Investiu em fundo ESG? Regras mais rígidas podem causar surpresa a investidores

Uma parcela dos fundos pode passar por reclassificação nos próximos meses diante de revisão de regras na União Europeia

A UE adotou o conjunto de regras mais ambicioso do mundo para investimentos ESG
Por Greg Ritchie e Frances Schwartzkopff
17 de Setembro, 2022 | 07:51 AM

Bloomberg — Gestoras de recursos em toda a Europa podem ter que reclassificar centenas de fundos com padrões ambientais, sociais e de governança (ESG) nos próximos meses.

Revisões de empresas de pesquisas, entre elas a Morningstar, mostram que apenas uma pequena parcela dos fundos registrados como Artigo 9 – a categoria ESG mais rigorosa da União Europeia – realmente atende ao nível de investimentos sustentáveis exigido pelas regras da região.

Advogados que assessoram o setor agora alertam que muitas gestoras de fundos podem ter pouca escolha a não ser mudar suas designações oficiais de ESG. Como resultado, clientes que pensavam ter investido no produto ESG mais limpo da UE podem ter uma verdadeira surpresa.

“Posso imaginar que haverá muitas reclassificações do Artigo 9” para uma designação ESG menos rígida, conhecida como Artigo 8, disse Rahul Manvatkar, sócio de fundos de investimento da Linklaters, de Londres. “Por mais que não queiram, essa provavelmente será a trajetória à medida que participantes do mercado se familiarizam com as regras.”

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A UE adotou o conjunto de regras mais ambicioso do mundo para investimentos ESG em março de 2021.

Mas a escala total dos desafios apresentados por esse marco - o Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis, ou SFDR na sigla em inglês - só agora veio à tona.

Gestores de ativos dizem que não têm dados suficientes para cumprir com as regras, e o regulamento europeu SFDR, Sustainable Finance Disclosure Regulation, tem sido continuamente ajustado à medida que os reguladores reconhecem as lacunas. A Comissão da UE disse que um fundo do Artigo 9 “pode investir em uma ampla gama” de ativos “desde que esses ativos subjacentes sejam qualificados como investimentos sustentáveis”, ao mesmo tempo que permite atender às necessidades de liquidez e de hedge.

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Em outras palavras, as autoridades da UE “deixaram claro que os fundos do Artigo 9 devem se comprometer a investir quase exclusivamente em investimentos sustentáveis”, disse Hugo Gallagher, consultor sênior de políticas do Fórum Europeu de Investimentos Sustentáveis (Eurosif), cujos membros representam cerca de US$ 20 trilhões em ativos sob gestão.

“Claramente, uma proporção significativa de fundos classificados como Artigo 9 está muito aquém de atingir esse limite”, disse. A Morningstar estima que os fundos do Artigo 9 representem atualmente cerca de 470 bilhões de euros (US$ 472 bilhões) em ativos sob gestão.

Mais de 300 fundos do Artigo 9 informaram um nível mínimo de investimentos sustentáveis inferior a 90%, colocando-os em risco de perder a designação, disse o provedor de dados FE fundinfo à Bloomberg. Muitos outros não forneceram qualquer indicação de suas metas de sustentabilidade, um indício de que o número pode ser significativamente maior que 300.

O SFDR exige que empresas classifiquem seus produtos de investimento em uma destas três categorias: Artigo 6, que analisa apenas os potenciais riscos ESG; Artigo 8, que deve “promover” características ESG; e o Artigo 9, que estabelece “objetivos” ESG mensuráveis.

Reguladores também enfrentam obstáculos para interpretar as regras. As três autoridades de supervisão financeira da UE pediram à Comissão Europeia mais diretrizes sobre várias questões fundamentais sobre como definir um investimento sustentável. Enquanto isso, autoridades nacionais ficam encarregadas de supervisionar a indústria. A Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados (ESMA) afirmou que irá intervir se necessário.

A Morningstar, cujas estimativas apontam para cerca de 950 fundos do Artigo 9 no total, disse que cerca de 40% deles têm uma meta de investimento sustentável inferior a 50%. Apenas 2,5% destinam alocações superiores a 90%, e somente 12 divulgaram investimentos 100% sustentáveis.

“Isso levanta a questão: era realmente o que o regulador pretendia? Provavelmente, não”, disse Hortense Bioy, diretora global de pesquisa sustentável da Morningstar.

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