Michael Bloomberg fala sobre mídia social, polarização do debate político e aquecimento global

Empresário disse que mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global pedem ações práticas muito antes de 2050

Ex-prefeito de NY fala sobre polarização na política
24 de Agosto, 2021 | 12:53 PM

São Paulo — O empresário Michael Bloomberg disse que as mídias sociais mudaram a forma de distribuição e de consumo de informações, dando voz a influenciadores e pessoas sem autoridade para falar sobre determinados assuntos, com base no entendimento do chamado “crowdsourcing” sobre aquilo que o público deseja ver ou consumir em detrimento de uma curadoria feita anteriormente pelos meios de comunicação. E isso tem implicações relevantes sobre a polarização da opinião pública em questões que vão desde política até posição contrária à vacinação.

Entrevistado do Expert 2021, evento online da XP, Michael Bloomberg afirma que uma das coisas que mais o impressiona hoje é que, no refeitório do Congresso dos EUA, os republicanos só almoçam com os colegas republicanos e os democratas, com os colegas democratas. “Era diferente antes. E quando olho em volta, o que mudou? Por que é isso? Eu diria que é a mídia social. A mídia social mudou a maneira como distribuímos informações, pensamos e o que fazemos com as informações que recebemos. E assim as pessoas podem influenciá-lo, mesmo que não tenham nenhum conhecimento”, disse a Alberto Bernal, estrategista-chefe da XP.

Para Michael Bloomberg, essa forma de consumo de informações explica a atual polarização do debate político visto na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa. “Isso é verdade em praticamente todos os países. O que você faz sobre isso? Eu não sei. Trabalhei 12 anos no governo, achava que fazíamos um trabalho meio decente. Agora, outra pessoa tem que descobrir isso. Precisamos de líderes em cada um desses países que possam unir as pessoas em vez de polarizá-las. É difícil encontrar essas pessoas e elegê-las, mas eu diria que elas existem”, disse.

O empresário afirmou que a mídia tradicional selecionava as fontes mais aptas para falar com alguma credibilidade sobre ciência, literatura e história. “Você tem pessoas que estão dizendo, oh, o vírus não vai te matar. E não tome vacinas. E tem gente que não quer que você seja vacinado contra sarampo, caxumba, varíola, poliomielite. Isso não teria acontecido antes porque a única informação que você teria obtido seria de pessoas que entendiam de ciência”, disse.

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“A rede de mídia social é construída sobre a capacidade de saber o que você quer e de alimentá-lo cada vez mais com isso, porque assim eles podem lhe vender mais produtos. E não é necessariamente ruim, você pode gostar de tudo isso. Mas essa é a diferença fundamental em nossa sociedade hoje em relação a 20, 30 anos atrás ou antes”, completou.

Na entrevista, Bloomberg disse que, como prefeito de Nova York, sempre procurou falar a verdade para o população, mesmo que não fosse exatamente o que o público quisesse ouvir.

“Aumentei drasticamente os impostos em Nova York. Por quê? Porque estávamos perdendo policiais, bombeiros, professores, enfermeiras. Não podíamos pagá-los. E eu disse, se você quer ter suas ruas limpas e seguras, ter saúde e dar uma educação para seus filhos, temos que fazer isso, o dinheiro tem que vir de algum lugar, então estou aumentando os impostos. Minha aprovação caiu como ninguém jamais viu antes. Dois anos depois, fui reeleito e fui reeleito depois disso. Então, diga a verdade. É melhor cair em chamas por ter feito a coisa certa do que manter seu emprego e ser um hipócrita”, disse.

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ESG e aquecimento global

O empresário afirmou ainda que é muito bem-vindo o interesse da sociedade para iniciativas de investimentos sustentáveis, de responsabilidade social e de boa governança, resumidos pela sigla ESG. “Só espero que não seja uma moda passageira. Precisamos de algumas ações substantivas para realmente mudar as coisas. Isso só vai acontecer se você fizer algo que inclua todos”, disse.

Bloomberg discorreu sobre diversos exemplos de efeitos atuais do aquecimento global, como as enchentes na Alemanha, seca e incêndios na Califórnia, além de tornados e tempestades.

“Nós costumávamos falar sobre [ações até] 2050, mas temos que fazer algo antes de 2050. Na verdade, 3/4, talvez até mais do que isso, das pessoas vivas hoje, não estarão vivas em 2050. Quando uma empresa promete que fará isso até 2050, ou o governo promete, que vergonha. Não devemos permitir que eles escapem impunes. Isso é ridículo. Os números que falávamos para 2050, nós os usamos para 2040 e 2030. As coisas estão piores hoje do que nunca”, disse.

Para Bloomberg, o empresário Elon Musk mudou o mundo por causa dos carros elétricos Tesla. “Uma vez que isso provou funcionar, todas as montadoras queriam fazer carros elétricos, mas foi Elon Musk quem o fez”, disse.

O empresário explicou que a Bloomberg L.P. caminha para zerar sua emissão de carbono em 2025. Ele afirmou que a empresa tem painéis solares em Princeton, New Jersey, perto do campus onde concentra o processamento de dados, além de investir em investir em usinas solares em outros locais. A Bloomberg Línea é uma parceria entre a Bloomberg Media e a Falic Media na América Latina. Michael Bloomberg é o fundador e maior acionista da Bloomberg LP.

“Somos uma empresa de informática ou de informação, não uma empresa de manufatura que gera um monte de coisas. Voamos ao redor do mundo, dirigimos para o trabalho e fazemos tudo para que possamos fazer a diferença. Mas, com toda a justiça, é mais fácil para nós definirmos uma meta alcançável até 2025”, disse.

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