Por que declarações de Haddad alimentaram a preocupação fiscal e afetaram os ativos

Em encontro com investidores na sexta-feira, ministro expressou preocupação com as perspectivas fiscais; após a reação, ele afirmou que a interpretação foi ‘errônea’

Fernando Haddad: ministro deixou a impressão de que não conseguirá convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva da necessidade de reduzir gastos
Por Martha Beck - Vinícius Andrade
08 de Junho, 2024 | 10:06 AM

Bloomberg — O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, expressou preocupação sobre as perspectivas fiscais do país durante uma reunião fechada na tarde de sexta-feira (7) com investidores, o que fez disparar o dólar e os juros futuros e desencadeou reação pública na tentativa de conter os danos.

Haddad disse a investidores que precisaria fazer cortes significativos nos gastos para atingir a meta fiscal do país para 2024 caso o Congresso não aprove as medidas de elevação de receita propostas pelo governo, de acordo com várias pessoas com conhecimento do assunto ouvidas pela Bloomberg News.

Ele também falou sobre a importância de discutir outras formas de reduzir gastos, incluindo desvincular os benefícios previdenciários dos aumentos do salário mínimo, disseram as pessoas.

O ministro deixou a impressão de que não conseguirá convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva da necessidade de reduzir gastos e que no final ele não terá escolha a não ser mudar o arcabouço fiscal aprovado no ano passado, segundo as pessoas, que pediram anonimato para falar sobre as discussões.

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Haddad disse que apoiará uma revisão estrutural dos gastos, mas não pareceu confiante de que seus esforços ganharão apoio dentro do governo, disse uma das pessoas.

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Os mercados tiveram um fim de dia tenso na sexta. Os juros futuros chegaram a subir 60 pontos na máxima do dia e o dólar tocou R$ 5,33, no maior nível desde janeiro de 2023.

A reação dos ativos ocorreu à tarde, enquanto Haddad falava a repórteres em São Paulo. Haddad voltou mais tarde para dizer que a interpretação do mercado sobre a reunião foi “errônea” e “pouco razoável”, e que ele nunca havia indicado que as regras fiscais mudariam.

Segundo ele, um contingenciamento pode acontecer se as despesas crescerem além do previsto, “o que é absolutamente normal e aderente ao que prevê o arcabouço fiscal”.

“É muito grave o que aconteceu, você não pode utilizar uma reunião fechada para vender ao mercado algo que não existe”, completou.

Haddad tem enfrentado o ceticismo dos investidores sobre os seus esforços para cumprir o seu objetivo de eliminar o déficit fiscal este ano, especialmente em meio a pressão crescente de Lula gastar mais para impulsionar a economia.

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