Ibovespa recua após dados de emprego mais fortes nos EUA; dólar sobe a R$ 5,34

Criação de vagas em maio nos EUA superou todas as estimativas e reforçou a visão de que o Fed deve levar mais tempo para reduzir os juros

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07 de Junho, 2024 | 06:25 PM

Bloomberg Línea — A divulgação de fortes dados de criação de emprego nos Estados Unidos em maio reforçou a visão de que o Federal Reserve deve levar mais tempo para reduzir os juros, o que derrubou os principais índices de ações mundo afora.

No Brasil, o Ibovespa (IBOV) fechou em queda de 1,73%, aos 120.767 pontos, em linha com as perdas dos índices de Nova York. O S&P 500, o Nasdaq e o Dow Jones caíram, embora em menor grau. Com o resultado, o índice da bolsa brasileira encerrou a semana com perda acumulada de 1,09% - o terceiro período consecutivo de baixa. O dólar (USDBRL) subia 1,69% e era negociado a R$ 5,34 ao final do pregão.

Investidores também repercutiram falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em reunião fechada com agentes do mercado nesta sexta, que fizeram as taxas de juros DI subirem e pressionaram o real.

Em conversa com jornalistas no fim do dia, o ministro afirmou que suas declarações foram interpretadas de forma “errônea” e “pouco razoável” de que o governo vai mudar o arcabouço fiscal, segundo a Bloomberg News.

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Haddad disse que foi perguntado sobre a possibilidade de haver mais contigenciamentos no Orçamento caso as despesas obrigatórias ficassem acima do previsto este ano. O ministro disse que teria respondido que sim, uma vez que esta é uma das medidas previstas pelas regras do arcabouço fiscal.

Entre os ativos, os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4) recuaram, assim como as ações da Vale (VALE3). Os papéis dos bancos também recuaram, com Bradesco (BBDC4) e Itaú Unibanco (ITUB4) entre as maiores contribuições negativas.

As ações do BTG Pactual (BPAC11) também fecharam em queda. Segundo fontes da Bloomberg News, o banco de André Esteves e Roberto Sallouti está próximo de anunciar a aquisição de um banco de gestão de fortunas em Nova York, com o objetivo de expandir sua presença global. O banco seria usado para oferecer serviços de private banking e gestão de fortunas, mas também para negócios de banco corporativo e de investimento, segundo as pessoas.

Os papéis de varejistas, construtoras e empresas do setor de educação, que são setores mais sensíveis aos juros, também tiveram perdas, com Magazine Luiza (MGLU3), MRV (MRVE3) e Cogna (COGN3) entre os maiores recuos do dia.

As ações da Suzano (SUZB3) fechou em alta. A empresa tem estado no foco de investidores nas últimas semanas diante de uma possível oferta pela concorrente International Paper (IP). Segundo fontes da Bloomberg News, a empresa vê espaço para assumir dívidas substanciais para financiar uma possível nova oferta pela IP. A empresa brasileira poderia tomar emprestado até US$ 19 bilhões e ainda manter a dívida líquida perto de cinco vezes o Ebitda após incorporar a International Paper, disseram as pessoas, que pediram anonimato.

A Embraer (EMBR3) liderou as altas, junto de São Martinho (SMTO3), Marfrig (MRFG3) e Raia Drogasil (RADL3).

Mais cedo, o relatório da folha de pagamento (payroll) dos Estados Unidos em maio mostrou que foram criadas 272 mil vagas de emprego no mês, enquanto a taxa de desemprego ficou em 4,0%.

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O resultado veio acima de todas as previsões de 77 economistas consultados pela Bloomberg, cuja estimativa mediana indicava a criação de 180 mil postos de trabalho. O número é maior do que o ganho médio mensal de 232 mil nos 12 meses anteriores.

Para Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, o resultado indica que o mercado de trabalho aquecido tende a pressionar ainda mais a inflação de serviços, que já roda em patamar elevado.

“Essa dinâmica dificulta uma queda mais rápida da inflação como um todo em direção à meta. Na nossa visão, aumenta a possibilidade de não haver cortes de juros nos EUA neste ano”, afirmou em comentário a clientes.

André Valério, economista sênior do Inter, ressalta que os dados do payroll foram contraditórios, uma vez que outros indicadores recentes do mercado de trabalho e da atividade econômica vieram abaixo do esperado, sugerindo uma desaceleração econômica.

“Dada essa incerteza, o Fed deverá se pautar ainda mais pelo comportamento da inflação, cuja variação referente a maio será divulgada na próxima quarta-feira, mesmo dia do anúncio da decisão do FOMC. Ainda mantemos expectativa de início do ciclo de cortes em setembro, condicionado à continuidade da queda do núcleo do PCE”, afirmou Valério em comentário a clientes.

Os economistas do Citigroup e do JPMorgan Chase, que estavam entre os últimos que ainda previam um corte nas taxas de juros do Federal Reserve na reunião de julho, revisaram as suas estimativas.

Após a divulgação do payroll, o Citigroup agora avalia que os formuladores de política monetária dos EUA devem fazer o primeiro movimento de corte de juros em setembro, enquanto o JPMorgan não prevê nenhuma mudança até novembro.

“Estamos mudando nosso cenário-base, com estimativa para o primeiro corte na taxa de juros de julho para setembro”, disse Andrew Hollenhorst, economista-chefe do Citigroup nos EUA, em um relatório nesta sexta-feira.

Embora o mercado de trabalho e a economia dos EUA pareçam estar desacelerando, o “crescimento surpreendentemente forte do emprego” no mês passado provavelmente manterá o Fed em compasso de espera enquanto aguarda “por mais dados sobre a atividade mais lenta e a inflação”.

O economista-chefe do JPMorgan nos EUA, Michael Feroli, também em um relatório de sexta-feira, disse que “o recente impulso no crescimento do emprego” sugere que o enfraquecimento “mais amplo” do mercado de trabalho pode levar mais de três meses para se materializar.

-- Com informações da Bloomberg News.