Queimadas na Amazônia estão ligadas ao derretimento de geleiras nos Himalaias

Cientistas descobriram uma trilha atmosférica de 20 mil quilômetros que sugere que o colapso de um ecossistema pode desestabilizar outros e gerar um efeito dominó devastador para o planeta

Amazonas
Por Laura Millan Lombrana
28 de Janeiro, 2023 | 12:01 PM

Bloomberg — As árvores queimadas na floresta amazônica brasileira podem contribuir para o derretimento das geleiras nos Himalaias e na Antártida porque os ecossistemas distantes que regulam o clima da Terra estão mais intimamente ligados do que se pensava anteriormente.

Os cientistas descobriram um novo percurso atmosférico que se origina na Amazônia, percorre o Atlântico Sul, depois a África Oriental e o Oriente Médio até chegar à Ásia Central, de acordo com um artigo publicado pela Nature Climate Change.

Essa conexão, que se estende por 20.000 quilômetros em todo o mundo, significa que quando a Amazônia esquenta, o mesmo acontece no planalto tibetano. E quanto mais chove na Amazônia, menos chove no Tibete.

O estudo está entre os primeiros a investigar a interação entre os ecossistemas em risco de atingir um ponto de ruptura climática que os transformaria irreversivelmente. Essa trilha atmosférica recém-descoberta sugere que o colapso de um ecossistema poderia desestabilizar outros também, levando a uma cascata de eventos destruidores em todo o planeta.

PUBLICIDADE

“Esse efeito dominó é um risco a ser levado a sério”, disse Hans Joachim Schellnhuber, pesquisador do Potsdam Institute for Climate Impact Research e coautor do relatório. “Elementos de inflexão interligados no sistema terrestre podem desencadear um ao outro, com consequências potencialmente severas”.

Os cientistas estão apenas começando a investigar as conexões entre os componentes do sistema climático do planeta distantes entre si. Esse conhecimento é essencial para compreender o impacto total do aquecimento global, causado pelas emissões de gases de efeito estufa e que já está elevando o nível do mar e provocando inundações mais severas, além de secas e incêndios em todos os continentes.

O desmatamento na Amazônia, a maior floresta tropical do mundo e lar de um quarto das espécies de terra, atingiu no ano passado o ritmo mais acelerado em pelo menos 15 anos. A parte sudeste da floresta tropical, que desempenha um papel vital na absorção do dióxido de carbono da atmosfera que aquece o planeta, tornou-se uma fonte líquida de emissões de carbono durante a estação seca, segundo um documento de 2021.

PUBLICIDADE

O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU viu um aumento da probabilidade de que a Amazônia cruzará um ponto de inflexão. A questão agora é entender o que isso pode significar para o Himalaia, uma das grandes reservas mundiais de água doce, que já está vivendo um derretimento glacial sem precedentes.

“A região amazônica é naturalmente um importante elemento do sistema terrestre por si só”, disse Jingfang Fan, um pesquisador da Normal University de Pequim e do Instituto Potsdam. Mas essa pesquisa “confirma que os elementos de inflexão climáticos estão de fato interligados mesmo em longas distâncias - e a Amazônia é um exemplo chave de como isto poderia acontecer”.

Leia também

Título ligado à proteção da Amazônia ganha força entre investidores ESG

Lula cobra países ricos e diz que questão climática será central no seu governo

Investimento verde de US$ 1 tri se iguala a combustíveis fósseis pela 1ª vez