Musk ignora tensões EUA-China e anuncia fábrica de baterias da Tesla em Xangai

Decisão da montadora de carros elétricos vai na contramão de planos de empresas como a Apple, de tentar reduzir a dependência dos negócios da potência asiática

Elon Musk segue adiante com sua estratégia de não depender apenas dos EUA para a produção de seus carros elétricos (Marlena Sloss/Bloomberg)
Por Vlad Savov - Chunying Zhang
09 de Abril, 2023 | 04:07 PM

Bloomberg — A Tesla (TSLA) construirá uma nova fábrica de baterias em Xangai, em uma decisão de ampliar o investimento na China a despeito das tensões crescentes entre Pequim e Washington.

A montadora líder em carros elétricos fabricará sua unidade de armazenamento de energia em larga escala Megapack na nova instalação, que se soma à sua fábrica em Xangai.

A empresa fundada e liderada por Elon Musk, que esteve em visita à China neste fim de semana, fez o anúncio em uma cerimónia de assinatura do projeto em Xangai. Tom Zhu, vice-presidente sênior de automóveis da Tesla, e funcionários do governo de Xangai, incluindo o vice-prefeito Wu Qing, compareceram, com outro vice-presidente da Tesla, Tao Lin, assinando o contrato.

A construção está programada para começar no terceiro trimestre deste ano e a planta iniciará a produção no segundo trimestre de 2024, informou a empresa em comunicado.

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O aprofundamento do investimento da Tesla na China ocorre logo após a francesa Airbus anunciar planos para dobrar sua capacidade de produção no país para um de seus jatos mais vendidos. A fabricante de aviões europeia adicionará uma segunda linha de montagem final para fuselagens estreitas do A320 em sua fábrica em Tianjin, sob um acordo assinado pelo CEO Guillaume Faury em Pequim na quinta-feira (6).

Os novos projetos de manufatura impulsionam a indústria chinesa, no momento em que outras empresas globais, como a Apple (AAPL), repensam a produção no país em meio a tensões crescentes com os Estados Unidos sobre diferentes temas, desde um suposto balão espião chinês sendo abatido nos céus americanos até a parceria de Pequim com o presidente russo, Vladimir Putin.

O Megapack é uma bateria enorme que serve para ajudar a estabilizar as redes de energia, com a empresa dizendo que cada unidade pode armazenar energia suficiente para abastecer uma média de 3.600 residências por uma hora. A nova fábrica produzirá inicialmente 10.000 Megapacks por ano, equivalente a cerca de 40 GWh de armazenamento de energia, e os produtos serão vendidos em todo o mundo.

A China, lar da estrela global de veículos elétricos BYD, é um mercado extremamente importante para a Tesla. Sua fábrica de automóveis existente nos arredores de Xangai fabricou quase 711.000 carros no ano passado, ou 52% de sua produção mundial - mesmo com a produção sendo interrompida pela - agora abandonada - política de tolerência zero com a covid na China.

As autoridades chinesas estenderam o “tapete vermelho” para ajudar a Tesla a montar sua primeira fábrica fora dos EUA no início de 2019, e funcionários do governo de Xangai ajudaram a empresa a retomar a produção em tempo hábil após interrupções relacionadas à pandemia.

A operação de Musk na China, no entanto, não tem sido totalmente tranquila. Uma expansão da fábrica de veículos elétricos de Xangai foi adiada devido a preocupações com os dados relativos às conexões da Tesla com a Starlink, a empresa que oferece internet por meio de satélites, disseram pessoas familiarizadas com o assunto no início deste ano. Isso aconteceu dias depois que proprietários furiosos da Tesla invadiram showrooms na China para reclamar sobre outra rodada de cortes de preços dos carros, pois haviam pagado mais caro.

Os veículos elétricos da Tesla também foram banidos de complexos militares chineses e conjuntos habitacionais no início de 2021 devido a preocupações com dados confidenciais coletados por câmeras embutidas nos veículos.

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Musk disse em uma teleconferência em janeiro que a China é o mercado automotivo mais competitivo do mundo. Ele já fez comentários semelhantes antes, inclusive durante um fórum online em setembro de 2021, quando disse que tinha “muito respeito por várias montadoras chinesas”.

- Com a colaboração de Jessica Sui e Katrina Nicholas.

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