Ômicron traz novo desafio para bancos centrais de emergentes

Aperto da política monetária em países como Coreia do Sul, Rússia e Brasil teve pouco efeito sobre a desvalorização cambial

Roberto Campos Neto
Por Netty Idayu Ismail e Sydney Maki
29 de Novembro, 2021 | 11:46 AM

Bloomberg — Se bancos centrais de mercados emergentes já tinham dificuldade em sustentar suas moedas diante dos passos do Federal Reserve para reduzir o estímulo monetário, a tarefa ficou muito mais difícil.

A preocupação em torno da variante ômicron do coronavírus sacudiu ativos de risco na sexta-feira, empurrando o índice MSCI de moedas de países em desenvolvimento para um déficit no acumulado de 2021, potencialmente a caminho da primeira queda anual em três anos.

Bancos centrais de mercados emergentes já se sentiam enfraquecidos pelo vigor do dólar muito antes de a ômicron ser identificada, pois o aperto da política monetária em países como Coreia do Sul, Rússia e Brasil teve pouco efeito sobre a desvalorização cambial que impulsiona a inflação. Liderando as perdas neste mês estão o peso mexicano, o rand da África do Sul e o forint da Hungria, todas moedas de países que aumentaram os juros em novembro. Esse cenário aumentou o número de investidores com apostas baixistas.

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“Quaisquer fatores que limitem a visibilidade dificultam ainda mais a vida dos bancos centrais”, disse Viktor Szabo, gestor sênior de investimentos da abrdn, em Londres. “Mas um número crescente de bancos centrais de mercados emergentes começa a perceber que a questão de saber se a inflação é transitória ou não é realmente relevante neste estágio. A inflação é alta e persistente, mesmo se causada principalmente por choques do lado da oferta, e pode desancorar as expectativas de inflação e colocar pressão sobre as moedas.”

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A ameaça de uma variante mais preocupante também poderia pressionar autoridades de mercados maduros, como o Fed e o Banco Central Europeu, a afrouxarem a política. Isso equilibraria a necessidade de um aperto mais agressivo em países em desenvolvimento, disse Olga Yangol, chefe de estratégia para mercados emergentes no Crédit Agricole, em Nova York.

“A variante pode de fato atingir mercados emergentes com mais força do que outros ativos, em particular moedas com beta elevado na América Latina e no sul da Ásia, que são mais sensíveis à percepção de risco e mais expostas à energia e ao turismo, os setores mais afetados pela pandemia”, disse.

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Interferência política

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A interferência política não ajuda. A campanha do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, para baixar os juros derrubou a lira na semana passada. A moeda ampliou as perdas na segunda-feira, após Erdogan dizer que nunca defenderá aumentos das taxas. Dados esperados na sexta-feira devem mostrar que a inflação do país superou 20% em novembro.

A Hungria, antes atrasada em relação à República Tcheca e Polônia no aperto da política monetária, aumentou os juros pela terceira vez em duas semanas na quinta-feira, mas não conseguiu impedir o forint de cair para uma mínima histórica.

No Brasil, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que comandou o ciclo de aperto monetário mais agressivo do mundo neste ano, alertou na quarta-feira contra um aumento muito rápido dos juros, apesar da preocupação com a inflação acima da meta.

O real se desvalorizou mais de 7% este ano, apesar de a taxa básica ter subido 575 pontos-base, e o BC sinalizou outro aumento de 150 pontos-base no mês que vem. Os riscos políticos e fiscais levam operadores a ignorarem os aumentos da Selic.

“Esperamos que as moedas permaneçam sob pressão no fim do ano e, provavelmente, no início de 2022”, disse Paul Greer, gestor em Londres da Fidelity International, cujo fundo de dívida de países em desenvolvimento superou 94% dos pares este ano. “É difícil para moedas dos mercados emergentes competirem com o dólar americano atualmente.”

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