Na Deloitte, novas áreas já respondem por 50% da receita. E o desafio é contratar

Empresa decide ir além da consultoria e acerta alianças com empresas de tecnologia, cujos serviços conjuntos já respondem por 19% do faturamento no país

Empresa passou a oferecer serviços de execução de estratégias em parcerias com empresas de tecnologia
21 de Novembro, 2022 | 12:39 PM

Bloomberg Línea — A atividade de auditoria construiu por décadas a reputação e a solidez financeira de suas empresas especializadas. Quatro delas se destacaram a tal ponto que ficaram globalmente conhecidas como Big Four: Deloitte, E&Y e KPMG e PwC (em ordem alfabética). Há muitos anos, o serviço de consultoria para além da esfera fiscal ganhou espaço relevante na diversificação de suas atividades.

O setor atravessa novo momento de transformação, liderado mais uma vez pelos maiores players. Um dos exemplos é o da Deloitte, que, em que uma guinada estratégica na operação brasileira iniciada antes da pandemia, atravessa uma fase de crescimento caracterizada por nova dinâmica: metade das receitas atualmente provém de atividades que nem sequer eram atendidas há seis anos.

Atualmente a área que mais cresce e que tem sido o motor de expansão da companhia no Brasil é a que concilia o serviço de consultoria com a implementação e, depois, a operação, dos planos propostos aos clientes. São mudanças estratégicas que vão de transformação tecnológica e gestão de capital humano a práticas associadas aos princípios ESG (ambientais, sociais e de governança).

Outro serviço em alta é a de estrutura organizacional, que reflete uma demanda de corporações por novas disposições diante do impacto da tecnologia e de mudanças dos negócios tradicionais.

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Essa frente de atuação que tem liderado a expansão na Deloitte é chamada de Consultoria Empresarial (ou apenas CE) e cresceu 26% no ano fiscal encerrado em maio de 2021 e o dobro dessa taxa neste ano. O tamanho da área hoje representa o triplo do que era há quatro anos, no ano fiscal de 2018.

“A Deloitte tem se transformado e nos descolamos daquele padrão conhecido de consultoria tradicional, que trabalha com foco quase exclusivo no aconselhamento. Passamos a focar na transformação de ponta a ponta das empresas, reunindo capacidade de implementação e de operação dos negócios dos clientes”, disse Renata Muramoto, sócia-líder da área de Consultoria Empresarial da Deloitte, à Bloomberg Línea.

Os negócios dessa área respondem hoje por 29% das receitas da Deloitte e a participação deve chegar a um terço do total em dois anos, segundo projeção.

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Um dos pilares da estratégia passa, de forma até evidente pelo escopo mais abrangente, pelo aumento do número de profissionais - talentos que estejam capacitados para a demanda crescente: entraram para a área 70 executivos, entre sócios e gerentes, nos últimos dois anos, em boa parte vindos do mercado.

Renata Muramoto, sócia-líder da área de Consultoria Empresarial da Deloittedfd

Na Deloitte como um todo no país, o crescimento dos serviços tem se traduzido também em aumento dos quadros de forma ampla: são atualmente cerca de 300 sócios, o que representa um número 75% maior do que há três anos. O quadro deve chegar a 400 em dois anos.

Segundo Muramoto, para que a execução se tornasse possível nos clientes, foram também acertadas, em particular nos últimos dois anos, alianças com muitos dos maiores provedores da indústria de tecnologia, como AWS (AMZN), Dell (DELL), Google (GOOG), IBM (IBM), Oracle (ORCL) e Salesforce (CRM), além de empresas do chamado ecossistema de inovação. “São um diferencial para nossa entrega.”

Serviços conjuntos da Deloitte com provedores de tecnologia já respondem por cerca de 19% da receita. E a estimativa é que essa participação alcance 25% em 2024.

O crescimento destoa do momento de contração e onda de demissões de grandes players de tecnologia, no momento de desaceleração do forte crescimento ante anos anteriores.

Mas a expansão trouxe também para a Deloitte uma dor típica de outros setores: como lidar com a escassez de profissionais qualificados. E a certeza de que apenas internamente não será possível preencher as posições que estão e serão abertas - dos nove novos sócios da Consultoria Empresarial neste ano, quatro foram trazidos do mercado. Isso acontece de forma mais ampla em outros níveis. A Deloitte contratou 3.000 profissionais no último ano fiscal para conseguir dar conta da demanda dos clientes.

Diante desse desafio, a empresa abriu várias frentes de recrutamento e posterior treinamento de profissionais de formações que vão além das carreiras tradicionais de administração, contabilidade, economia e engenharia: de médicos a jornalistas estão sendo contratados. Há parcerias com escolas de programação e bootcamps de tecnologia para áreas como analytics e inteligência artificial.

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“Para a atuação que temos na área de Consultoria Empresarial, nossas soluções reúnem e demandam conhecimento profundo de indústria, tecnologia e dados”, disse a sócia-líder de CE.

- Matéria alterada às 14h26 para informar que, na verdade, a Deloitte já contratou 3.000 profissionais no último ano fiscal para dar conta do aumento da demanda.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.