JPMorgan quer reduzir carbono em mais três setores de sua carteira

Setores de aviação, mineração e cimento precisarão cumprir metas de redução de emissão de carbono para conseguirem financiamentos

Desde 2015, o banco forneceu mais financiamento à indústria de combustíveis fósseis do que qualquer outra empresa
Por Alastair Marsh
25 de Dezembro, 2022 | 04:10 PM

Bloomberg — O JPMorgan Chase (JPM) está incrementando as suas ambições climáticas, anunciando uma série de novas metas para a redução de emissões para financiar empresas intensivas em uso de carbono, entre elas companhias aéreas e fabricantes de cimento.

O maior banco dos Estados Unidos informou em seu relatório climático deste ano que planeja reduzir a pegada de carbono de sua carteira de financiamento. Para o setor de aviação o corte será de 36% até 2030, tomando por base 2021.

Neste mesmo período, a meta do banco para investimentos em mineradoras de ferro e metal é reduzir as emissões em 31% e no caso das companhias de cimento a redução é de 29% no mesmo intervalo.

“Esta é a prova de que estamos fazendo o trabalho necessário, estabelecendo uma base com os clientes sobre o clima e fazendo progressos nas promessas que fizemos”, disse Heather Zichal, chefe global de sustentabilidade da JPMorgan, em entrevista.

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Esse conjunto mais recente de metas climáticas seguem o primeiro compromisso de corte de emissões anunciadas pelo banco no ano passado e que abrangeram empresas de petróleo e gás, energia elétrica e fabricação de automóveis.

O JPMorgan tem sido criticado regularmente por ativistas ambientais por continuar oferecendo grandes financiamentos para indústria de combustíveis fósseis e por ficar atrás de outros bancos como o HSBC, que anunciou na semana passada que não apoiará mais novos projetos de petróleo e gás.

Jamie Dimon, presidente e diretor-executivo da JPMorgan, escreveu no relatório climático deste ano que as perturbações no sistema energético global causadas pelo ataque da Rússia à Ucrânia, além de outros fatores econômicos, estão “destacando a necessidade urgente e global de fornecer recursos energéticos de forma segura, confiável e acessível e, ao mesmo tempo, abordar soluções e estratégias de energia limpa a longo prazo para reduzir nossa pegada de carbono”. Ele acrescentou que “estes objetivos não são mutuamente excludentes. Podemos - e devemos - fazer ambos”.

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Segundo o banco, os seis setores cobertos pelas metas de redução de carbono anunciadas em 2021 e 2022 respondem pela maior parte das emissões globais. Com as novas metas, o banco busca se alinhar com o cenário de emissão zero da Agência Internacional de Energia até 2050.

“Quando um banco do nosso tamanho estabelece essas metas, dado nosso papel na economia, isso importa”, disse Zichal. “Ajuda a colocar esses setores no caminho certo e apoia o trabalho de nossos clientes para descarbonizar também”.

A parceria de pesquisa Climate Action Tracker informou no mês passado que o mundo está a caminho de aquecer 2,7 graus centígrados acima dos níveis pré-industriais até o final do século, quase o dobro da meta de 1,5 graus do acordo de Paris, que não contou com compromissos adicionais das nações na cúpula climática deste ano, no Egito, para ser alcançada.

A curva em direção a emissão zero ainda pode ser dobrada antes que seja tarde demais”, escreveu Dimon no relatório climático do banco.

O JPMorgan tem um árduo trabalho pela frente para atingir suas metas. Isso porque desde que o acordo climático de Paris, assinado no final de 2015, o banco forneceu mais financiamento à indústria de combustíveis fósseis do que qualquer outra empresa, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O JPMorgan é o sexto maior financiador e gestor de títulos de empresas de petróleo, gás e carvão - atrás de Wells Fargo e RBC Capital Markets - e ajudou essas indústrias a levantar cerca de US$ 20 bilhões neste ano.

Esse modelo de financiamento a empresas do setor de combustíveis fósseis atrai manifestantes que questionam a opção do banco de estabelecer metas de intensidade de carbono em vez de se comprometer em reduzir as emissões absolutas.

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Os esforços do banco para descarbonizar ainda mais sua carteira de financiamento provavelmente atrairá mais críticos. Os ativistas do clima consideram as metas de intensidade um “truque contábil barato” porque permitem aos bancos continuarem financiando a expansão dos combustíveis fósseis em vez de tomar medidas para eliminá-los gradualmente.

Um painel de especialistas nomeados pelas Nações Unidas, encarregado de definir se as metas climáticas têm integridade, disse em novembro que as empresas e instituições financeiras deveriam se concentrar em reduzir as emissões absolutas - não a intensidade das emissões - ao estabelecer metas de emissões líquidas-zero .

“Para nossos propósitos, as métricas baseadas em intensidade fornecem a maneira mais útil de avaliar o progresso dos clientes em relação aos cenários climáticos”, disse Zichal. “Haverá críticos de todos os lados”. Nosso trabalho é manter o foco no que nos comprometemos: nossos compromissos alinhados com Paris e estas novas metas setoriais”.

Para dar uma primeira ideia de como está cumprindo as metas de redução de emissões, o JPMorgan disse no final de junho, pouco mais de um ano após ter estabelecido seu primeiro conjunto de meta, que a intensidade de emissões de sua carteira de petróleo e gás “permanece plana”. Mas para o setor de energia, o banco relatou uma redução de 22% na intensidade de emissões e uma redução de 10% para a fabricação de automóveis.

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