Itaú e Bradesco crescem com migração de fortunas da América Latina para Miami

Turbulências regionais e busca por rendimentos superiores aos de seus países de origem têm contribuído para fuga de patrimônio de latinos para os EUA

Centro de Miami, nos Estados Unidos
Por Cristiane Lucchesi - Felipe Marques
19 de Dezembro, 2023 | 09:53 AM

Bloomberg — Os investidores mais ricos da América Latina estão migrando suas fortunas para Miami em um ritmo acelerado, de forma a escapar de turbulências regionais e buscar rendimentos superiores aos de seus países de origem.

Para o JPMorgan (JPM) e para os maiores bancos do Brasil, o êxodo gerou crescimento de ativos e clientes. Para o Morgan Stanley (MS), nem tanto.

O valor das fortunas sob gestão de clientes mexicanos em Miami aumentou cerca de 10% neste ano no JPMorgan, com crescimento semelhantes de ativos provenientes de Argentina, Chile, Peru e vários outros países latino-americanos, de acordo com o banco.

“É incrível o quanto crescemos aqui em Miami”, disse Marice Brown, chefe de private banking para o México do banco com sede em Nova York, em entrevista à Bloomberg News.

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“Antes era muito difícil trazer talentos para Miami, e, agora, depois da pandemia, é o contrário”, disse ela, acrescentando que neste ano o banco recrutou pessoas novas suficientes para aumentar em 10% a sua força de trabalho dedicada aos mexicanos, para cerca de 120 funcionários.

O JPMorgan tem cerca de US$ 180 bilhões em fortunas sob gestão de clientes da América Latina em Miami, Houston, Nova York e Genebra. Com o crescimento no total de ativos, o banco de Wall Street planeja expandir seu negócio de private banking servindo a América Latina para outro andar no edifício na avenida Brickell número 1450, em Miami.

Os maiores bancos do Brasil estão participando do boom. O Bradesco (BBDC4) aumentou o número de funcionários na área de Miami de 190 para 230, após adquirir um banco em Coral Gables em 2019. O total de fortunas sob custódia dobrou para US$ 4 bilhões desde então.

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Já o Itaú Unibanco (ITUB4) viu o total de fortunas sob gestão subir cerca de 10% em Miami neste ano, para US$ 24 bilhões. O banco abriu mais de 1.000 contas em Miami em 2023, bem acima da média histórica. Também contratou Fernando Marques, que estava no Pictet, em Zurique, e o transferiu para Miami para se tornar chefe comercial de private banking na cidade.

Situação diferente

O Morgan Stanley tem sido uma exceção. O gigante de Wall Street tem perdido clientes e banqueiros em Miami em meio a uma revisão do Federal Reserve de suas práticas para prevenir potencial lavagem de dinheiro de clientes de fora dos EUA, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

O banco fechou algumas contas e parou de abrir novas contas de clientes latino-americanos, disseram as pessoas, que pediram anonimato por discutirem informações que não são públicas.

O Morgan Stanley também está mudando sua política em relação a esses clientes. A partir do segundo semestre de 2024, o mínimo para a abertura de contas exigido para clientes do Panamá e da Bolívia aumentará de US$ 2 milhões para US$ 10 milhões, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto.

O mínimo para clientes do Brasil, Chile e México cairá pela metade, para US$ 1 milhão, mas o banco não abrirá mais novas contas para pessoas na Venezuela e na Nicarágua, disse a pessoa.

Um porta-voz do Morgan Stanley confirmou as mudanças, dizendo que o banco continua “comprometido” com o seu negócio de gestão de fortunas internacional, mas desenvolveu modelos novos “que refletem considerações de risco apropriadas”.

Realocação geográfica

Com as taxas de juros ainda altas nos Estados Unidos e com a perspectiva de que o Fed possa em breve começar a reduzi-las, muitos investidores estão buscando títulos corporativos em dólar ou títulos do Tesouro americano, disse Brown, do JPMorgan. O crédito privado também atrai atenção.

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A equipe do JPMorgan em Miami dedicada a clientes de Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, Peru, Equador e Bolívia cresceu cerca de 10% neste ano, para 70 pessoas, segundo Ezequiel Lazcano, chefe da América Latina Sul no private banking do JPMorgan. O banco se concentra em clientes latino-americanos com cerca de US$ 10 milhões ou mais para investir.

“Vimos uma realocação geográfica significativa do portfólio para Miami relacionada ao fato de que nossos clientes encontraram oportunidades mais atraentes para multiplicar sua riqueza nos EUA do que em alguns de seus países”, disse Lazcano.

Outro impulso para o fluxo de recursos para Miami foi a vitória de governos de esquerda no Chile, no Peru e na Colômbia, que desencadeou uma fuga de capitais desses países com os investidores buscando refúgios considerados seguros para seus investimentos, disse Carlos Gribel, presidente da corretora do Andbank em Miami.

O Andbank tem atraído US$ 150 milhões por ano para o seu negócio de gestão de fortunas em Miami, de US$ 1,4 bilhão sob gestão, principalmente provenientes desses países.

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“O movimento dos brasileiros é mais lento, devido às altas taxas de juros locais e às condições políticas estáveis, mas, quando comparado com as saídas históricas, vemos que eles também estão aumentando a fatia de investimentos offshore em suas carteiras”, disse Gribel.

Para outros bancos, a demanda dos brasileiros tem sido extraordinária.

“Este foi um dos anos mais ativos de nossa história em termos de clientes fechando câmbio para investir no exterior”, disse Fernando Beyruti, responsável pelo private banking global do Itaú, o maior nos mercados locais do Brasil.

Percy Moreira, responsável pelo private banking internacional do Itaú, disse que o banco está “vendo uma demanda absurda de nossos clientes por diversificação global de investimentos, principalmente agora que as taxas de juros fora do Brasil aumentaram um pouco”.

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Com uma carteira de crédito imobiliário de US$ 2,3 bilhões, o Bradesco é o banco líder na Flórida no negócio de financiamento de imóveis para pessoas físicas não-residentes nos EUA, disse Henrique Lima, presidente do Bradesco Bank.

“Continuaremos ampliando esse negócio, que tem boa rentabilidade e índices de inadimplência próximos de zero”, disse Lima.

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“Miami está muito aquecida ainda, e eu acho que a crise na América Latina ajuda a aumentar a demanda por esse tipo de empréstimo, pois tem muita gente que tira o dinheiro do seu país e gosta de colocar em ativos sólidos como ‘tijolos’ nos EUA.”

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