Por que a mexicana Kavak, depois de tomar dívida, decidiu entrar no Oriente Médio

Startup com plataforma digital de venda de carros usados anunciou entrada nos mercados dos Emirados Árabes, de Omã e da Arábia Saudita

Startup mexicana Kavak chega ao Oriente Médio (Divulgação/Kavak)
12 de Outubro, 2022 | 02:20 PM

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Bloomberg Línea — A tomada de dívida de US$ 810 milhões do unicórnio mexicano Kavak chamou a atenção de analistas de mercado há algumas semanas, já que superou consideravelmente o tamanho de linhas de crédito recebidas por startups. Nesta quarta-feira (12), a Kavak anunciou outra medida não usual: o seu desembarque nos Emirados Árabes Unidos (com foco em Dubai), em Omã e na Arábia Saudita.

De olho em um mercado que, segundo suas estimativas, representa cerca de US$ 34 bilhões, e que equivale aos de Argentina, Chile e Peru juntos, a plataforma de venda de carros usados indica que a aposta é menos arriscada que nos países da América Latina. O Oriente Médio tem 1,9 milhão de transações de carros por ano.

“Nosso plano sempre foi os mercados emergentes e essa é nossa visão para os próximos 20 anos”, disse Juan Cruz de la Rua, diretor internacional da Kavak e fundador da Checkars, startup argentina de vendas de carros que a Kavak comprou em 2020.

“Estamos acelerando os planos em parte pelos resultados dos lançamentos que tivemos no Chile, na Colômbia e no Peru; e também porque, cada vez que desembarcamos em um país, fazemos isso com mais eficiência e rapidez do que antes.”

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Em julho a Kavak chegou à Turquia, um dos cinco maiores países do mundo em termos de transações, segundo a startup, que afirma que por lá são vendidos sete milhões de carros anualmente.

Foto: Kavak/Divulgaçãodfd

Com o novo anúncio, a Kavak já está presente em 10 países: México, Argentina, Brasil, Chile, Peru, Colômbia, Turquia, Emirados Árabes Unidos, Omã e Arábia Saudita.

Mercados distintos

O foco da Kavak no Oriente Médio não é à toa, muito menos nos três mercados anunciados agora.

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A Arábia Saudita é um país de 30 milhões de habitantes e 1,1 milhão de transações de carros, ou seja, 70% do tamanho do mercado argentino em termos de vendas. No entanto, o ticket médio é o dobro do da Argentina, o que por si só já o torna maior em termos de faturamento.

Além disso, o mercado por lá cresce a uma taxa de 15% ao ano e deve seguir assim por causa de um impulso importante: em 2021 tornou-se legal para mulheres sauditas dirigirem.

Omã, por sua vez, é um mercado muito pequeno, com cerca de 100 mil carros vendidos por ano. No país, a Kavak faz um pouso estratégico já que é um ponto de compra muito importante para depois vender seus carros para Dubai.

Dubai, por outro lado, é um mercado de 400 mil carros por ano com um ticket médio três vezes maior que o valor de um carro na América Latina.

“Os carros em Dubai são super luxo, mas têm o mesmo preço de venda que na Turquia. No entanto, um BMW ou um Audi é um carro de gama média-baixa. Então o foco será nos 95% da população que é formada por expatriados que têm residência há um ou dois anos e buscam resolver com facilidade a aquisição de um carro”, explica o executivo.

“O Oriente Médio foi uma oportunidade”, explica De la Rúa. “A aquisição da empresa de venda de carros usados Carzaty, de origem omani, acelerou nossa expansão regional. Estamos atentos às oportunidades e sinergias que não queremos perder”, disse.

Para a nova aposta, a Kavak investirá cerca de US$ 130 milhões nos próximos dois anos, que serão utilizados para ter um estoque de 3 mil carros e a infraestrutura necessária naqueles países.

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Tomadores de dívidas

A Kavak, unicórnio avaliado em US$ 8,7 bilhões, recentemente contraiu dívida de US$ 810 milhões com HSBC, Santander e Goldman Sachs. Esse valor é superior aos US$ 700 milhões levantados em sua última rodada com fundos como General Catalyst, SoftBank, Tiger Global e Founders Fund.

Assim, a Kavak tornou-se a empresa com maior volume de financiamentos concedidos por instituições financeiras a empresas com menos de 10 anos de criação na região.

A linha de crédito é maior que a soma total da dívida que algumas startups latinas adquiriram no ano passado (US$ 733 milhões). Entre eles estão a fintech chilena Xepelin, para a qual o Goldman Sachs emprestou US$ 140 milhões; também US$ 150 milhões para a gestora de empréstimos mexicana Clara, US$ 233 milhões para o Mercado Livre (MELI) e US$ 160 milhões para a fintech mexicana Konfio.

Expectativas no Oriente Médio

A Kavak estabelecerá seu modelo de negócios no Oriente Médio e fortalecerá sua operação com 500 funcionários e um estoque de 500 veículos, distribuídos em três centros logísticos localizados nas cidades de Dubai e Mascate. Nesta última, capital do Sultanato de Omã, a empresa está construindo um centro de recondicionamento com capacidade para processar mais de 1.500 veículos por mês.

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Por outro lado, na Arábia Saudita, a Kavak desembarcará com um esquema orgânico no qual contratará mais de 500 funcionários e estabelecerá dois centros operacionais em Riad, capital da Arábia Saudita e maior cidade da Península Arábica. Lá, a startup vai instalar sua oficina automotiva.

A meta para o Oriente Médio é ter vendas de mil unidades por mês.

“Hoje não precisamos de novos investidores, estamos focados em obter rentabilidade nos países em que atuamos, onde no México, Argentina e Brasil estamos muito próximos de alcançá-la. Apesar disso, no Oriente Médio, o que existe é uma oferta de capital maior do que a da América Latina e estamos conversando com os bancos para tomar dívida se necessário”, explica De La Rúa.

Questionado sobre o peso da nova operação no negócio total, a Kavak indica que terá um valor acrescentado superior ao nível da faturação por tíquete, apesar dos custos mais elevados.

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Lorena Guarino

Periodista argentina, especializada en negocios y economía desde hace más de 20 años. Fue editora general de Forbes Argentina y anteriormente se desarrollo en diarios como La Nación, El Cronista Comercial y Buenos Aires Económico e Infobae entre otros.