Lucro do Mercado Livre sobe 35,8% em um ano e chega a US$ 129 milhões

Batendo as expectativas dos analistas, o Mercado Livre atingiu uma receita de US$ 2,7 bilhões no terceiro trimestre

Mercado Livre tem receita recorde no terceiro trimestre.
03 de Novembro, 2022 | 05:23 PM

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Bloomberg Línea — O gigante do e-commerce latino-americano Mercado Livre (MELI) tem colhido os frutos dos investimentos feitos nos últimos anos reportando não apenas receita, mas também resultado operacional recorde no terceiro trimestre, com crescimento rentável. As ações subiram 7,36% por volta das 17h20 (horário de Brasília), após o fechamento do mercado, em um dia em que seu concorrente americano Amazon (AMZN) sofreu a maior sequência de quedas de ações diárias desde agosto de 2019.

A receita líquida do Mercado Livre atingiu US$ 2,7 bilhões no terceiro trimestre, e bateu as expectativas dos analistas, que esperavam um resultado de US$ 2,69 bilhões. O valor representa um crescimento de 44,9%, em dólar, e de 60,6% em moeda constante, na comparação com o mesmo período de 2021. Os resultados para o trimestre terminado em 30 de setembro foram divulgados pela empresa nesta quinta-feira (3).

O lucro líquido foi de US$ 129 milhões, alta de 35,8% ano contra ano, resultando em lucro líquido de US$ 2,57 por ação, 33,8% acima do mesmo período no ano passado. A receita operacional foi de US$ 295,9 milhões, um aumento de 84,5% em dólares.

“Estamos tanto competitivamente quanto financeiramente em um momento positivo do negócio, crescemos ganhando margem”, disse André Chaves, diretor de estratégia, desenvolvimento corporativo e relações com investidores do Mercado Livre, em entrevista à Bloomberg Línea.

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O Brasil, mercado que representa 53% da receita líquida total do Mercado Livre, alcançou US$ 1,4 bilhão em receita, com aumento de 33,9%. Analistas esperavam US$ 1,47 bilhão.

“Em um momento em que o capital está mais duro e que a competição passa a ser cada vez mais pelos capacidades construídas, empresas que investiram historicamente em melhores produtos e melhores tecnologias acabam se sobressaindo. Nós estamos entre essas empresas”, disse Chaves, que considera que o mercado tem sido cauteloso em avaliar empresas de tecnologia. As ações do Mercado Livre estão 41,6% abaixo no último ano, com um valor de mercado abaixo dos US$ 45 bilhões.

“Ganhamos muito market-share em varejo em vários países. Preferia ganhar market-share em um cenário em que o mercado cresce muito, mas está muito duro. Mesmo assim ganhamos participação de mercado em todas as nossas geografias e linhas de negócio de maneira muito consistente”, afirmou Chaves.

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O concorrente americano Amazon viu seus papéis serem negociados no nível mais baixo desde março de 2020. Na semana passada, a varejista divulgou seu relatório trimestral e projetou o crescimento mais lento de sua história para o quatro trimestre. Nesta quinta-feira, a Amazon disse ainda que pausaria “novas contratações incrementais” para enfrentar uma economia mais lenta.

O Mercado Livre não faz projeções para o último trimestre do ano e Chaves diz que tampouco gosta de falar de concorrentes. Ele conta que é difícil afirmar se a desaceleração da Amazon pode ser olhada como uma tendência que outros e-commerces seguirão no próximo trimestre.

“Quando a Amazon fala publicamente, normalmente estão falando muito do negócio americano e europeu, não necessariamente da América Latina, que pode ou não estar em outro ritmo no quarto trimestre”, disse Chaves. “Não dá para dizer que a tendência é de desaceleração e eu tenho muito cuidado em ler essas afirmações, especialmente em empresas que são globais, porque elas podem estar em um momento de retração generalizada mas podem seguir investindo em algumas geografias”.

Chaves disse ainda que o Mercado Livre não teve que fazer qualquer revisão de planos ou de quadro de funcionários porque “já vínhamos muito cuidadosos em como a gente crescia”.

Neste ano, o Mercado Livre saiu de 8 mil para 12 mil engenheiros de software. “Para nós, isso é um investimento de longo prazo. Acreditamos que é onde vamos seguir construindo o nosso diferencial”. Segundo Chaves, mesmo com um mercado mais difícil, Brasil, Argentina e México tiveram boas performances no trimestre e seguem sendo negócios “muito sólidos”.

Crescimento fintech mais acelerado que o varejo

A receita do negócio de fintech do Mercado Livre, o Mercado Pago, cresceu 93,7% em dólares para US$ 1,2 bilhão ano contra ano. Mesmo que ainda não tenha ultrapassado a receita vinda dos negócios de marketplace, o braço financeiro da empresa está crescendo mais rápido. “Não damos guidance, mas acreditamos que em algum momento o negócio de fintech ultrapassará o de varejo, sim”.

Nos últimos dias, o Mercado Livre lançou um recurso para que clientes mexicanos possam ter criptomoedas como o Ethereum e Bitcoin em sua carteira digital. Já presente no Brasil, a empresa pretende expandir o serviço para outros países em que atua, além de expandir sua própria criptomoeda, a MercadoCoin, “à medida que os reguladores permitam”, disse Chaves.

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Mesmo com o inverno cripto, Chaves afirmou que o Mercado Livre acredita na tecnologia blockchain e vai seguir investindo e pensando em novos casos de uso. No Brasil, a MercadoCoin ainda não está habilitada para todos os usuários. Neste primeiro momento, o Mercado Livre usará seu token como cashback, mas estuda outras possibilidades de uso da moeda.

A empresa mantém pouco menos de 1% de seus ativos em caixa em criptomoedas. “É algo que a gente pretende manter na carteira como diversificação da tesouraria até para poder ter essas operações azeitadas, saber como lidar com o mercado tradicional”, disse Chaves.

Em um momento em que as altas taxas de juros deterioram a qualidade do mercado de crédito e pioram índices de inadimplência, como o NPL (non-performing loans), Chaves diz que o Mercado Livre prefere olhar para a rentabilidade da carteira como métrica. “Essa rentabilidade está bem e sinalizando um negócio que segue muito saudável, com uma leve expansão de margem no crédito”, disse.

Chaves explica que o NPL está pior não porque a empresa viu uma degradação da qualidade de crédito, mas porque desacelerou a originação.

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“Quando geramos menos crédito novo, tenho menos crédito novo no denominador, e estou simplesmente rolando os créditos que eu já sabia que iriam performar mal no NPL”, disse. “Esses créditos já estavam provisionados. A gente sempre foi muito conservador em antecipar essas perdas. Por isso que, diferente da maioria dos players do mercado, o NPL não traz nenhum efeito prático. Temos incentivado os investidores a olharem menos o NPL e mais a rentabilidade da carteira, justamente porque a gente é muito conservador na hora de fazer a provisão”.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups