Bancada do agro planeja ofensiva na contramão de agenda ambiental de Lula

Líder do grupo que tem cerca de 300 deputados e 41 senadores afirma em entrevista à Bloomberg News que pretende defender novas medidas que desafiam planos do presidente

Prédio do Congresso, em Brasília
Por Daniel Carvalho - Martha Beck - Dayanne Sousa - Clarice Couto
22 de Dezembro, 2023 | 02:41 PM

Bloomberg — O setor agrícola planeja uma ofensiva legislativa em 2024 que busca desafiar a ambiciosa agenda ambiental do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e testar sua já instável relação com o Congresso conservador.

A bancada do agronegócio, que conta com cerca de 60% dos parlamentares como membros, dará prioridade à legislação para flexibilizar as regras de licenciamento ambiental e restringir as proteções para terras indígenas, juntamente com outros planos que vão contra as tentativas de Lula de iniciar uma transição econômica verde e criar novos territórios indígenas.

“Minha esperança é que em 2024 possamos ser muito mais proativos e apresentar soluções para questões importantes e gargalos importantes de nosso setor e da economia brasileira”, disse o deputado Pedro Lupion, que lidera a bancada que inclui quase 300 membros da Câmara e 41 senadores, em entrevista à Bloomberg News nesta semana.

Isso sugere que Lula terá um ano difícil no Congresso e que o presidente, em grande parte bem-sucedido em aprovar reformas tributárias, novas regras fiscais e outros elementos de sua agenda econômica, dificilmente terá apoio legislativo duradouro em 2024, especialmente se buscar metas mais polêmicas.

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O agronegócio exerce influência no Brasil, o maior exportador mundial de carne bovina, soja e outras commodities. O setor responde por cerca de um quarto do Produto Interno Bruto (PIB), e sua força ajudou a impulsionar um crescimento geral melhor do que o esperado em 2023.

A enorme bancada do agronegócio já mostrou sua força em embates com o presidente este ano, limitando alguns poderes do Ministério do Meio Ambiente e derrubando o veto do presidente a um projeto de lei para limitar demarcações de terras indígenas.

Lula fez tentativas de melhorar sua relação com o agronegócio, que em grande parte apoiou o ex-presidente de direita Jair Bolsonaro na eleição presidencial de 2022.

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Centenas de líderes do setor viajaram para Pequim como parte de uma delegação oficial em março, buscando fortalecer os laços agrícolas com a China, e o governo em junho revelou um plano de financiamento agrícola recorde que incluía R$ 364 bilhões para o agronegócio.

Mas diferenças persistem. Lula criticou o setor por ter problemas ideológicos com seu governo, e no início deste mês comparou os aliados congressistas a raposas guardando o galinheiro em comentários sobre a legislação de terras indígenas.

Enquanto isso, o setor resistiu às tentativas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de incluir os agricultores em um novo sistema de limitação e comércio destinado a reduzir as emissões brasileiras.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, insistiu que o setor não deveria considerar Lula como inimigo. No entanto, Lupion sugeriu que a abordagem do presidente ao agronegócio tem dificultado encontrar pontos comuns.

“Tivemos que começar a construir pontes para ter o mínimo diálogo com o Executivo”, disse ele. “É um Executivo que veio de uma campanha extremamente acirrada e muito ideológica, muito radicalizada, com discursos muito fortes do presidente contra nosso setor.”

Ainda assim, o foco de Lula nas mudanças climáticas pode abrir áreas de acordo. Condições climáticas extremas estão afetando as safras, com mercados já reduzindo as estimativas para a safra de soja do próximo ano, o principal produto agrícola de exportação do Brasil.

Os agricultores querem mais auxílio do governo para mitigar os efeitos de emergências climáticas e estão pressionando por aumentos nos programas de seguro rural subsidiado, à medida que a queda nos preços das commodities leva mais deles à dívida, disse Lupion.

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A bancada do agronegócio também planeja fazer lobby por outro aumento nos gastos sob o Plano Safra nacional do próximo ano, uma demanda que eles fizeram nos anos anteriores com sucesso limitado.

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