Fleury quer ‘alavancagem confortável’ após união com Pardini, diz CEO

Jeane Tsutsui afirmou à Bloomberg Línea que o negócio é ‘transformacional’ e que empresa avalia oferta que poderá ser pública ou privada

A CEO do Fleury, Jeane Tsutsui, não descarta a possibilidade de novas aquisições diante de um mercado ainda fragmentado de medicina diagnóstica
30 de Junho, 2022 | 08:48 PM
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Bloomberg Línea — A CEO do Grupo Fleury (FLRY), Jeane Tsutsui, considera “transformacional” a combinação de negócios com o Grupo Pardini (PARD3), anunciada nesta quinta-feira (30). Em entrevista à Bloomberg Línea, a executiva indicou esperar que a transação, que precisa ser aprovada nas assembleias dos acionistas das duas companhias e pelo órgão antitruste, seja concluída no primeiro semestre de 2023.

As ações da companhia dispararam 16,10% nesta quinta, em dia de queda de 1,08% do Ibovespa.

“Estamos muito felizes com este deal [negócio]. Ele é transformacional, pois traz uma complementaridade geográfica para o Fleury e fortalece o mercado de medicina diagnóstica, que ainda é muito fragmentado”, comentou Tsutsui, que também é médica cardiologista.

As marcas vão continuar, bem como os relacionamentos comerciais. O Grupo Pardini domina o estado de Minas Gerais, é forte em Goiás e no Pará. Estamos colocando como uma combinação de negócios, porque, em uma fusão, em geral as empresas desaparecem para criar uma nova.”

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A CEO, que havia destacado em entrevista à Bloomberg Línea em setembro do ano passado que as aquisições do grupo estão condicionadas à disciplina financeira, voltou a reforçar seu compromisso de evitar uma maior alavancagem da companhia.

“Temos a possibilidade de um aumento de capital com a emissão de 70,5 milhões de ações. Não sabemos ainda quando decidiremos, quando vai ser. A oferta poderá pública ou privada. Queremos continuar com um nível de alavancagem confortável em um cenário de juros mais altos.”

Ela disse que, considerando o preço médio das ações do Pardini nos 30 dias antes do anúncio, o prêmio embutido na transação é de quase 6%. O valuation do grupo mineiro foi calculado em R$ 2,5 bilhões. O negócio foi acertado como uma operação de incorporação de ações. O investidor do Pardini receberá, para cada ação, o equivalente a 1,21 ação do Fleury mais uma parcela de R$ 2,15 em dinheiro.

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A estratégia de M&A (fusão e aquisição) do grupo não será alterada, segundo a CEO. “Vamos continuar avaliando ativos, em busca de bons negócios que gerem valor, que tragam retorno e que contribuam para a montagem do nosso ecossistema de saúde.

No ano passado, o Fleury fez aquisições com caráter mais regional, como o Laboratório Marcelo Magalhães, em Pernambuco, além dos laboratórios capixabas Pretti e Bioquímico. Chegou também a demonstrar interesse em adquirir a empresa de diagnósticos médicos Alliar, que foi alvo da Rede D’Or (RDOR3) também, mas o controle acabou ficando com o empresário Nelson Tanure.

Sinergias podem ser maiores

As receitas combinadas de Fleury e Pardini alcançam R$ 6,1 bilhões, segundo os dados dos últimos 12 meses até o primeiro trimeste. Com a combinação de negócios, o novo grupo terá 487 unidades de atendimento e quase 21 mil funcionários em 12 estados e Distrito Federal.

Os ganhos de sinergias estimados para o negócio vão de R$ 160 milhões a R$ 190 milhões como incremento de Ebitda por ano. “Essa é uma estimativa inicial”, observou Tsutsui, indicando que estudos aprofundados sobre a captura de potenciais sinergias ainda serão feitos.

A CEO disse que as prioridades do grupo para seu crescimento orgânico e inorgânico não se alteram com o anúncio da combinação de negócios com o Pardini. O grupo tem investido, por exemplo, no avanço do seu processo de transformação digital por meio da plataforma Saúde iD, em que conecta pacientes a provedores de serviços como cirurgias consideradas simples (hérnia e catarata, por exemplo).

Estamos ganhando musculatura”, sintetizou Tsutsui sobre o impacto da transação no futuro do tradicional grupo de medicina diagnóstica.

Próximos passos

A próxima etapa da transação será convocar as assembleias de acionistas em até 30 dias. Em seguida, depois de outros 30 dias, a votação terá de ser realizada, observa a CEO do Fleury. Caso seja aprovada a transação, começará a tramitação no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

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Os prazos do Cade não estão no nosso controle, mas esperamos que o closing do negócio ocorra no primeiro semestre de 2023.″

O tribunal do órgão antitruste tem levado cerca de 12 meses para julgar negócios do setor de saúde. Exemplo: a compra da rede de farmácias Extrafarma pela Pague Menos, anunciada em maio de 2021, recebeu aval neste mês. Já a fusão entre Hapvida (HAPV3) e NotreDame Intermédica levou um ano para ser concluída.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.