Wall Street eleva aposta para aumento da Selic na próxima semana

JPMorgan, Goldman Sachs, Credit Suisse e Morgan Stanley esperam que a taxa básica de juros vá aos 7,5%, enquanto UBS e Barclays estimam 7,75%

Bancos dizem que taxas mais altas serão necessárias para compensar a pressão inflacionária criada pela promessa de Bolsonaro de elevar ajudas
Por Maria Eloisa Capurro
22 de Outubro, 2021 | 07:19 PM

Bloomberg — Os principais bancos de Wall Street alertaram que a piora no panorama fiscal do Brasil está pressionando o Banco Central para que acelere o ritmo de aperto e entregue um aumento na taxa de juros maior do que o esperado na próxima semana.

JPMorgan, Goldman Sachs, Credit Suisse e Morgan Stanley aumentaram suas projeções para as taxas de juros desde quinta-feira (21) e agora vemos os membros do Comitê de Política Monetária (Copom), liderados por Roberto Campos Neto, elevando a taxa Selic em pelo menos 125 pontos base na quarta-feira (27) a 7,5%. Analistas do UBS BB e Barclays esperam uma alta de 150 pontos-base. A Selic está atualmente em 6,25%.

Os bancos dizem que taxas mais altas serão necessárias para compensar a pressão inflacionária criada pela promessa do presidente Jair Bolsonaro de aumentar as transferências de dinheiro para os pobres, apesar dos avisos de que o governo não pode arcar com isso. Para pagar pela nova ajuda, o governo terá de buscar uma mudança na regra do teto de gastos que é vista pelos investidores como uma das últimas âncoras de estabilidade fiscal para o país.

A curva da taxa de juros do Brasil se inclinou após o anúncio do novo programa de ajuda. As opções agora implicam em 83% de chance de BC elevar mais do que o aumento de 100 pontos-base que prometeram, ante cerca de 40% na quinta-feira, de acordo com dados da B3. Traders estão movendo as apostas para 150 pontos base, que seria a maior alta das taxas em duas décadas, e também apostando que a Selic chegará a 11,5% ao final do ciclo de aperto monetário.

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Os investidores “chegaram a um ponto de inflexão”, escreveu o analista Alberto Ramos, do Goldman Sachs. Os esforços do governo para reforçar as transferências de dinheiro estão corroendo uma âncora de gastos importante, disse ele.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, que perdeu quatro membros de sua equipe em meio a desentendimentos sobre os gastos extras, defendeu a ajuda na sexta-feira (22), dizendo que o quadro fiscal do Brasil não mudou. Ele também disse que o banco central, que ganhou autonomia formal no início deste ano, não pode ficar para trás.

“Se tudo está aumentando, o foco precisa estar no banco central”, disse ele na sexta-feira em entrevista coletiva com Bolsonaro.

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A autoridade monetária brasileira está entre as mais agressivas do mundo, elevando as taxas em 425 pontos base para 6,25% desde março. Eles haviam sinalizado seu terceiro aumento consecutivo de pontos percentuais para a próxima semana.

A inflação vem crescendo acima da meta há meses na maior economia da América Latina, impulsionada pelos preços mais altos dos alimentos e dos combustíveis. A inflação de preços ao consumidor atingiu 10,25% em setembro. O banco central tem como meta a inflação em 3,75% neste ano e 3,5% no próximo.

“Se nas próximas 72 horas não houver compromisso do governo e do Congresso de conter as transferências adicionais de renda em torno de R$ 30 bilhões no próximo ano, o Copom pode muito bem iniciar um ciclo de aperto monetário mais agressivo ao movimentar pelo menos 150 pontos básicos”, escreveu em nota de pesquisa Cassiana Fernandez, economista-chefe do JPMorgan para o Brasil. Do contrário, eles correm o risco de perder o controle sobre as expectativas inflacionárias à medida que a moeda se desvaloriza, acrescentou ela.

- Com a assistência de Brendan Walsh

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