Carro elétrico ganha adeptos no Brasil com tecnologia e preço menor

Principal desafio é reduzir custo para o consumidor final; hoje, preço de um modelo elétrico chega a ser o dobro de um equivalente convencional

Avanço de veículos não poluentes depende de melhora nos preços e na infraestrutura
25 de Setembro, 2021 | 06:24 PM

São Paulo — Os veículos elétricos deverão substituir os movidos a combustíveis fósseis muito antes do previsto e o Brasil não ficará fora dessa revolução. As vendas de carros com motores não poluentes nos EUA, Europa e China devem superar os convencionais já em 2033, cinco antes antes do esperado pelo setor automotivo, segundo o estudo mais recente da consultoria EY, que será publicado pela Agência EY na próxima semana.

O Brasil, que responde por uma fatia expressiva da indústria automobilística global, deverá acompanhar essa tendência. Até 2030, entre 15% e 20% dos veículos no país serão elétricos, segundo projeções da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Hoje, há apenas 45 mil veículos eletrificados rodando o país, considerando também os híbridos (com motor a combustão e elétrico), de acordo com a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), com base nos registros do Renavam. No ano passado, foram vendidos 19.745 unidades eletrificadas - cerca de 1% do total comercializado no país.

Segundo Marcelo Frateschi, sócio-líder da EY para o setor automotivo no Brasil, o principal desafio é reduzir o preço final dos veículos elétricos para o consumidor. Hoje, um modelo elétrico chega a custar o dobro de um equivalente convencional. “A tendência é que os elétricos se tornem mais baratos, com o avanço da tecnologia e maior produção, o que reduz os custos”, diz o consultor.

No mundo todo, o setor tem conseguido incentivos tributários pelos ganhos ambientais proporcionados pela não emissão de poluentes. Segundo o estudo da EY, pessoas que, antes da pandemia, estavam dispostas a substituir um automóvel próprio por outras formas de mobilidade, como o compartilhamento e o transporte público, estão reavaliando sua posição após a Covid-19 e agora planejam adquirir ou manter o automóvel individual. Cerca de 30% dessas pessoas pretende dar prioridade aos motores elétricos na próxima aquisição.

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Além dos preços, o avanço dos veículos elétricos no Brasil depende de fatores como fornecimento e custo da energia elétrica, melhoria da infraestrutura para carregamento das baterias, particularmente nas estradas, e incentivos governamentais para a produção e aquisição de veículos elétricos. “Uma das questões a serem resolvidas é o custo da bateria, que ainda é muito alto, e o descarte correto do ponto de vista ambiental”, disse Frateschi.

Veículos pesados e infraestrutura urbana

A locadora de veículos Movida recentemente adquiriu 90 veículos com motores elétricos para frota de aluguel. “O carro elétrico é para quem deseja aliar os benefícios da locação com uma nova experiência de locomoção, que não deixa nada a desejar para um carro a combustão”, disse o diretor de planejamento e receita da Movida, Rafael Tamanini.

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No segmento de veículos pesados como ônibus e caminhões, os eletrificados também ganharam espaço. A fabricante de ônibus Marcopolo já entregou 375 unidades elétricas e híbridas para o Brasil e países como Argentina, Austrália e Índia. Deste total, 75 estão em cidades brasileiras como São Paulo e São José dos Campos. Segundo a empresa, outros 400 coletivos elétricos devem ser entregues até o fim deste ano.

Na cidade de São Paulo, os veículos elétricos já são utilizados, por exemplo, na limpeza urbana. Segundo a Prefeitura, oito caminhões de coleta de lixo movidos a eletricidade foram incorporados ao departamento de limpeza urbana. Triciclos elétricos são usados para recolher sacos de lixo nos calçadões da região central.

Segundo Frateschi, os consumidores, em especial os mais jovens, devem optar pela mobilidade elétrica. “Achamos que seria algo mais para o futuro, mas o mercado de veículos elétricos no Brasil está se antecipando e crescendo em progressão geométrica”, disse.

“Uma mistura de mudanças nas atitudes do consumidor, regulamentações ambiciosas com foco no clima e evolução da tecnologia está prestes a mudar o cenário da compra de veículos para sempre. Embora a indústria automotiva tenha começado a abraçar mais plenamente o movimento em direção à eletrificação, o impacto dessa mudança sísmica está chegando mais cedo do que muitos esperavam”, afirma Randall Miller, líder global de Advanced Manufacturing & Mobility da EY.

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Toni Sciarretta

News director da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista com mais de 20 anos de experiência na cobertura diária de finanças, mercados e empresas abertas. Trabalhou no Valor Econômico e na Folha de S.Paulo. Foi bolsista do programa de jornalismo da Universidade de Michigan.