Bloomberg — O novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva poderia reforçar sua credibilidade na luta contra as mudanças climáticas com um título que pague juros atrelados à proteção da floresta amazônica.
Essa é uma proposta que ganha força entre bancos, investidores e pesquisadores, que dizem que o país deve seguir os passos de seus pares latino-americanos Chile e Uruguai através da emissão de dívida vinculada à sustentabilidade.
No caso do Brasil, a meta ambiental poderia ser reduzir a área de desmatamento na Amazônia, que seria verificada por terceiros.
Essa estrutura de dívida viria com desafios, principalmente para um país sem experiência com títulos ESG, e que enfrenta uma ampla queda nos mercados. Mas isso sinalizaria que Lula, que assume o cargo em 1º de janeiro, leva a sério a nova postura do país em relação à biodiversidade e às mudanças climáticas.
“É uma ideia fantástica”, disse Graham Stock, estrategista sênior de dívida soberana de mercados emergentes da RBC BlueBay Asset Management e copresidente de uma coalizão para evolver órgãos públicos e associações industriais sobre o assunto, a Investor Policy Dialogue on Deforestation Initiative. “Seria uma forma de casar o dinheiro com o discurso e dizer ‘vamos nos comprometer e vincular nossos pagamentos de juros a isso.’”
Embora o conceito não seja novo — o Banco Mundial sugeriu esta estrutura no início do ano — ela parecia improvável sob o presidente Jair Bolsonaro, cujas políticas ambientais provocaram condenação internacional. Lula, por outro lado, tem sido elogiado por ambientalistas por suas promessas de preservar a maior floresta tropical do mundo.
O Brasil tem uma forte influência no meio ambiente global porque mais de 40% do país ainda é coberto por florestas tropicais, com boa parte da biodiversidade do planeta. A Amazônia também armazena uma quantidade de carbono, que, se totalmente liberada, seria equivalente a 730 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono, o mesmo que 20 anos de emissões globais nas taxas atuais, segundo estimativas.
Mesmo com uma leve redução em 2022, o desmatamento da Amazônia aumentou para 11.400 quilômetros quadrados por ano em média durante o governo Bolsonaro, em comparação com 7.100 de 2015 a 2018. Essas taxas caíram significativamente durante os dois mandatos de Lula, entre 2003 e 2010.
Títulos vinculados à sustentabilidade — que normalmente fazem com que empresas paguem um cupom mais alto se não atingirem metas ambientais, sociais e de governança pré-determinadas — cresceram rapidamente em um mercado de US$ 200 bilhões, mas os governos demoraram a adotar o formato.
Alguns profissionais do mercado dizem que os tomadores soberanos deveriam adotar cupons de desconto, onde o emissor paga menos juros pelo cumprimento das metas.
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