo governo”, afirma.

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Foscarini diz que os 99 aeroportos do país ainda devem registrar movimento 18% menor em 2022 do que o registrado em 2019.

Mundo

Players da indústria do turismo expressam suas percepções. O CEO da operadora hoteleira tailandesa Banyan Tree Holdings, Banyan Tree How Kwon Ping, disse, na última segunda-feira à Bloomberg Television, que o turismo global está a caminho de uma “recuperação sustentável, de longo prazo” à medida que mais viajantes e países reconhecem a natureza endêmica da covid. “Vai levar muito tempo para a recuperação completa. A questão principal é se realmente estamos no caminho de uma recuperação sustentável de longo prazo, e a indicação é praticamente sim”, disse Ho.

No Caribe, na última sexta-feira (28), Miriam Dabian, diretora da Autoridade de Turismo de Aruba (A.T.A) para a América Latina, considerou 2021 como um ano de grandes desafios e resiliência para a indústria do turismo, com os viajantes buscando tirar férias em países seguros e com elevados padrões de proteção nos seus protocolos.

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“Estamos muito felizes em ver que o crescimento do turismo de Aruba está superando as projeções. Nossas estimativas iniciais de recuperação para 2021 estavam entre 45% e 60% do número de turistas que Aruba recebeu em 2019. Recuperamos 72% dos passageiros em 2021 em relação a 2019, com um crescimento de mais de 80% para os passageiros. renda gerada pelo turismo para Aruba”. disse Dabian, em comunicado.

No mercado latino-americano, Aruba recuperou 37,4% em relação a 2019, recebendo um total de 39.870 passageiros da região durante 2021. Em 2022, o país insular espera recuperar 95% dos passageiros, em relação a 2019.

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A ilha recebeu 4.420 passageiros provenientes de voos do Brasil, uma recuperação de 39%. “Mesmo com o avanço de novas variantes, nossa aposta é na ampla cobertura de vacinação do Brasil. Nossa expectativa para 2022 é receber mais de 5 mil brasileiros no destino”, comenta Carlos Barbosa, CEO da Vitrine Global, empresa que representa com exclusividade Aruba no Brasil.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.