China libera carne do Brasil, mas exportações seguem suspensas

Produto com certificado embarcado por frigoríficos após 4 de setembro teve autorização para entrar no país, mas chineses ainda mantiveram suspensas as importações de carne brasileira

Vaca
23 de Novembro, 2021 | 02:22 PM

Bloomberg Línea — A Administração Geral de Alfândegas da China (GACC) comunicou à embaixada do Brasil em Pequim que aceitará a carne bovina exportada pelos frigoríficos nacionais após o embargo imposto em 4 de setembro, em decorrência da confirmação de dois casos atípicos de ‘vaca louca’, desde que os lotes tenham o certificado sanitário internacional emitido até 3 de setembro deste ano. A decisão do governo chinês coloca fim ao impasse criado em setembro, quando, mesmo sob embargo, os frigoríficos nacionais embarcaram pouco mais de 187 mil toneladas de carne, o maior volume mensal da história.

À época, as próprias indústrias nacionais reconheceram que, até agora, não sabiam qual seria o destino de uma quantidade tão grande de carne. Os navios carregados com o produto brasileiro começaram a chegar aos portos chineses entre o fim de outubro e o início de novembro e corriam o risco de serem devolvidos, desviados para outros destinos ou, no limite, destruídos. Com a decisão anunciada hoje, a carne brasileira volta a acessar o mercado interno da China.

Contudo, a liberação é vista como paliativa. As exportações de carne brasileira para a China seguem embargadas e as indústrias nacionais permanecem proibidas de vender ao seu maior cliente no mercado internacional. Até setembro, o mercado chinês era o destino de mais da metade de toda a carne exportada pelo Brasil. No mês passado, a conta chegou e os exportadores tiveram, naquele mês, o pior desempenho desde 2018. Sem poder vender ao país asiático, os embarques de carne bovina tiveram em outubro o pior desempenho mensal desde junho de 2018, com o embarque de 85,9 mil toneladas.

Em vídeo postado em sua conta no Twitter, a ministra da Agricultura comemorou a notícia e lembrou que o governo segue em negociação com Pequim para que o comércio entre os dois países seja retomado. “A GACC comunicou nossa embaixada em Pequim a autorização para a entrada dos contêineres de carne brasileira com o certificado sanitário internacional emitido até dia 3 de setembro de 2021. Continuamos as negociações para a retomada das exportações da carne brasileira para aquele país”, disse a ministra.

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No início de setembro, logo após a confirmação dos casos e a suspensão dos embarques, a ministra Tereza Cristina procurou o governo de Pequim para pedir uma reunião e tentar evitar que o problema se prolongasse por muito tempo. Fontes da China informaram que a Administração Geral da Alfândegas da China (GACC), órgão responsável pelo assunto, não foi autorizado a atender a ministra brasileira.

Não satisfeita com a porta fechada na primeira tentativa, a ministra buscou ainda em setembro abordar o ministro da Agricultura da China, Tang Renjian, durante o encontro ministerial do G-20, realizado na Itália. Apesar do pedido antecipado para uma agenda paralela ao evento, não obteve sucesso mais uma vez.

Já em outubro, a ministra enviou uma carta oficial a Pequim, se colocando à disposição para ir pessoalmente ao país para tentar encontrar uma solução para o caso, mas não teve resposta. Dias depois, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, e o de Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, conversaram sobre o assunto, mas nada de muito concreto foi efetivado.

As áreas técnicas dos dois países têm mantido conversas para aparar eventuais arestas e tentar acelerar a retomada. Uma fonte da China informou à Bloomberg Línea que Pequim gostaria de ter uma sinalização de instâncias superiores do Executivo brasileiro. Na prática, uma manifestação do presidente Jair Bolsonaro. Contudo, até o momento, o Palácio do Planalto ainda não fez qualquer tipo de movimento no sentido de oferecer um afago aos chineses.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.