Didi revela perda de US$ 4,7 bilhões antes da estreia em Hong Kong

A surpresa da revelação ocorre no momento em que a empresa se prepara para sair da Bolsa de Nova York

Empresa teve o pior desempenho entre os gigantes chineses da tecnologia visados ​​por Pequim neste ano
Por Vlad Savov e Coco Liu
30 de Dezembro, 2021 | 02:39 PM

Bloomberg — A Didi Global divulgou um prejuízo de US$ 4,7 bilhões depois que as receitas encolheram no trimestre de setembro, revelando o custo crescente de uma série de ações regulatórias que forçarão a líder chinesa em aplicativos de transporte a mudar sua listagem para Hong Kong no próximo ano.

A dona do Didi, um dos alvos de mais alto perfil de uma ampla campanha de Pequim para controlar o gigantesco setor de tecnologia do país, registrou US$ 6,6 bilhões em vendas, queda de mais de 13% em relação ao trimestre de junho e 1,6% no ano anterior. A surpresa da revelação ocorre no momento em que a empresa se prepara para sair da Bolsa de Nova York.

A gigante do segmento está planejando trabalhar com o Goldman Sachs, com o CMB International e o CCB International na transição, que poderia ser chamada de “listagem por apresentação”, segundo fontes a par do assunto. Esse acordo, que não envolve qualquer arrecadação de fundos, requer pouco marketing e permitiria aos investidores dos Estados Unidos trocarem suas ações por novas ações em Hong Kong.

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Uma vez aclamada por expulsar a Uber da China, a Didi se tornou um dos alvos de maior destaque da campanha de Pequim para controlar seu setor de tecnologia cada vez mais poderoso. Mas os reguladores ficaram enfurecidos pela empresa ter dado continuidade a sua listagem, estreando em Nova York, apesar das preocupações com a segurança de seus dados, desencadeando uma série de investigações que culminaram com a saída forçada. Suas ações caíram mais de 8% em Nova York e, em seguida, aumentaram as perdas nas negociações estendidas.

Os resultados da Didi demonstram novamente a imprevisibilidade gerada pelo ataque do governo chinês contra o setor de tecnologia, que começou com o comércio online e as fintech inicialmente, mas se expandiu a ponto de englobar tudo, desde mídia social a jogos e entretenimento. O Alibaba Group, alvo de uma investigação antitruste, cortou em novembro sua previsão de receita fiscal para 2022, enquanto a gigante de entrega de alimentos, Meituan, registrou sua maior perda desde 2018.

“Está claro que muitos investidores subestimaram o impacto das reformas regulatórias”, disse Justin Tang, chefe de pesquisa asiática da United First Partners. “A divulgação das perdas pela Didi pode servir de referência para os investidores. O sentimento ainda é fraco para esses papéis de tecnologia chineses e os investidores estão focados em qualquer motivo para vender. "

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A saída sem precedentes da Didi ressaltou a profundidade da preocupação de Pequim sobre o potencial vazamento de dados confidenciais para um rival geopolítico, bem como até que ponto o governo irá punir a Didi por violar seus desejos. Na revelação surpresa de quarta-feira (29), a empresa anunciou que o presidente da Alibaba, Daniel Zhang, havia renunciado ao conselho, para ser substituído por um executivo de escalão inferior da Alibaba.

A turbulência regulatória aumentou o custo dos negócios para a Didi e permitiu que rivais como a Meituan invadissem sua participação no mercado. A Didi registrou prejuízo líquido de 30,4 bilhões de yuans no trimestre de setembro, ante um lucro de 665 milhões de yuans no ano anterior.

O que a Bloomberg Intelligence diz

A perspectiva de crescimento de longo prazo da Didi Global é obscurecida pela repressão dos reguladores chineses ao uso de dados do consumidor, já que as restrições poderiam inibir sua capacidade de aumentar de forma eficiente seu negócio principal de mobilidade e lançar novos produtos. Seu quase monopólio de US$ 50 bilhões no mercado doméstico de caronas da China, que deve mais do que dobrar até 2025, é uma base sólida para o crescimento, contanto que a Didi consiga navegar pela situação regulatória. No entanto, seu negócio internacional de compartilhamento de caronas e outras iniciativas podem continuar a queimar dinheiro rapidamente. Uma saída planejada de Nova York e listagem em Hong Kong sugere um caminho complicado pela frente.

Pelos analistas Matthew Kanterman e Tiffany Tam

Os gastos aumentaram 16% durante o trimestre depois que a Didi foi forçada a cumprir os novos requisitos de melhor remuneração paara seus motoristas e melhorar a governança de dados. A proteção dos direitos dos trabalhadores para os motoristas foi formalizada em um conjunto de diretrizes dos reguladores chineses em novembro. Ela também registrou uma perda de investimento de 20,8 bilhões de yuans, principalmente de seu negócio de compras coletivas, que ainda está dando seus primeiros passos, e se concentra em produtos locais com preços intensamente competitivos.

Não está claro se o governo planeja aplicar mais penalidades para a Didi, que é controlada pela equipe de gestão do cofundador Cheng Wei e do presidente Jean Liu e apoiada por grandes nomes, incluindo a Alibaba e Tencent.

Os movimentos de Pequim contra a Didi foram particularmente duros, mesmo para os padrões de uma repressão em um ano que incluiu gigantes como a Alibaba e a Tencent. A Administração do Ciberespaço da China (CAC) viu a decisão de IPO da Didi como uma afronta à autoridade do governo central, o que levou a CAC, o Ministério da Segurança Pública, o Ministério da Segurança do Estado e várias outras agências a iniciar inspeções nos escritórios da Didi em julho.

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--Com a colaboração de Julia Fioretti, Vinicy Chan, Dong Cao, Anne VanderMey, Andrew Pollack e Jeanny Yu.

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