Aposta de US$ 1,3 bi, porto chinês na América do Sul enfrenta gargalos estruturais

Investimento no Peru busca fortalecer comércio entre Pequim e o continente, mas faltam boas estradas para levar commodities do Brasil e de outros países até o local de escoamento

O presidente da China, Xi Jinping, e a presidente do Peru, Dina Boluarte, inauguraram oficialmente o porto de Chancay na quinta-feira (14)
Por Dayanne Sousa - Rachel Gamarski
15 de Novembro, 2024 | 04:30 PM

Bloomberg — A China fez uma aposta de US$ 1,3 bilhão que um novo porto no Peru aumentaria seu acesso aos produtos agrícolas da América do Sul. Mas o investimento pode ser mais difícil do que o país esperava.

O presidente da China, Xi Jinping, e a presidente do Peru, Dina Boluarte, inauguraram oficialmente o porto de Chancay durante uma cerimônia no palácio presidencial do Peru, em Lima, na quinta-feira (14). A iniciativa simboliza as ambições de Pequim de fortalecer o comércio com a América do Sul enquanto o mundo se prepara para medidas comerciais mais restritivas sob o comando do presidente-eleito dos EUA, Donald Trump.

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O porto de Chancay, cerca de 70 quilômetros ao norte de Lima, é de propriedade majoritária e operado pela Cosco Shipping da China. Embora a instalação prometa reduzir o tempo de viagem para cargas entre a China e a América do Sul, obstáculos significativos ameaçam diminuir seu sucesso - especialmente quando se trata de obter mercadorias do Brasil.

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Em resumo, o transporte de commodities agrícolas das principais regiões de cultivo do Brasil para a costa oeste do Peru exige a travessia da extensa Amazônia e cruzar as montanhas dos Andes. E, no entanto, há poucas estradas boas e nenhuma ligação ferroviária conectando as regiões.

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“É geograficamente complicado”, disse Marco Germanò, pesquisador da Universidade de Nova York que acompanha os investimentos chineses na região.

Embora o porto de Chancay possa reacender um antigo sonho de integrar as costas do Atlântico e do Pacífico da América do Sul, ele não vê um plano eficaz para que isso aconteça.

Mesmo a conexão entre Chancay e algumas áreas produtoras de café e cacau na região central do Peru enfrenta dificuldades, disse Rafael Zacnich, gerente de estudos econômicos do grupo de exportadores ComexPerú. Ele disse que espera que o novo porto atraia mais investidores que queiram melhorar a infraestrutura.

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Risco de guerra comercial

O enigma do porto de Chancay ocorre no momento em que a China enfrenta ameaças renovadas de uma guerra comercial com os EUA.

A nação asiática tem tentado encontrar outras fontes de suprimento para produtos como soja e milho, e o Brasil, potência agrícola, é fundamental. Na última vez em que Trump foi presidente, Pequim aumentou as compras de soja do Brasil à medida que as compras dos EUA diminuíam.

"A América do Sul está crescendo, está melhorando a produtividade, está plantando mais hectares, está fazendo o que precisa fazer como país, o que coloca esses volumes no cenário global, e isso é absolutamente um problema", disse Matt Carstens, CEO da Landus, a maior cooperativa agrícola de Iowa. "Esse porto terá um efeito adicional, não apenas sobre o que pode acontecer com a América do Sul e a China, mas também em outras partes do mundo."

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Ainda assim, não está claro como os governos sul-americanos enfrentarão os desafios da geografia e da infraestrutura de transporte deficiente.

"Temos que construir", disse o Ministro das Finanças do Peru, José Arista, em uma entrevista. "E construí-la requer duas coisas: descobrir a viabilidade econômica e descobrir se há vontade política para investir os recursos necessários."

Desafios regionais

O Peru é uma economia pequena. Embora suas exportações de minério de cobre e outros minerais possam ir para a China por meio de Chancay, a integração com outros países sul-americanos é fundamental para tornar a rota marítima mais relevante.

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"A ideia é que o Peru seja o centro de exportação para a Ásia", disse Alfredo Thorne, ex-ministro da Fazenda que dirige a empresa de consultoria de investimentos Thorne & Associates em Lima. "Comercializamos muito pouco com o Brasil, mas essa pode ser uma oportunidade para aumentarmos nosso comércio."

A rodovia existente entre a costa do Peru e a área agrícola mais importante do Brasil, no estado de Mato Grosso, exige que os caminhões atravessem os Andes.

Isso pode ser um problema, pois os caminhões maiores, que normalmente transportam soja e milho, não conseguem transitar pela estrada, o que significa que o transporte deve ser feito com veículos menores.

"É um custo extremamente elevado", diz Edeon Vaz, diretor executivo do Movimento Pró-Logística, que representa os produtores de soja e milho no estado brasileiro.

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Mais infraestrutura

Grupos agrícolas do pequeno estado brasileiro do Acre, que faz fronteira com o Peru, veem oportunidades no porto de Chancay. A produção de carne suína e soja tem aumentado na região, e o transporte marítimo através do Peru provavelmente acontecerá no futuro, de acordo com Assuero Doca Veronez, que dirige a Federação da Agricultura e Pecuária do Acre.

"Mas a infraestrutura logística precisa ser montada com mais qualidade", disse ele.

O grupo de agronegócio e as autoridades locais querem uma nova rodovia ligando a cidade brasileira de Cruzeiro do Sul à cidade peruana de Pucallpa. Uma tentativa de construir essa estrada, no entanto, foi suspensa no ano passado por um tribunal federal devido a preocupações com possíveis danos a áreas ambientalmente protegidas e a comunidades indígenas.

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Embora o governo de Luiz Inácio Lula da Silva queira melhorar as estradas próximas à fronteira peruana nos próximos anos, a construção de uma rota polêmica no Acre não está contemplada no plano atual do governo federal.

O tamanho do porto de Chancay representa um grande passo para a América do Sul, uma região que há muito tempo sofre com atrasos nos embarques que, muitas vezes, tornam os produtos menos competitivos nos mercados estrangeiros.

No entanto, para usufruir de tais benefícios, as nações sul-americanas também precisam ampliar os acordos de transporte existentes para permitir que os caminhões atravessem as fronteiras, disse Wagner Cardoso, superintendente de infraestrutura da Confederação da Indústria do Brasil.

--Com a colaboração de Giovanna Serafim, Eric Martin, Marcelo Rochabrun e Kim Chipman.

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