Alocação de 40% ações e 60% títulos? Inflação ameaça essa tradição

Há décadas, os investidores despejam trilhões de dólares nesse mix porque a distribuição oferece crescimento com segurança

Investidores despejam trilhões de dólares no mix de alocação de 40% ações e 60% títulos
Por Michael MacKenzie e Liz McCormick
07 de Dezembro, 2021 | 07:18 PM

Bloomberg — Wall Street vive repetindo que desempenho passado não é garantia de resultados futuros, mas quando se trata da tradicional alocação de 60% em ações e 40% em títulos de renda fixa, a história é outra. A inflação persistente nos EUA pode virar essa página.

As estratégias 60/40 resultaram em perdas em apenas dois anos desde 2007. Durante a pandemia, essas abordagens vêm superando as médias registradas desde a década de 1980. Esse mix de alocação de ativos gerou retorno de 17% em 2020 e está a caminho de outra alta de dois dígitos este ano. No entanto, houve perdas em setembro e novembro e o resultado é negativo em 0,4% nestes primeiros dias de dezembro, coincidindo com a adoção de uma postura mais dura pelo Federal Reserve, o BC dos EUA.

Há décadas, os investidores — principalmente os aposentados — despejam trilhões de dólares nesse mix porque a distribuição oferece crescimento com uma camada de segurança. A ideia é que as ações agem como motor, enquanto os títulos públicos de qualidade funcionam como seguro em períodos conturbados no mercado. As duas classes de ativos são bastante líquidas e transparentes em termos de precificação, fornecendo aos investidores os tijolos para a construção de uma carteira de longo prazo.

Encontrar uma alternativa é outro desafio. Apesar de tanta discussão sobre o potencial fim dessa estratégia, ativos de private equity, instrumentos do mercado imobiliário e mercados privados são menos líquidos e menos disponíveis para investidores de varejo preocupados com a aposentadoria.

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No entanto, muitos gestores acham que a fase áurea do 60/40 está chegando ao fim. E o motivo é a inflação.

“Não dá para olhar algo que funcionou bem nos últimos 30 anos e esperar que continue”, disse Jean Boivin, comandante do BlackRock Investment Institute, que prevê retorno anualizado total de 5,6% para um portfólio global 60/40 ao longo da próxima década.

Um problema é que ações e títulos do Tesouro dos EUA já estão caros segundo diversas métricas e, portanto, fica difícil atingir ganhos adicionais. Em segundo lugar, os títulos de qualidade mais procurados para preencherem a parte de renda fixa dessa estratégia são atingidos mais duramente quando a inflação impulsiona para cima os rendimentos. Os títulos do Tesouro americano com prazo de 10 anos, referência do mercado, estão rendendo 1,4%, comparado a 0,31% no ano passado. O Bloomberg Treasury Index perdeu 1,4% este ano em termos de retorno total até 3 de dezembro.

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“Neste ambiente, achamos que 60/40 é muito perigoso”, disse Sandi Bragar, que supervisiona US$ 13 bilhões em investimentos na Aspiriant.

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