CEO do HSBC aposta na China mesmo com caça aos super-ricos

Banco está investindo bilhões de dólares em serviços financeiros no país e contratou 600 gestores de patrimônio como parte dos planos

Noel Quinn na sede do banco em Londres, 1º de setembro
Por Francine Lacqua e Denise Wee
03 de Setembro, 2021 | 02:22 PM

Bloomberg — O CEO do HSBC, Noel Quinn, aposta na classe média chinesa. É uma oportunidade grande demais para ser perdida, acredita, mesmo com a campanha do presidente Xi Jinping contra os mais ricos do país.

“Não pense apenas na riqueza da China como os super-ricos, também é uma riqueza para todos”, disse Quinn em entrevista ao programa “Front Row” da Bloomberg em 1º de setembro.

O diretor-presidente do HSBC não visita a China desde o início da pandemia e está ansioso para voltar. Para Quinn, criado em Birmingham e que passou vários anos em Hong Kong na área de banco comercial, focar novamente na China será chave para seus planos de transformar a instituição financeira fundada há 156 anos.

“Adoraria ir para a China, mas, no momento, não é possível ir” do Reino Unido para o país, disse Quinn. “Mas tenho diálogo frequente com a China, com nossos clientes lá e partes interessadas.”

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Há muito o que conversar. Como parte da última aposta na Ásia, o banco está investindo bilhões de dólares em serviços financeiros na China. O HSBC contratou 600 gestores de patrimônio como parte dos planos de recrutar 3 mil nos próximos três a quatro anos, disse Quinn. Segundo o executivo, esses consultores aproveitarão a “grande oportunidade” dos novos ricos da China, que começam a pensar em como administrar seus recursos à medida que cidades se urbanizam e aumentam o consumo.

Veja mais: HSBC recomenda investir em emergentes abalados por temor com Fed

Esse crescimento coincide com a investida do governo chinês contra os bilionários do setor de tecnologia da China, pressionando por uma “prosperidade comum” com medidas que incluem regulação e redistribuição de renda. A repressão provocou perdas nos mercados acionários e levou a uma onda de doações a instituições de caridade entre os super-ricos do país.

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O HSBC ainda é o maior banco da Europa, mas obteve quase dois terços do lucro antes dos impostos na Ásia no primeiro semestre, e está claro onde está o foco no futuro. O HSBC tem transferido vários executivos seniores de Londres para a Ásia, embora Quinn enfatize que o banco não mudará a sede da capital do Reino Unido. O executivo também não tem planos de se mudar.

“Morei em Hong Kong e adorei, mas vou ficar em Londres”, disse Quinn.

O HSBC tem usado parte do capital realocado na Ásia para aquisições. No mês passado, o banco fechou um acordo para comprar a AXA Singapore por US$ 575 milhões para desenvolver um polo de patrimônio global em Singapura e impulsionar sua expansão no Sudeste Asiático.

Cautela em criptomoedas

O CEO continua cauteloso em apostar nos segmentos mais competitivos dos mercados de criptomoedas, embora tenha dito que o HSBC poderia trabalhar com moedas digitais de bancos centrais ou stablecoins no futuro.

Não é o caso de os reguladores do Reino Unido ou da China impedirem o HSBC de negociar com criptomoedas, de acordo com Quinn. “Irrelevante. Eu vejo no nível fundamental e digo, é um mercado emergente”, disse. “Por que eu faria no mundo das criptomoedas o que não farei no mundo real, no mundo das moedas fortes?”

Veja mais: Objetivos conflitantes da China abalam mercado de commodities

Nesse mercado, pelo menos, o executivo se sente satisfeito de ficar à margem, mesmo que isso signifique decepcionar clientes. “A vida é assim. No final das contas, como instituição financeira, não podemos perseguir todos os segmentos de negócio se achamos que não é o negócio certo.”

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