Na contramão de techs, Valid cresce dois dígitos e volta a mirar M&A, diz CEO

Empresa que atua com soluções de identificação digital em ID, mobile e meios de pagamento se beneficia de redução da alavancagem, diz Ivan Murias à Bloomberg Línea

Mercado do eSIM, chip instalado dentro de aparelhos como o celular, é um dos negócios mais promissores da Valid (Foto: Nic Coury/Bloomberg)
09 de Agosto, 2023 | 05:45 AM

Bloomberg Línea — Os anos recentes de juros elevados na economia brasileira têm afetado em particular as empresas de tecnologia, em razão da desaceleração do rápido crescimento inerente ao modelo com que operam. Para a Valid (VLID3), os resultados do segundo trimestre mostraram um caso que foge à regra com aumento das receitas e do Ebitda na casa de dois dígitos em suas verticais de negócios.

A empresa de tecnologia que atua com a integração de soluções de identificação com segurança para ecossistemas de ID, mobile e meios de pagamento - suas três principais verticais - ampliou em 17% as receitas na base anual no período, para R$ 534 milhões.

O Ebitda foi de R$ 135 milhões, com expansão de 13% na mesma base de comparação. A margem Ebitda ficou em 25,2%, abaixo dos 26,2% um ano antes. Há dois anos, estava em 13,0%.

“Não é apenas uma história de ganho de eficiência mas também de crescimento. O aumento do Ebitda no semestre foi de 30%, o que consideramos expressivo porque no ano passado tivemos o recorde histórico da companhia”, disse Ivan Murias, CEO da Valid, à Bloomberg Línea.

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Os números de expansão também vieram acompanhados do aumento da geração de caixa operacional, que ficou em R$ 98 milhões. “Conseguimos ampliar a nossa capacidade de converter Ebitda em caixa”, disse Murias, citando como fator para essa condição uma amortização de dívida no fim de 2022.

Essa geração foi equivalente a 73% do Ebitda do período, acima dos 39% de janeiro a março.

“Isso nos ajuda a acumular um caixa para poder eventualmente voltar a olhar para um M&A, como fizemos recentemente com a Flexdoc, e a viabilizar os nossos fomentos, como o financiamento de governos digitais e a transformação da indústria do eSIM”, disse o executivo. O eSIM é um chip digital instalado já dentro do hardware, como um celular, que permite ativá-lo sem a necessidade de cartão físico.

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A Flexdoc é empresa que atua com autenticação e validação de documentos para análise de fraudes adquirida em maio por R$ 20 milhões à vista mais um valor que depende de seus resultados.

A geração de caixa também permitiu o pagamento no último dia 31 de julho de Juros sobre o Capital Próprio (JCP) equivalentes a R$ 0,20 por ação, totalizando R$ 16 milhões referentes ao primeiro trimestre.

Murias, um executivo com 20 anos de experiência no setor de varejo que assumiu o comando há três anos, liderou o processo de reorganização dos negócios da companhia nas três verticais citadas.

No período, a Valid também reduziu a sua alavancagem, um ponto que se tornou ainda mais observado por investidores e analistas depois da série de crises corporativas dos primeiros meses do ano.

A empresa pagou R$ 130 milhões de sua dívida bruta no período. Isso se refletiu na queda da alavancagem para 0,5x a dívida líquida/Ebitda, o menor patamar de sua história.

A ação da Valid acumula valorização de 75% neste ano e de cerca de 50% em 12 meses. O volume financeiro médio diário de negociação subiu 111% no segundo trimestre em relação ao primeiro e abriu caminho para a inclusão do papel na primeira prévia do Índice de Small Caps da B3, que vai vigorar a partir de setembro.

“Isso tem trazido um acréscimo interessante de volume diário para o papel porque os diferentes índices que replicam o de small caps são levados a comprar o papel para replicar a performance”, explicou, apontando que os ganhos têm beneficiado fundos que carregam a ação da Valid há mais tempo.

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“Essa correção tem sido importante, mas a ação ainda é negociada a múltiplos muito baixos, de 3,5x a 4,0x o EV/Ebitda [Enterprise Value/Ebitda], enquanto o Ibovespa deve estar a 7,5x a 8,0x”, disse Murias, apontando que, em sua avaliação, o papel ainda tem espaço para subir nos próximos meses.

Operação na Argentina

Segundo o CEO da Valid, um ponto de atenção está nos negócios da empresa na Argentina, cujos resultados foram classificados como “fortes”. As vendas na vertical de meios de pagamento cresceram mais de 50% na comparação com o mesmo período de 2022, algo que o executivo atribui às particularidades do ambiente econômico no país vizinho.

“Temos alertado aos analistas que não sabemos até quando esse movimento se sustenta porque está muito relacionado ao momento da economia, que está muito fechada”, disse o executivo. “Como temos uma planta no país, estamos concentrando a demanda do mercado. No momento em que houver uma reabertura, a tendência é que os bancos dividam isso entre outros fornecedores.”

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.