As famílias mais ricas do sudeste asiático procuram o próximo unicórnio

Impérios tradicionais estão investindo milhões de dólares diretamente em empresas promissoras ou criando fundos de capital de risco, fazendo a transição para um novo mundo de e-commerce e digitalização

Mudança radical no rumo dos negócios tornou-se ainda mais urgente já que muitas empresas são agora administradas por uma nova safra de líderes
Por K. Oanh Ha
24 de Outubro, 2021 | 07:25 AM

Bloomberg — Alguns dos antigos magnatas do Sudeste Asiático estão aumentando o investimento em startups de tecnologia, procurando aproveitar uma onda de valuations crescentes enquanto procuram combater as consequências da pandemia em seus negócios, que vão desde o varejo até a hospitalidade e a indústria manufatureira.

Holdings, braços de investidores familiares e outros veículos de figurões, desde Dhanin Chearavanont, da Tailândia, até Lance Gokongwei, das Filipinas, estão investindo milhões de dólares diretamente em empresas promissoras ou criando fundos de capital de risco. A parceria com empresas de capital de risco do Vale do Silício também está ganhando popularidade.

Com a enxurrada de investimentos, esses impérios tradicionais de empresas físicas também estão fazendo a transição para um novo mundo de e-commerce e digitalização, abrindo caminho para novos fluxos de receita, depois de terem ficado paralisados por meses de bloqueios e restrições de viagens. A mudança radical no rumo dos negócios tornou-se ainda mais urgente já que muitas delas são agora administradas por uma nova safra de líderes - em alguns casos, herdeiros mais jovens da terceira geração.

“O universo do dinheiro familiar no Sudeste Asiático tem se interessado pelo que os investimentos em tecnologia estão trazendo, por causa do evidente sucesso de startups mais recentemente”, disse Vishal Harnal, sócio-gerente da 500 Startups do Sudeste Asiático, que foi um dos primeiros investidores da Grab, gigante do ramo de transporte privado urbano e da plataforma digital de classificados, Carousell. “Há muito mais dinheiro familiar entrando para buscar esse tipo de negócio, e a pandemia acelerou essa corrida.”

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Os conglomerados, que ajudaram a nutrir as economias do Sudeste Asiático por décadas, agora enfrentam alguns desafios mais complexos, pois os governos ainda estão na luta para conter as infecções por Covid-19. O Banco de Desenvolvimento Asiático reduziu, no mês passado, a perspectiva de crescimento de 2021 para a região para 3,1%, declarando que “o desenvolvimento da Ásia continua vulnerável” à pandemia.

Embora a Covid-19 tenha dizimado o turismo e o varejo no sudeste da Ásia, a região abriga alguns dos mercados de Internet de mais rápido crescimento. Os investidores de venture capital bateram um recorde de 393 negócios, no primeiro semestre de 2021, levantando US$ 4,4 bilhões com investimentos em startups no sudeste asiático, segundo uma pesquisa da Cento Ventures.

Entre os líderes na corrida está o Charoen Pokphand Group, um conglomerado tailandês de 100 anos, que abrange desde o ramo agrícola e de alimentos até o varejo e as telecomunicações. O presidente sênior do grupo é Dhanin, o chefe da dinastia empresarial mais rica da Tailândia.

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O CP Group, com sede em Bangkok, liderou uma rodada de investimento da série C para a startup Ascend Money, em setembro - apoiada pelo Ant Group, de Jack Ma - que revelou o primeiro unicórnio fintech da Tailândia, com um valuation de US$ 1,5 bilhão. O CP Group também se associou ao Siam Commercial Bank, no mesmo mês, para criar um fundo de capital de risco de US$ 800 milhões em tecnologias emergentes, fazendo um seeding de US$ 100 milhões cada.

“O Grupo CP está adotando ativamente a inovação e explorando tecnologias avançadas, como robótica, logística, nuvem e outras tecnologias digitais”, disse Yue Jun Jiang, diretor de tecnologia do Grupo CP. “O Sudeste Asiático está entrando em uma era de ouro de transformação, em que as empresas estão se atualizando com tecnologias avançadas e novos modelos de negócios, e a pandemia acelerou ainda mais a digitalização.”

Na Indonésia, a Intudo Ventures levantou US$ 115 milhões para fechar seu terceiro fundo em setembro, para se concentrar na maior economia digital da região. Os investidores do fundo incluem mais de 30 famílias indonésias e seus conglomerados, de acordo com a empresa.

Plug and play

Plug and Play Tech Center, um investidor em estágio inicial, com sede em Sunnyvale, na Califórnia, que apoiou mais de 20 empresas-unicórnio, incluindo o PayPal, assinou contrato com mais de uma dezena de parceiros no sudeste asiático, a maioria deles grupos controlados por famílias. Eles incluem o conglomerado filipino de construção para geração de energia, Aboitiz Power, o Grupo CP, da Tailândia, e o Astra International, da Indonésia.

Embora os valuations em alta possam ser atraentes, os grupos enfrentam alguns riscos ao abraçarem a estratégia da tecnologia.

As empresas em estágio inicial geralmente gastam muito dinheiro antes de mostrar qualquer sinal de tração em seus negócios. Elas também demandam muito mais apoio e orientação do que as empresas estabelecidas podem estar dispostas a oferecer. Além disso, os conglomerados também precisam se acotovelar com investidores com mais dinheiro e experiência, como fundos soberanos e fundos de capital de risco.

Mas muitas empresas familiares não se intimidam com os desafios. Algumas iniciaram projetos-piloto com startups de tecnologia com o objetivo de investir naquelas com tecnologias promissoras. Elas estão buscando negócios e parcerias que vão desde a automação de processos de manufatura até inovações sustentáveis, bem como fintechs, tecnologia na área da saúde e veículos elétricos.

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“Elas estão observando o que impactará seus negócios, como a pandemia, por exemplo, e precisam desenvolver novas ideias “, disse Shawn Dehpanah, vice-presidente executivo da Plug and Play e chefe de inovação e investimento corporativo da Ásia-Pacífico. “Essas grandes corporações são o pilar para acelerar a inovação entre as startups agora.”

Parque Tecnológico

Nem a empresa estatal de petróleo e gás da Tailândia, PTT, quer ficar para trás. Ela assinou um acordo de parceria com a Plug and Play e, neste mês, uma de suas unidades se uniu à 500 Startups para criar um fundo de US$ 25 milhões para investir em negócios em estágio inicial na Tailândia e no Sudeste Asiático, que podem ajudar o grupo a expandir sua própria presença.

A True Corp, unidade do CP Group, segunda operadora móvel da Tailândia, por sua vez, gastou cerca de US$ 17 milhões para construir o maior parque tecnológico do sudeste asiático, que agora abriga um mix de 120 empreendimentos estrangeiros e domésticos, incluindo as operações locais de gigantes da tecnologia estabelecidos, como Google e Mitsubishi.

O parque tecnológico, que aprendeu direitinho com o exemplo do Vale do Silício, equipando o espaço com instalações esportivas e de entretenimento e adicionando sessões de pitchings de capital de risco, deve passar por uma expansão no próximo ano.

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Esses investimentos ajudarão a acelerar o ciclo de inovação e construir ecossistemas de tecnologia em mercados em desenvolvimento como a Tailândia, explicou Vinnie Lauria, sócio fundador da Golden Gate Ventures, em Singapura.

“Fiquei impressionada em conhecer os patriarcas da família”, disse Lauria, cuja empresa de capital de risco também é parceira do True Digital Park, em Bangkok. “Eles estão fazendo as perguntas certas sobre como construir e expandir seus negócios com tecnologia.”

Com a colaboração de Yantoultra Ngui e Cecilia Yap.

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