Para a BlackRock, a América Latina tem ‘o que é preciso’ para se beneficiar da IA

Em entrevista à Bloomberg Línea, o diretor de investimentos para a América Latina da maior gestora de ativos do mundo, Benjamin Souza, identifica oportunidades de investimento na região por meio de sua função na cadeia de suprimentos de tecnologia

A região está bem posicionada na reconfiguração das cadeias de suprimentos globais, segundo o diretor de investimentos para a América Latina da maior gestora de ativos do mundo (Foto: Michael Nagle/Bloomberg)
26 de Agosto, 2025 | 11:20 AM

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Bloomberg Línea — Em meio ao avanço global da inteligência artificial (IA), a BlackRock acredita que a América Latina não está à margem dessa revolução tecnológica.

Para Benjamin Souza, diretor de investimentos da empresa para LatAm, a região desempenha um papel fundamental na cadeia de valor da nova economia digital, apesar de não ser o epicentro da inovação em software ou semicondutores.

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“Temos exatamente o que é necessário. Temos alguns minerais raros, aço, alumínio, cobre, todas essas peças necessárias para a refrigeração, para a produção de eletricidade, para a transmissão”, disse Souza em uma entrevista à Bloomberg Línea durante visita à Colômbia.

Além de seu papel como fornecedora de matérias-primas essenciais para essa nova infraestrutura, o investidor destaca que a América Latina está bem posicionada na reconfiguração das cadeias de suprimentos globais, especialmente em face da dissociação comercial com a China e do aumento do nearshoring.

“O mundo está tentando separar essas cadeias de dependência da China e, por isso, está procurando novos fornecedores de algumas peças. Acho que sim, em geral, você verá algumas coisas interessantes lá“, explicou.

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Benjamin Souza, director general y estratega de inversiones para América Latina en BlackRock

Rali e trade eleitoral

Além do impulso que a IA deu a mercados como o dos EUA, outra notícia de 2025 foram os retornos proporcionados pelos mercados latino-americanos. A Colômbia, por exemplo, teve uma valorização de 40% em termos de dólares. Souza oferece duas explicações principais: fluxos de capital e avaliações.

“Parte dos retornos sempre será explicada pelos fluxos e parte dos retornos será explicada pelos fundamentos. E o que temos diante de nós é todo esse ruído sobre as políticas do novo governo dos EUA“, explicou.

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As tarifas impostas pela Casa Branca a outros blocos econômicos, especialmente à Ásia e à Europa, redirecionaram o interesse para mercados menos penalizados, como a América Latina.

“A América Latina foi a grande vencedora disso. O México teve 0% de reciprocidade e os outros países latino-americanos tiveram 10%“, lembra Souza. Esse diferencial tarifário melhorou a competitividade regional em relação a blocos como a Europa ou a Ásia, que enfrentam tarifas de 15% a 39%.

Em sua opinião, “a América Latina não parece tão ruim” nessas comparações. Nesse contexto, os baixos múltiplos de avaliação também chamaram a atenção dos investidores. “Agora está menos barato, mas ainda está barato”, diz Souza.

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Além dos fluxos para a região, o diretor de investimentos da BlackRock é cético quanto às interpretações de um trade eleitoral em países como o Chile ou a Colômbia.

Para Souza, além da expectativa de um resultado nas próximas eleições, o aumento é explicado mais pelo fato de os investidores globais estarem se voltando para mercados “ávidos por investimentos”, com ativos baratos e em meio a uma reavaliação geral dos mercados fora dos Estados Unidos após as mudanças tarifárias do novo governo.

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Colômbia e México: altas taxas

Em meio ao bom desempenho regional, Souza identifica um freio comum para duas das principais economias da região: as altas taxas de juros.

O investidor explicou que o custo do dinheiro não só representa um ônus fiscal para os governos da Colômbia e do México, mas também gera um forte desestímulo à assunção de riscos no setor privado. “Quando você tem uma taxa alta, qual é o incentivo para assumir riscos?”, disse ele.

Em sua análise, essa situação sugere que os bancos centrais de ambos os países deveriam considerar uma maior flexibilização. " Talvez o país deva reduzir essas taxas, porque isso ajuda a economia de várias maneiras", disse o analista.

Argentina: ajustes drásticos, expectativas cautelosas

Com relação ao caso argentino, Souza reconhece os esforços do governo de Javier Milei para romper com o modelo peronista e corrigir os desequilíbrios históricos. “A Argentina é um lugar interessante com um problema político”, disse ele.

Agora, as reformas fiscais e os cortes de gastos geraram otimismo, mas a chave estará em sua execução. " Estamos apenas tentando entender os resultados disso", explica ele, observando que o desafio é reintegrar a Argentina aos mercados globais após anos de inadimplência e controles de capital.

Em sua opinião, a disciplina fiscal demonstrada pelo governo Milei é uma exceção positiva no contexto global. “Em todo lugar que você olha, há um problema fiscal, exceto na Argentina. Portanto, é um sinal de que é preciso, pelo menos, dar uma olhada” ,diz ele.

Carlos Rodríguez Salcedo (BR)

Jornalista colombiano, especializado em economia. Fui jornalista e editor do jornal La República, com experiência em questões macroeconômicas, comerciais e financeiras. Eu também trabalhei para a agência de notícias Colprensa.