Mercado de títulos dos EUA encara pior início de ano em décadas

O cenário desencadeou quedas em diversos ativos, incluindo ações de tecnologia e criptomoedas

Operadores se preparam para o início da retirada da gigantesca quantidade de dinheiro que o Fed injetou nos mercados desde o início da pandemia
Por Ye Xie e Michael MacKenzie e Peyton Forte
07 de Janeiro, 2022 | 05:32 PM

Bloomberg — Como muitos profissionais de Wall Street, Priya Misra torcia por um início de ano tranquilo.

Em vez disso, a responsável pela área de juros da TD Securities enfrentou uma enorme onda de venda de títulos do Tesouro americano, que abalou os mercados globais após o banco central dos EUA (Federal Reserve) sinalizar uma postura mais rígida.

O rendimento dos títulos do Tesouro com prazo de cinco anos saltou 0,21 ponto percentual em quatro dias, configurando o maior aumento para um começo de ano em quase duas décadas e desencadeando quedas em diversos ativos, incluindo ações de tecnologia e criptomoedas.

Um índice amplo que acompanha os títulos do Tesouro americano perdeu cerca de 1,4% até quinta-feira, estendendo o annus horribilis para investidores no maior mercado mundial de renda fixa.

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Nesta sexta-feira (7), os títulos do Tesouro aumentaram as perdas depois que o Departamento do Trabalho informou que a taxa de desemprego caiu e os salários cresceram a um ritmo mais rápido do que o esperado em dezembro, aumentando as especulações de que o Fed começará a aumentar as taxas em março.

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“Tenho dormido pouco e não esperava isso tão cedo em 2022”, disse Misra. O malabarismo dela entre o trabalho e a vida familiar agora inclui testar seus filhos para covid antes de irem para a escola. “As preocupações com a pandemia permanecem. Mas em vez de juros menores e flexibilização por parte do Fed, estamos tentando entender a velocidade da retirada dos estímulos e até que ponto os juros podem subir. Isso confunde a cabeça de qualquer um.”

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Operadores do mercado se preparam para o início da retirada da gigantesca quantidade de dinheiro que o Fed injetou nos mercados desde o início da pandemia e elevou os preços de praticamente todos os ativos no país — incluindo imóveis, ações especulativas de empresas de tecnologia e ações embaladas por memes que circulam nas redes sociais. Ainda assim, a rápida reprecificação desta semana pegou muita gente de surpresa.

Misra é um bom exemplo. Antes da divulgação da ata do Fed na tarde de quarta-feira (5), ela e seus colegas na TD Securities recomendavam a compra de títulos do Tesouro com prazo de dois anos, por entenderem que o avanço da variante ômicron reduzia a chance de um aumento de juros já em março. Em vez disso, esses títulos caíram quando a ata sugeriu que o banco central pode subir os juros mais cedo e mais rápido do que se esperava.

O Fed também sinalizou que pode começar a reduzir a montanha de títulos que detém em carteira mais rápido do que se viu durante o ciclo de aperto da década passada.

Assim, o rendimento do título do Tesouro com prazo de 10 anos, referência do mercado, subiu 0,29 ponto percentual esta semana para 1,8%, nível mais alto desde janeiro de 2020. O nível atual já ultrapassa a previsão média de economistas e estrategistas sondados pela Bloomberg, de que o rendimento do papel chegaria a 1,71% no final de março. A projeção de consenso era que a taxa terminaria 2022 em 2,04%.

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