Bradesco corta projeção de alta do crédito após provisão dobrar no 1º semestre

Banco prevê menor crescimento para carteira de crédito em 2023, em revisão de guidance; ações caem perto de 5%

Bradesco vê sua rentabilidade cair para o patamar de 11%, com maiores despesas para cobrir possíveis inadimplências de seus clientes
04 de Agosto, 2023 | 10:12 AM

Bloomberg Línea — Um dos bancos brasileiros mais castigados pelo aumento da inadimplência no ambiente de juros elevados, o Bradesco (BBDC4) reduziu a projeção de crescimento para sua carteira de crédito em 2023.

A revisão do guidance (projeção) ocorre após o banco da Cidade de Deus quase dobrar a PDD (provisão para devedores duvidosos) no primeiro semestre. O Bradesco é um dos principais credores da varejista Americanas (AMER3).

As ações recuavam 4,65% perto das 15h em reação de investidores ao resultado e à mudança do guidance.

A PDD da instituição para sua carteira expandida totalizou R$ 19,8 bilhões no primeiro semestre, alta de 95,4% em 12 meses. No segundo trimestre, o Bradesco reservou R$ 10,3 bilhões para cobrir possíveis perdas, aumento de 94,2% na base anual.

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No começo do ano, o banco projetava crescimento de sua carteira de crédito entre 6,5% e 9,5% em 2023. Na noite de quinta-feira (3), revisou esse guidance para o intervalo de 1% e 5%, mas manteve a projeção para o valor das despesas com PDD (entre R$ 36,5 bilhões e R$ 39,5% bilhões) para o ano.

Ao prever menor aumento da carteira, isso indica que o Bradesco deve seguir no segundo semestre a política de maior seletividade para operações de empréstimos de recursos, priorizando clientes com melhor avaliação de risco, como tem repetido o CEO do banco, Octavio de Lazari Júnior, há pelo menos dois anos, aos analistas, sobre o esforço de conter a inadimplência. O executivo considera que a inadimplência está com tendência de estabilização.

O CEO disse esperar um acordo com a Americanas entre setembro e outubro, após a divulgação do balanço pela varejista, prevista para o próximo mês. ˜Esperamos uma evolução positiva das negociações em setembro, chegando a um bom acordo e plano”, afirmou.

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A previsão anterior do executivo, e de outros CEOs de bancos credores, era o mês de junho, o que não se confirmou. “As negociações são complexas, porque envolvem muitos fundos de investimento, instituições financeiras, debenturistas e fornecedores. Falta fechar alguns pontos do acordo para acomodar todo mundo”, disse Lazari Júnior.

Lucro no segundo tri

Entre abril e junho, o Bradesco lucrou R$ 4,5 bilhões. Se comparado ao segundo trimestre do ano passado, foi uma queda de 35,8%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, representou um aumento de 5,6%.

A rentabilidade medida pelo ROE (retorno sobre o patrimônio) também refletiu essa percepção de “copo meio cheio, copo meio vazio”: foi de 11,1% no segundo trimestre, um aumento de 0,5 ponto percentual em três meses, mas uma queda de 7 pontos em 12 meses. Comparando primeiro semestre de 2023 com o de 2022, a redução do ROE foi de 7,1 pontos percentuais. O CEO do Bradesco espera uma recuperação gradual do indicador.

O Bradesco melhorou expectativas para o resultado de suas operações de seguro, previdência e capitalização, revisando o guidance de crescimento dessas áreas para intervalo de 21%-25%, ante 6%-10% divulgada no começo do ano. A previsão do banco para o aumento de despesas operacionais também melhorou para o ano (de 9%-13% para 7%-11%).

A redução da taxa Selic, na última quarta-feira, de 13,75% para 13,25% ao ano indica o início de um ciclo de redução dos juros, segundo o CEO do Bradesco, em teleconfência com jornalistas. O executivo disse que a decisão do Banco Central “traz ânimo para o mercado” e que o Bradesco avalia reduzir as taxas cobradas dos clientes.

“Já verificamos uma melhora das operações de crédito em julho no mercado”, afirmou o CEO, que expressou confiança na retomada de IPOs (oferta inicial de ações) ainda neste ano, após a volta de operações no mercado de renda variável, como follow-on (oferta subsequente).

Sobre a revisão do guidance para o crescimento da carteira de crédito, ele explicou que o novo intervalo divulgado ontem é mais “factível” do que o inicialmente divulgado.

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“A tomada de crédito pelas empresas é maior no segundo semestre por conta das festas do final de ano”, disse o executivo.

A forte liberação de crédito nos anos de taxa Selic a 2% ao ano, principalmente por meio da emissão de cartões de crédito em suas plataformas digitais, é apontada como um dos fatores que explicam a onda de inadimplência que atingiu o setor bancário brasileiro nos últimos anos.

Esse foi, por exemplo, a análise do CEO do Santander Brasil (SANB11), Mario Leão, feita na semana passada quando abriu a temporada de balanços. A maior exposição a pessoas físicas de menor renda, que tiveram seu poder aquisitivo corroído com a inflação elevada, também foi citada como uma justificativa para o crescimento da inadimplência de bancos de varejo.

As maiores despesas com provisões pesam no balanço das instituições financeiras limitando seu lucro e rentabilidade. O Santander teve um ROE de 11,24% no segundo trimestre. Leão sinalizou que a recuperação da rentabilidade para um patamar de até 18% de ROE só deve ser alcançada nos próximos anos. A filial do banco espanhol lucrou R$ 2,3 bilhões no segundo trimestre, queda de 45% em 12 meses.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.