Preço do milho sobe 13,8% em julho e deve impactar inflação dos alimentos

Com quebra da safra no Paraná, Brasil caminha para ter uma produção inferior a 90 milhões de toneladas do cereal neste ano, o menor patamar desde 2018

Quebra da safra de inverno do milho deve ter impacto na cadeia produtiva, atingindo produtos como frango e ovos
29 de Julho, 2021 | 07:04 PM

São Paulo — A menor oferta de milho nesta safra já está fazendo com que os preços do cereal no mercado interno se aproximem de seus recordes históricos. Apenas no mês de julho, as cotações já acumulam uma valorização de 13,8%. No ano, a alta é de 29,6%. Em 12 meses, de 106,34%.

Desde o início desta semana, o preço médio do milho medido pelo indicador Cepea/Esalq está acima de R$ 100 por saca, fato que não ocorria desde maio. Hoje, o indicador fechou o dia valendo R$ 101,93, uma leve queda de 0,5% em comparação ao dia anterior.

A seca foi o principal motivo para a quebra da safra no Brasil neste ano. As estimativas iniciais que apontavam para uma produção recorde, superior a 105 milhões de toneladas, indicam agora uma oferta inferior a 90 milhões de toneladasdfd

POR QUE ISSO É IMPORTANTE: A alta nos preços do milho vai provocar reflexos nas cadeiras de proteína animal. Indústrias de aves, suínos, bovinos, leite e ovos são algumas que sentirão os efeitos e provavelmente repassarão adiante os custos mais elevados.

“É difícil precisar o quanto será repassado e o efeito real na inflação, mas o aumento de custos será sim repassado porque produtores e empresas não têm alternativa, visto que os grãos de modo geral estão em patamares muito altos”, afirma André Sanches, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo.

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André Sanches, Cepea

Com a atualização feita hoje pelo Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná, a safra brasileira de milho pode ser inferior a 90 milhões de toneladas, algo que não acontecia desde 2018. Em apenas 30 dias, o Deral cortou 3,7 milhões de toneladas da safra estadual, o que deve fazer com que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reveja novamente suas estimativas no início de agosto.

CONTEXTO: Quando a safra de milho começou a ser plantada em outubro do ano passado, a Conab estimou uma produção de 105,16 milhões de toneladas, o que seria um novo recorde, superando as 102,5 milhões de toneladas produzidas no ano passado.

Em janeiro, com o atraso no plantio da primeira safra confirmado, a estiagem sendo um fato consumado e a demora para se plantar a segunda safra virando uma realidade, a Conab ajustou sua previsão. A nova estimativa para a produção nacional de milho foi reduzida e passou a ser de 102,3 milhões de toneladas, praticamente o mesmo patamar de 2020.

Seis meses depois, com os efeitos da seca sendo muito mais severos do que o esperado e com geadas atingindo regiões produtoras do Paraná, a Conab se viu obrigada a rever novamente seus números. No início do mês, a oferta nacional de milho foi projetada em 93,3 milhões de toneladas.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.