Funcionário do JPMorgan esperava que banco rejeitasse Epstein como cliente

Em e-mail à Justiça, funcionário dizia que era provável que banco excluiria Epstein da lista de clientes após se declarar culpado por prostituição de menores; ele continuou por cinco anos

Financista foi retirado do JPMorgan somente em 2013
Por Hannah Levitt e Harry Wilson
17 de Fevereiro, 2023 | 04:48 PM

Bloomberg — Era agosto de 2008, às vésperas da crise financeira global daquele ano, e, dentro do JPMorgan Chase (JPM), um funcionário estava confiante de que o banco estava prestes a abandonar um cliente rico cujo nome estava se tornando infame: Jeffrey Epstein.

“Eu consideraria os ativos de Epstein como uma saída provável para 2008″, escreveu o funcionário em um e-mail interno sobre o portfólio de cerca de US$ 120 milhões de Epstein, várias semanas após o cliente se declarar culpado de ter solicitado prostituição a menor de idade. “Não consigo imaginar que vai ficar (a depender da revisão de Dimon).”

Epstein permaneceu cliente do JPMorgan por mais cinco anos.

O e-mail, referindo-se ao CEO Jamie Dimon, é a última reviravolta nos processos judiciais em andamento para responsabilizar o maior banco dos Estados Unidos por lidar com o dinheiro de Epstein por anos antes e depois de sua acusação inicial em 2006, e, com isso, ter supostamente facilitado o tráfico sexual de meninas.

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Não está claro nos documentos do tribunal por que o funcionário, que não foi identificado, pensou que o CEO e o presidente do banco se envolveria na decisão de continuar lidando com o dinheiro de Epstein. Trish Wexler, porta-voz do JPMorgan, disse que a empresa “não viu nenhuma evidência de tal revisão”.

O autor da ação na Justiça — o governo das Ilhas Virgens Americanas — escreveu em um processo de quarta-feira (15) que o e-mail mostra que o relacionamento da empresa com Epstein “foi revisado e aprovado nos níveis mais altos”.

O surgimento do e-mail nesta semana ressalta novamente como as relações do JPMorgan com Epstein, que aparentemente morreu por suicídio em 2019, continuam a assombrar o banco com sede em Nova York cerca de uma década após ambos terem finalmente rompido os laços.

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Epstein entrou em um controverso acordo judicial em meados de 2008, segundo o qual ele ainda podia trabalhar em um escritório da Flórida durante o dia enquanto cumpria uma sentença de 13 meses. O JPMorgan o manteve como cliente após essa condenação.

O relacionamento de Epstein com o ex-executivo do JPMorgan, Jes Staley, é central para os processos.

Staley liderou o banco privado do JPMorgan e depois suas operações de gerenciamento de ativos, período no qual ele teria continuado a lidar pessoalmente com o relacionamento do banco com Epstein. Staley deixou o banco em janeiro de 2013. Seis meses depois, o JPMorgan dispensou Epstein como cliente.

Após a prisão de Epstein em 2019 por acusações de tráfico sexual, a empresa tem enfrentado questionamentos sobre por que continuou fornecendo serviços financeiros após a confissão inicial de culpa do empresário e quais informações o banco e seus executivos mantiveram sob sigilo ao longo dos anos.

Staley tornou-se CEO do Barclays em 2015. Ele deixou o cargo em 2021 após uma investigação da Autoridade de Conduta Financeira (FCA, na sigla em inglês) do Reino Unido sobre seus laços com Epstein. Staley ainda está contestando as conclusões da FCA.

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