Bloomberg Línea — Na disputa por brasileiros e latino-americanos que vivem nos Estados Unidos e no exterior de modo geral, bancos avançam na oferta de produtos e serviços que possam fazer a diferença para ampliar o relacionamento financeiro e, potencialmente, levar à “principalidade”.
A estratégia inclui também segmentar a disputa por clientes. Nessa frente, o Inter (INTR) decidiu começar a explorar o universo de brasileiros que estudam em universidades e outras instituições de ensino no exterior e, com esse objetivo, acaba de acertar uma parceria com a BRASA (Brazilian Studies Association).
Como parte do acordo, o Inter passa a oferecer a estudantes associados da entidade cartão de crédito em dólar com limite até US$ 3.000, sujeito à aprovação, abertura da global account apenas com CPF e e-mail da faculdade e participação no seu programa de pontos, além de alguns benefícios (veja mais abaixo).
“No conceito do Inter global, nós temos buscado entender quais são as ‘dores’ das pessoas que querem ter uma vida financeira no exterior. E crédito é uma delas, não só para estudantes”, disse Cassio Segura, diretor de Operações Internacionais do Inter, em entrevista à Bloomberg Línea.
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“Os mercados locais em geral não entendem nem sabem como atender uma pessoa que chega a um determinado país sem um histórico financeiro”, disse.
Segundo dados da Unesco citados pelo banco liderado globalmente por João Vitor Menin, há cerca de 90.000 brasileiros que estudam no exterior, incluindo mestrado, doutorado e MBA, dos quais perto de 14.000 são associados à BRASA.
A associação trabalha com benefícios acadêmicos como bolsas de estudo, premiações, programas de mentoria e acessos a eventos para seus membros, com taxas bienais para estudantes por valores entre US$ 25 e US$ 30.
A entidade de apoio a esse aluno, com mais de três décadas de existência, tem mais de cem representações em diferentes universidades: ou seja, capilaridade para levar a informação do serviço financeiro a potenciais clientes.
O cartão para estudantes oferece benefícios como acesso a jogos no Inter&Co Stadium, em Orlando, descontos no Inter Café, em Miami e uso gratuito de bicicletas disponíveis à população na mesma cidade, em iniciativa conhecida como Inter Bikes - semelhante ao que existe com o Citi em Nova York, por exemplo.
“É um cartão entry level com benefícios de um cartão tier 1, ou seja, algo que cartões pré-pago ou de débito não oferecem″, disse Kaio Philipe, Chief Business & Marketing Officer do Inter nos Estados Unidos, na mesma entrevista.
É uma referência ao fato de que muitos brasileiros sem acesso a uma conta global acabam fazendo uso de cartão de débito com limites. Outro meio de pagamento recorrente por esse público é o cartão de crédito em reais, que envolve o pagamento de tarifas e de taxas de conversão de moedas.
A conta global do Inter, por sua vez, dá acesso a outros produtos financeiros, como investimentos no mercado americano, de ações a bonds. “O estudante consegue ter uma experiência bancária completa no exterior”, disse Philipe.
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Segura, que anteriormente atuou como CEO do Banco do Brasil Americas e foi sócio da YellowFi, gestora voltada ao mercado de real estate americano, lembrou que, como parte do racional de atender as necessidades, o Inter já oferecia cartão de crédito em dólar e crédito imobiliário a clientes de modo geral.
“O Inter quer ser a solução em conta corrente em dólar - depois, haverá em outras moedas - para o cliente global, brasileiro ou de outras nacionalidades”, disse.
Isso inclui um público abrangente que vai de clientes que viajam ao exterior ao que Segura descreve como o “trabalhador global”, seja contratado de uma empresa multinacional ou que atue como freelancer.
O cartão de crédito em dólar para estudantes brasileiros no exterior se insere na estratégia de fazer parte da jornada de clientes desde a entrada no mercado. A conta voltada para crianças e adolescentes, por exemplo, já conta com cerca de 3,3 milhões de clientes no Brasil, segundo o executivo.
São 2,5 milhões de clientes adolescentes, com idade entre 12 e 18 anos, e 800 mil que são crianças, com até 12 anos.
“A expectativa é que esse cliente que é atendido pelo Inter desde cedo crie um relacionamento duradouro com o banco e possa continuar assim mesmo depois que eventualmente estude no exterior e volte para o Brasil, usando a conta global”, disse o diretor de Operações Internacionais.
Segundo Segura, montar a oferta de crédito não foi um desafio do ponto de vista de funding, citanbdo que o Inter conta atualmente com cerca de 4 milhões de clientes com a conta global e US$ 1,6 bilhão em ativos nos EUA.
“Aprendemos como atender esse cliente brasileiro que vive no exterior, não só nos EUA, a partir da nossa chegada e da formação dessa base”, disse Segura.
Além do produto e dos benefícios citados, a parceria entre Inter e BRASA inclui a participação em dois eventos da associação, o BRASA em Casa (em 12 de julho, em São Paulo) e na BRASA Summit Américas (11 e 12 de outubro, em Boston), o que vai contribuir para disseminar informações da parceria.
A parceria também inclui programas de mentoria sobre carreira e educação financeira para estudantes associados à BRASA e a contratação de estagiários pelo Inter, não só nos EUA como em outros países, como a Europa.
Segundo os executivos, o plano é que a parceria seja de longo prazo, sem uma data pré-estabelecida para conclusão.
A ação do Inter na Nasdaq acumula alta perto de 70% neste ano; desde o início da listagem na bolsa americana, há cerca de três anos, a alta ficou perto de 80%.
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