Japão encerra política de juro negativo e eleva taxa pela primeira vez em 17 anos

Banco do Japão (BoJ) disse que as condições financeiras ficarão flexíveis, indicando que este não é o início de um ciclo de aperto agressivo como o visto nos EUA e na Europa

Bank Of Japan Governor Haruhiko Kuroda Holds News Conference As He Sets For Second Term
Por Toru Fujioka
19 de Março, 2024 | 07:42 AM

Bloomberg — O Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) encerrou o programa de flexibilização monetária mais agressivo da história moderna ao acabar com a última taxa de juros negativa do mundo.

O banco central estabeleceu uma nova faixa para a taxa entre 0% e 0,1%, mudando de uma taxa de juros de curto prazo de -0,1%, de acordo com um comunicado divulgado nesta terça-feira (19) após dois dias de reunião.

A autoridade monetária afirmou que as condições financeiras permanecerão flexíveis, indicando que este não é o início de um ciclo de aperto agressivo como o visto nos Estados Unidos e na Europa nos últimos anos, um fator que pode explicar a queda no iene após o anúncio. A votação para o aumento da taxa foi de 7-2.

O BoJ também abandonou o programa de controle da curva de rendimentos, ao mesmo tempo em que se comprometeu a continuar comprando títulos do governo de longo prazo conforme necessário.

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O banco central também encerrou suas compras de ETFs.

Ao pôr fim à taxa negativa, o líder do BC japonês Kazuo Ueda faz história ao encerrar o programa de flexibilização monetária do BoJ após anos em que o banco central do Japão foi uma exceção global.

A lacuna de política monetária agora se torna ainda mais marcante, pois o BoJ faz seu primeiro movimento de alta das taxas em quase 17 anos, justo quando seus pares ao redor do mundo estão considerando reduzir suas taxas após campanhas de aperto historicamente agressivas.

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Salários em alta

O BoJ disse que mantém sua meta de inflação de 2% em meio a aumentos de salários no país.

Rengo, o maior grupo de sindicatos do Japão, relatou na sexta-feira que as negociações salariais resultaram em um acordo inicial para aumentos de 5,28%, o melhor resultado desde 1991.

Isso alimentou especulações no mercado de que as condições tinham sido finalmente criadas para uma mudança na taxa após Ueda ter enfatizado repetidamente a importância das tendências salariais.

Cerca de 38% dos 50 economistas consultados pela Bloomberg esperavam um aumento da taxa em março, enquanto outros 54% previam que a medida ocorreria no próximo mês.

A pesquisa foi realizada antes dos fortes resultados das negociações salariais anuais que alimentaram especulações de que o banco central não esperaria para subir os juros.

Como parte de sua mudança de política, o banco central disse que também abandonaria a compra de fundos de investimento imobiliário.

Kazuo Ueda, líder do BoJ, em coletiva de imprensa em Tóquio nesta terça-feira (19)
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O BoJ adotou uma medida incomum de comprar ativos de risco como ETFs em 2010, e chegou a se tornar o maior detentor individual de ações japonesas, antes de diminuir as operações de compra para apenas três no ano passado.

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A estratégia tornou-se cada vez mais desconfortável à medida que as ações japonesas atingiam um recorde este mês, levantando a questão de por que o mercado de ações precisava de suporte.

Ueda, o primeiro ex-acadêmico a assumir o comando do BoJ, já havia ajustado aspectos das configurações de política mega flexíveis que herdara quando se tornou líder em abril, ajustando os parâmetros tanto em julho quanto em outubro.

Poucos analistas previram que Ueda seria capaz de desfazer em um ano tantas políticas que haviam se tornado um problema para o banco central.

O antecessor de Ueda, Haruhiko Kuroda, lançou um estímulo de choque e espanto em abril de 2013 com o objetivo de alcançar uma inflação de 2% em dois anos.

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Como esse objetivo permaneceu fora de alcance, Kuroda adotou a taxa negativa e depois o programa YCC em 2016. Seu foco depois disso passou a ser cada vez mais melhorar a sustentabilidade dessas configurações monetárias com ajustes de política.

A flexibilização monetária prolongada levou a uma expansão do balanço do BoJ ao ponto em que agora vale 127% da economia anual, quatro vezes maior que a relação ativos-economia do Federal Reserve (Fed).

Mesmo assim, a inflação realmente não decolou até os choques de oferta desencadeados pela covid-19 e pela guerra da Rússia na Ucrânia.

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