Crise bancária ainda não acabou e será sentida por anos, diz CEO do JPMorgan

Jamie Dimon, CEO do maior banco dos EUA, defende que o Federal Reserve não testou os bancos sobre o que aconteceria se os juros subissem

Jamie Dimon
Por Hannah Levitt
04 de Abril, 2023 | 10:39 AM

Bloomberg — Na visão do CEO do JPMorgan (JPM), o maior banco americano, os erros do Silicon Valley Bank foram incentivados pela regulamentação dos Estados Unidos, não foram fiscalizados pelo Federal Reserve e estavam “escondidos da vista de todos” até que Wall Street e clientes se alarmaram.

Essa é a avaliação de Jamie Dimon sobre a crise bancária nos EUA, que derrubou os mercados no mês passado e que, para o executivo, “ainda não acabou” e será sentida por anos. Dimon disse que as autoridades americanas não deveriam “exagerar” com mais regras.

Em sua longa carta anual aos acionistas divulgada nesta terça-feira (4), Dimon descreveu as aspirações do JPMorgan de usar inteligência artificial e o ChatGPT, avaliou a geopolítica e forneceu atualizações sobre as atividades do maior banco americano.

Desta vez, muitos de seus comentários mais contundentes atacaram a regulamentação, incluindo regras de capital que levaram os bancos a acumular ativos de retornos baixos que perderam valor quando as taxas de juros dispararam.

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“Ironicamente, os bancos foram incentivados a possuir títulos do governo muito seguros, porque eram considerados altamente líquidos pelos reguladores e tinham requisitos de capital muito baixos”, disse Dimon. “Pior ainda”, acrescentou, “o Federal Reserve não testou os bancos sobre o que aconteceria se os juros subissem”.

Quando clientes sem seguro do Silicon Valley Bank perceberam que o banco estava perdendo dinheiro ao vender títulos para fazer frente aos saques, correram para retirar seus recursos. Os reguladores então intervieram e assumiram o controle.

“Isso não é para absolver a administração do banco – é apenas para deixar claro que este não foi o melhor momento para muitos players”, afirmou. “Todos esses fatores de colisão tornaram-se extremamente importantes quando o mercado, as agências de rating e os correntistas se concentraram neles.”

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Dimon, 67 anos, está à frente do JPMorgan desde 2005 e agora é o único CEO de um grande banco de Wall Street remanescente da crise financeira de 2008 ainda no comando. Como o líder mais proeminente do setor, sua carta anual é analisada por banqueiros, traders e investidores por suas opiniões, mas também por sinais do que está por vir no negócio.

A inteligência artificial é “extraordinária” e será crucial para o futuro do JPMorgan, escreveu Dimon. O banco já tem mais de 300 casos de uso para a tecnologia e explora maneiras de promover melhorias e capacitar os funcionários, inclusive com o ChatGPT, a popular ferramenta de processamento de linguagem natural.

Embora a IA possa ser útil em áreas como marketing e detecção de riscos, é essencial para evitar fraudes e se defender contra ataques a bancos e mercados, disse Dimon. ”Porque você pode ter certeza de que os bandidos também a usarão”, destacou.

‘Capitalista do livre mercado’

Em uma seção que revela o novo propósito declarado do JPMorgan – “tornar os sonhos possíveis para todos, em todos os lugares, todos os dias” –, Dimon escreveu que “para que ninguém pense que me tornei um pouco ‘soft’, tenha certeza de que seu CEO é um patriota ativo, capitalista da livre iniciativa e do livre mercado”.

O executivo também pediu aos governos que considerem o uso do domínio eminente para acelerar os investimentos em energia renovável e combustíveis fósseis.

“Simplesmente não estamos obtendo os investimentos adequados com rapidez suficiente para iniciativas de rede, energia solar, eólica e dutos”, disse, pedindo às autoridades que facilitem a obtenção de licenças. “A janela de ação para evitar os impactos mais caros da mudança climática global está se fechando.”

O JPMorgan busca aliviar o impacto das regras que exigem maior nível de capital, de olho em linhas de negócios que exigem pouco ou nenhum, disse Dimon. Isso pode incluir a expansão na análise de trading ou até mesmo viagens. O banco agora estuda com mais rigor os clientes com os quais faz negócios, acrescentou.

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