O que o corte nas projeções da Mercedes diz sobre o futuro dos carros elétricos

Fabricante de carros de luxo prevê retornos menores em 2024, citando os desafios de uma economia em desaceleração

A montadora se beneficiou por muito tempo da demanda reprimida por elétricos
Por Wilfried Eckl-Dorna - Tom Mackenzie
22 de Fevereiro, 2024 | 11:53 AM

Bloomberg — A Mercedes-Benz alertou que os carros elétricos permanecerão mais caros do que seus pares com motores a combustão por anos, já que a fabricante de carros de luxo se prepara para uma demanda mais fraca por tais veículos.

A companhia prevê retornos menores em 2024, citando os desafios de uma economia desacelerada. A Mercedes também reduziu suas perspectivas de vendas de veículos elétricos, com demanda principalmente nos segmentos pequeno e médio onde ela não está tão presente.

A paridade de custos entre veículos elétricos e carros tradicionais “ainda levará muitos anos”, disse o CEO Ola Källenius à Bloomberg Television. “Você pode ver isso nos preços.”

Ainda assim, as ações da Mercedes subiram até 5,4% nesta quinta-feira (22) — o maior ganho intradiário desde novembro de 2022 — após anunciar um programa de recompra de ações no valor de 3 bilhões de euros (US$ 3,2 bilhões).

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O CEO mencionou a possibilidade de recompras adicionais se a Mercedes continuar gerando fluxo de caixa livre como tem feito nos últimos anos.

Desafio com elétricos

Ao mesmo tempo em que recompensa seus acionistas, o esforço da empresa de vender mais carros de alto padrão, como o S-Class, para impulsionar lucros e financiar a transição custosa para a tecnologia de bateria, está encontrando os primeiros obstáculos.

A montadora se beneficiou por muito tempo da demanda reprimida que ajudou a compensar alguns dos desafios econômicos. Mas espera-se que os pedidos se normalizem este ano devido aos altos custos de vida e de crédito que pesam sobre o consumo.

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A empresa também precisa lidar com uma concorrência acirrada em seu principal mercado, a China, onde planeja lançar 15 novos modelos este ano, além da pressão pela frequente redução de preços da Tesla (TSLA).

“O ambiente macroeconômico está bastante desafiador”, disse Källenius à Bloomberg TV. “Ainda temos os efeitos das taxas de juros mais altas e a China está passando por alguns desafios estruturais.”

As montadoras estão ficando mais cautelosas em relação à tecnologia de bateria.

As vendas de carros totalmente elétricos devem crescer este ano no ritmo mais lento desde 2019, segundo a BloombergNEF, com a desaceleração inesperada do ímpeto intensificando a concorrência.

No final do ano passado, a rival da Mercedes, a Audi, disse que está reduzindo sua expansão de veículos elétricos.

A Mercedes prevê uma margem de produção automobilística de até 10% este ano, com vendas unitárias aproximadamente estáveis. A lucratividade ficou em 12,6% no ano passado — no limite inferior das previsões.

A participação de veículos totalmente elétricos e híbridos plug-in deverá permanecer em torno de 19% a 21% das vendas da Mercedes este ano, segundo o guidance.

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A fabricante também reduziu suas perspectivas de médio prazo para a tecnologia, prevendo agora que os veículos elétricos representem metade das vendas na segunda metade da década, em vez de em 2025.

A Mercedes está apostando em seus veículos elétricos de próxima geração, previstos para serem lançados a partir do meio da década, para fazer uma diferença real, com custos variáveis para a plataforma esperados 30% mais baixos.

Os modelos incluem uma versão elétrica do CLA, um sedã de médio porte que pode percorrer mais de 750 quilômetros com uma carga, superando o modelo atualizado do Tesla Model 3.

"Eu não acho que alguém jamais pensou que a transformação da indústria automobilística, que ocorre uma vez por século, seria uma linha reta", disse Källenius. "Haverá altos e baixos."

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