Bloomberg Línea — Se a Inteligência Artificial (IA) foi o grande tema de inovação no ano que se encerra, em 2024 será a vez de a tecnologia passar por uma adoção ampla com casos concretos de uso e implicações para diferentes modelos de negócios. Essa é uma das apostas de investidores de venture capital, fundadores e lideranças consultados para o estudo The Next Big Thing LatAm, organizado por Julia De Luca, do Itaú BBA, e Lucas Abreu, ex-Astella.
“A próxima grande tendência é a transformação de empresas tradicionais com modelos de negócios sólidos à medida que aproveitam o poder da revolução de IA. O rápido avanço de Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs), especialmente na implementação de agentes, capacitarão os times internos de tecnologia com habilidades para desenvolvimento em um nível de velocidade nunca visto antes”, disse Fersen Lambranho, presidente do conselho da G2D e da GP Investments, em seu depoimento ao relatório.
Esta é a segunda edição do The Next Big Thing LatAm, que ficou mais diverso e representativo em termos de visões e setores, disse Julia De Luca, que faz parte do time de investment banking com foco em tecnologia no Itaú BBA e escreve o LatAm Tech Weekly, em entrevista à Bloomberg Línea.
“O objetivo do estudo é tirar da mente de pessoas relevantes o que elas estão enxergando para o futuro e contar isso para um público mais abrangente”, explicou Abreu, que trabalhou na Astella - fundo de VC - até recentemente e atualmente escreve a Abreu Newsletter, na mesma entrevista.
O universo de fontes consultadas abrange de empreendedores e investidores de startups early stage até aqueles em growth stage, de modo a formar um panorama complementar de visões. São cerca de 40 depoimentos que ajudam a mapear a indústria de tecnologia e inovação na região.
E o tema de IA ganhou novamente protagonismo, a exemplo do que havia ocorrido um ano atrás, mas agora com a expectativa de casos concretos e integrados de uso, seja para gerar insights para a tomada de decisão na saúde, no direito, na educação, seja para ajudar a reduzir custos, atuando de forma sistêmica.
“Até agora, a primeira geração de aplicações de IA tem sido de aplicativos plug-and-play que substituem a capacidade cerebral humana pela inteligência artificial para realizar tarefas específicas. Em 2024, a próxima geração de produtos de IA surgirá de startups que utilizam o first principle thinking para projetar sistemas inteiros com a IA como sua base, em vez de simplesmente como um substituto para os seres humanos”, apontou Chris Yeh, general partner do fundo de VC Blitzscaling Ventures.
Os experts consultados, por outro lado, também destacaram pontos de atenção no avanço da IA, como o desafio de distinguir conteúdo autêntico e aquele gerado com uso da tecnologia; e a importância da humanização no mesmo processo. Essa questão não passou despercebida na produção do próprio relatório, dado que o The Next Big Thing LatAm agrega a visão de lideranças com diferentes backgrounds e especiazações, disse De Luca.
Outra tendência que sobressaiu nos apontamentos reunidos no estudo é a atuação global cada vez mais comum de empreendedores da América Latina. “Cada vez mais startups pensam em como tornar o seu produto aderente a outros mercados de fora da região. E vemos também founders brasileiros que vão para os Estados Unidos para que elas nasçam internacionais”, disse a especialista do Itaú BBA.
De Luca citou o caso da Insignia, uma empresa com soluções de geolocalização para identificação fundada nos EUA pelo empreendedor André Ferraz como um case sintomático.
“Empreendedores experientes, que já navegaram pelo cenário de Brasil e México, agora miram mais alto e encontram um pool de talentos experientes na escalabilidade de startups e no ecossistema de funding para apoiá-los. Isso marca um momento crucial para o ecossistema”, escreveram em seu depoimento Rodrigo Baer, co-fundador e general partner da Upload Ventures, e Matheus Schettini, investidor do fundo.
“Há uma tendência global em que as fronteiras são cada vez menos uma barreira”, completou Abreu, citando o caso inspiracional da Pismo, empresa brasileira de software financeiro que foi vendida para a Visa global neste ano por US$ 1 bilhão. A empreendedora Daniela Binatti, co-fundadora e CTO da Pismo, deu a sua visão sobre o que espera no segmento de atuação de fintechs.
“Os bancos vão acelerar as substituições de núcleo em suas infraestruturas tecnológicas para se manterem competitivos. A maioria das plataformas de processamento de pagamentos e bancos de instituições financeiras não está pronta para aproveitar as capacidades de novas tecnologias vitais, como a inteligência artificial. Os recentes erros públicos causados por plataformas legadas têm um peso mais significativo do que nunca, incentivando-os a substituir sua infraestrutura prontamente”, escreveu Binatti.
Julia De Luca disse também que o setor de saúde deve se sobressair em 2024 a julgar pelas expectativas dos especialistas. “Eu, particularmente, acho que ninguém ainda cracked the code [solucionou] das questões inerentes do setor de saúde na América Latina e houve um aumento de previsões de como torná-lo mais eficiente.”
Para Lucas Abreu, há uma oportunidade relacionada ao estresse causado pela pressão de custos. “Toda a cadeia, operadoras, hospitais, pacientes, médicos etc., sofre esses efeitos. Para se tornar mais eficiente, o setor terá que avançar na digitalização e na solução de processos com tecnologia, o que inclui o uso de Inteligência Artificial para consultas, diagnósticos e tratamentos”, disse.
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