Onde investir na América Latina: estas são as ações mais baratas em 2025

Papéis de empresas listadas na região oferecem múltiplos historicamente baixos em setores como energia, varejo e financeiro. Algumas ações são negociadas com descontos de mais de 40% em relação à sua média histórica

Mais de 20 ações da América Latina estão sendo negociadas com descontos de mais de 40% em relação ao seu P/L histórico
14 de Junho, 2025 | 12:03 PM

Leia esta notícia em

Espanhol

Bloomberg Línea — Em um contexto marcado por volatilidade global, desaceleração do crescimento na China e incerteza fiscal e monetária nos Estados Unidos, os mercados acionários latino-americanos oferecem oportunidades de investimento atraentes.

Uma das métricas mais comumente usadas por gestores e analistas de ações para identificar ações subvalorizadas é o múltiplo Preço/Lucro (P/L). Esse índice permite identificar empresas que estão abaixo de sua lucratividade histórica e que, portanto, em tese podem representar oportunidades de investimento.

PUBLICIDADE

De acordo com uma análise comparativa realizada pela Bloomberg Línea com mais de 150 ações listadas nos principais índices do mercado acionário latino-americano, pelo menos vinte empresas apresentam um desconto de mais de 40% em comparação com seu P/L médio nos últimos cinco anos.

Leia mais: Com impulso macro, Empiricus antevê novo ciclo para bolsa e rali de small caps

A base leva em conta em dados compilados pela Bloomberg com preços na última quarta-feira (11).

PUBLICIDADE

“O forte desempenho das ações latino-americanas até agora em 2025 responde a uma combinação de fatores estruturais e cíclicos que reposicionaram a região como um destino atraente para os fluxos de investimentos globais”, disse Emanoelle Santos, analista de mercado da XTB Latam.

Brazil Fights Cratering Real With Two Dollar Auctions In A Day

As ações mais baratas da América Latina

As oportunidades na região não são homogêneas: elas estão concentradas em setores cíclicos, como energia, materiais e infraestrutura, e em regiões geográficas com maior percepção de risco.

O múltiplo P/L, embora seja uma ferramenta básica, é um dos indicadores mais usados para avaliar ações.

PUBLICIDADE

Ele é calculado dividindo-se o preço de uma ação pelo lucro por ação (LPA), que pode ser uma projeção dos próximos 12 meses, e permite estimar quantas vezes um investidor está pagando pelos lucros futuros da empresa.

É importante observar que um P/L baixo, por si só, não garante um bom investimento.

Mas, quando esse valor atual está significativamente abaixo de sua média histórica e da média do mercado, isso pode sinalizar uma oportunidade de reavaliação.

PUBLICIDADE

Além do P/L, os analistas também analisam outros múltiplos, como EV/Ebitda, P/BV (Price-to-Book ratio) ou índices como ROE e ROIC, para uma avaliação mais abrangente.

Leia mais: De Itaú a Nubank: 10 ações de empresas da América Latina para investir em Wall St

No universo de ações analisadas, o México aparece com casos de destaque, como o da Liverpool (LIVEPOLC), que atua no setor de varejo.

Atualmente, essa empresa é negociada a um P/L de 5,68 vezes, em comparação com uma média de 31,33 vezes nos últimos cinco anos, o que representa uma contração de mais de 80% em sua avaliação relativa.

Em um índice como o S&P BMV/IPC, cujo múltiplo atual é de cerca de 15 vezes, a diferença é ainda mais marcante.

Outro caso mexicano relevante é o da Genoma Lab (LABB), empresa farmacêutica que apresenta um desconto de cerca de 30% em relação à sua média histórica.

“Os valuations comparativamente baixos, após anos de desinvestimento e baixo posicionamento em portfólios internacionais, proporcionaram um ponto de entrada muito atraente para os investidores que agora procuram diversificar fora dos EUA”, acrescentou Santos.

O índice do mercado acionário do México é negociado a um P/L de 15 vezes, abaixo da média dos mercados desenvolvidos

No Brasil, a dispersão é maior, mas há oportunidades. Entre elas, a Prio (PRIO3), do setor de energia, destaca-se com um P/L atual de apenas 3,15 contra 11,02 historicamente, um desconto de 71%.

Outros nomes, como Vivara (VIVA3), Sabesp (SBSP3) e Eletrobras (ELET3 e ELET6), também estão abaixo da média, em um contexto em que os receios regulatórios e as expectativas de reforma fiscal no país deprimiram a confiança dos investidores.

Restante da região

O Peru é o país com a maior representação no ranking de ações com desconto.

A Engie (ENGIEC1), ligada ao setor de energia, é negociada com um múltiplo de apenas 6x, em comparação com uma média histórica de mais de 34x. Também se destacam a Minsur (MINSURI1) e a Unacem (UNACEMC1), do setor de cimento e mineração, respectivamente, com múltiplos de mais de 50%.

O índice S&P/BVL, que agrupa as principais ações peruanas, tem um P/L de apenas 10 vezes, o que reforça a tese de que o mercado acionário local está em um estágio de subvalorização generalizada.

Isso não passou despercebido entre as empresas locais: de acordo com o relatório de múltiplos mais recente da Intéligo, “a Unacem apresenta um potencial de [valorização de] 32,9%” e é negociada com um EV/EBITDA abaixo de seus pares regionais, o que é explicado pela “diversificação geográfica e foco na eficiência operacional”, o que lhe permitiu manter margens saudáveis.

A Colômbia apresenta um quadro misto, com vários papéis sendo negociados abaixo de seus múltiplos históricos, embora em menor grau do que em outros mercados.

Leia mais: Rali que desafia Wall Street: este é o mercado mais rentável da América Latina

Ações como as da ISA (ISA), da GEB (GEB) e da Promigas (PROMIG) destacam-se por serem negociadas com P/Ls abaixo de 8x, o que, em alguns casos, reflete a defasagem do desempenho operacional dessas empresas no mercado.

O índice Msci Colcap (COLCAP) como um todo apresenta um P/L de 8,32 vezes, inferior à média regional.

Santos observou que os setores de energia e materiais na América Latina estão sendo negociados atualmente a múltiplos historicamente baixos.

“Esses setores enfrentaram uma desvalorização prolongada, em parte devido à sua alta sensibilidade cíclica e exposição a mudanças nos preços internacionais das commodities, como petróleo, minério de ferro e cobre”, acrescentou.

Na Argentina, o cenário é mais volátil, mas não sem oportunidades.

Embora o risco do país e as restrições cambiais ainda existentes mantenham o prêmio de risco elevado, há empresas que negociam a múltiplos historicamente baixos, mesmo em comparação com suas próprias médias.

Entre elas, a Inversiones y Representaciones (IRSA), a YPF (YPF) e a Transportadora de Gas del Sur (TGSU2) têm P/Ls abaixo de 11 vezes, com descontos de até 60% em relação à média de cinco anos. O índice MERVAL tem um P/L de 11,8 vezes.

Em seu último relatório sobre a região, o Bank of America observou que “as avaliações na América Latina permanecem pouco exigentes em relação ao histórico e a outras regiões”, reforçando a percepção de que muitas empresas da região continuam a ser negociadas a múltiplos depreciados, apesar de sua resiliência operacional.

No caso específico do Brasil, o BofA afirma que “a região continua sendo uma das mais baratas do mundo, com o mercado amplo sendo negociado a 7,8 vezes o P/L futuro, em comparação com 13,6 vezes nos mercados emergentes”.

O banco também observou uma mudança na composição do apetite dos investidores: “A América Latina está se beneficiando dos ventos das commodities e da rotação dos investidores para mercados subvalorizados e com altos dividendos”.

Ele conclui que “o valor continua a superar o crescimento na América Latina, apoiado por energia, finanças e materiais”.

Leia também

A Fifa apostou alto no Mundial de Clubes nos EUA. Faltou combinar com os torcedores

De parceira das maiores maratonas à relação com CEOs: a estratégia da TCS na corrida

Tarifas e ruídos não tiram brilho dos EUA entre investimentos no exterior, avalia BTG

Carlos Rodríguez Salcedo (BR)

Jornalista colombiano, especializado em economia. Fui jornalista e editor do jornal La República, com experiência em questões macroeconômicas, comerciais e financeiras. Eu também trabalhei para a agência de notícias Colprensa.