Empresa pediu 100% de reembolso pelos impostos prediais por 20 anos
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Bloomberg Opinion — Os lobistas da Samsung Electronics merecem estourar o melhor champanhe depois de fechar um negócio fabuloso.

Taylor, no Texas, ganhou o direito de hospedar a mais nova fábrica de semicondutores da gigante sul-coreana, informou a Bloomberg News na terça-feira (23). Unidades em Phoenix e no interior do estado de Nova York também competiram para sediar a nova fábrica. Phoenix recentemente teve a própria vitória econômica, vencendo o estado do Oregon na batalha pela unidade da nova instalação da Taiwan Semiconductor Manufacturing nos Estados Unidos. No norte do estado de Nova York, há várias fábricas de chips, incluindo as operadas pela GlobalFoundries, portanto a área também estava na corrida.

Segundo o plano, a Samsung vai gastar US$ 17 bilhões em instalações e equipamentos para criar 1,8 mil novos empregos, e a produção provavelmente começará em 2024, anunciaram a Bloomberg e a Dow Jones.

O que torna este um resultado tão bom para a Samsung é que ela provavelmente iria se expandir naquela região de qualquer maneira. Mas, ao pressionar várias localidades para obter incentivos, incluindo incentivos fiscais e subsídios, a Samsung pôde sondar e descobrir o nível de ansiedade dos outros governos. É assim que o bem-estar corporativo funciona há décadas, e, neste caso, a empresa seguiu o manual perfeitamente.

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Contudo, a história não vê esses leilões competitivos com bons olhos. Os governos locais muitas vezes se confrontam, apenas para descobrir que as quantias que eles comprometem não valem seus supostos benefícios econômicos. A expansão da Foxconn Technology no estado do Wisconsin é a mais famosa; o estado do centro-oeste do país ofereceu um recorde de US$ 2,9 bilhões em incentivos.[1] Mas a taiwanesa, fornecedora de clientes globais como a Apple, acabou ficando muito aquém de suas metas e teve de reduzir drasticamente seus planos.

A Samsung Austin Semiconductor vem produzindo chips na região há 25 anos. Ano passado, a empresa adquiriu mais 258 acres (aproximadamente 1,04 km²) de terreno próximo à sua unidade existente, relatou o Austin Business Journal em dezembro. Na época, os executivos afirmaram que não havia nenhuma expansão em iminência e que a aquisição era apenas para permitir a flexibilidade.

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No entanto, você não adquire um enorme terreno para obter flexibilidade – a não ser que tenha a intenção de usá-lo. A Samsung é fabricante de eletrônicos, não especuladora imobiliária.

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No final, ela se estabeleceu em um local 15 milhas (aproximadamente 24 km) a nordeste de sua localização atual e assumiu compromissos do governo local do condado de Williamson para construir cerca de 10 milhas (aproximadamente 16 km) de novas estradas e preparar o terreno para a chegada da Samsung.

A empresa conseguiu quase tudo que pediu. De acordo com o jornal local Community Impact Newspaper, ela rejeitou US$ 650 milhões em incentivos, que seriam 10 vezes maiores do que o pacote que recebeu em 2006 para sua fábrica de chips existente. Em vez disso, a Samsung pleiteou 100% de reembolso pelos impostos prediais por 20 anos. Ela conseguiu 90% nos primeiros 10 anos e 85% na década seguinte, além das novas estradas.

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Também é significativo o fato de ela ter conseguido contornar o limite de 50% imposto a esses reembolsos pela expansão dos negócios. Segundo matéria do Community Impact Newspaper de janeiro, a Samsung parece ter convencido as autoridades locais de que seus planos representam uma relocação ou são de grande importância para justificar uma exceção à regra.

O condado de Williamson está convencido de que é uma boa ideia. Ou pelo menos é o que quer que acreditemos. Para apoiar sua decisão de oferecer os benefícios, as autoridades locais afirmam que a Samsung “causou um impacto econômico positivo de US$ 4,5 bilhões” na região central do Texas somente em 2019, “sustentando” 10 mil empregos com US$ 445 milhões em salários. Em outras palavras, a Samsung exerceu um impacto econômico de US$ 450 mil por trabalhador. Os contribuintes não devem questionar esses números.

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Embora faça sentido para a Samsung expandir-se no Texas, também há bons motivos para não fazê-lo. Uma grande queda de energia em fevereiro causou o fechamento de suas fábricas, afetou a produção e ajudou a intensificar a escassez global de chips.

A ironia é que a Samsung está se expandindo pelos EUA para amenizar interrupções na cadeia de suprimentos, ao passo que seu maior problema no ano passado foi causado justamente pela infraestrutura precária norte-americana.

O estado de Nova York provavelmente não seria a melhor escolha, mas os políticos não querem abrir mão da opinião de que a região pode ser relevante. Enquanto isso, o estado do Arizona se tornou sorrateiramente o verdadeiro Vale do Silício, já que a região fabrica mais chips que a Califórnia. Com a nova fábrica da TSMC e as principais instalações da Intel, o estado já possui seus fornecedores.

Qualquer local escolhido pela Samsung estaria em posição vantajosa graças às políticas econômicas em que os governos pagam para competir entre si. Agora o Texas receberá a fábrica de chips que provavelmente já receberia de qualquer maneira, e os lobistas são parabenizados pelo ótimo trabalho.

  1. O pacote poderia chegar a US$ 4,5 bilhões, com base na consecução de várias metas.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Tim Culpan é colunista da Bloomberg Opinion e cobre tecnologia. Anteriormente cobriu tecnologia para a Bloomberg News.

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