Por que Kanye West decidiu romper com todos os seus patrocinadores?

Rapper decidiu se desvincular de empresas parceiras e deve dispensar intermediários entre ele e seu público

Ye
Por Kim Bhasin
12 de Setembro, 2022 | 06:33 PM

Bloomberg — O rapper e designer Kanye West, que agora atende pelo nome de Ye, diz que se cansou de seus parceiros corporativos e planeja expandir seus negócios sozinho.

“Está na hora de seguir sozinho”, disse Ye em uma entrevista por telefone. “Está tudo bem. Eu dei lucro para as empresas e as empresas deram lucro para mim. Criamos ideias que mudarão o setor de vestuário para sempre. A jaqueta puffer, o tênis Foam Runner e as sandálias mudaram a indústria. Agora é hora de Ye criar uma indústria nova. Chega de ter empresas entre mim e o público”.

Mesmo com bilhões de dólares em receita e dois dos mais lucrativos negócios de royalties da indústria da moda, Ye demonstrou total disposição para lutar publicamente contra as mesmas corporações com as quais trabalhou em estreita colaboração, mas há obstáculos para uma ruptura tranquila. O mais importante é seu acordo de longo prazo com a Adidas para produzir tênis como o Yeezy Boost 350, que expira em 2026, e um acordo de vestuário com a Gap que termina em 2030. Até lá, Ye e seus parceiros terão que se dar bem.

“Elas são as mães dos meus filhos”, disse Yeezy. “Acho que vamos ter que criar esses tênis em conjunto”.

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Representantes da Adidas e da Gap não quiseram comentar.

Ye pretende abrir espaços chamados Donda, o nome de sua falecida mãe, em todo país, para oferecer escolas, fazendas, alojamentos, além de espaços de compras. Os produtos vendidos ali serão exclusivos para as lojas físicas e online de Yeezy e serão projetados pelos funcionários de Yeezy já existentes. Ye disse que está trabalhando com o ex-executivo da Adidas Eric Liedtke, que agora dirige a operação independente de vestuário vegano Unless Collective. Nas últimas semanas, ele também tem instado potenciais candidatos com experiência na abertura de redes de varejo a entrar em contato para um emprego.

Ele também continuará operando a Yeezy Supply, a loja de comércio eletrônico que atua como o principal ponto de lançamento de novos produtos Yeezy, atingindo o mercado em uma série infinita de lançamentos de produtos.

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A Adidas e a Gap apostaram muito na Yeezy, contando com a marca de Ye para aumentar seu faturamento com os mais jovens, chamar a atenção dos consumidores e impulsionar as vendas. As mudanças de gestão estão em andamento em ambas as marcas com a mudança de seus CEOs.

Na Adidas, o executivo Kasper Rorsted planeja renunciar no próximo ano, e a líder da Gap, Sonia Syngal, foi demitida em julho. A Gap tem um chefe interino no comando enquanto ambas as empresas procuram os substitutos que herdarão suas relações com Ye, que tem tido problemas com seus parceiros corporativos ultimamente. Ele pediu repetidamente para que a Adidas e a Gap o colocassem em seus conselhos, mas não teve sucesso.

“Se eu discutir com alguém mais falido do que eu, o único resultado é que eu vou ficar ainda mais falido”, disse Ye.

Desacordos de longa data

A Adidas, uma das relações mais longas de Ye, fabrica e distribui os calçados Yeezy. O rapper discorda há muito da forma como a linha tem sido administrada, principalmente quando ele não é consultado sobre planejamento e estratégia. O problema mais recente foi com um desenho de sandália da Adidas que se parecia com um estilo Yeezy. Ele disse que era uma “cópia descarada”.

“Ninguém deve ficar nessa posição em que as pessoas possam roubar suas ideias e afirmar que estão pagando por nosso silêncio”, disse Ye, que certamente não se calou nas últimas semanas, com uma série de publicações no Instagram na qual criticava executivos da Adidas. “Isso acaba com a inovação. Isso acaba com a criatividade. Foi isso que destruiu Nikola Tesla”.

A Gap, por sua vez, tem desenvolvido roupas como moletons, jaquetas e camisetas sob a marca Yeezy Gap e tem ambições bilionárias para a linha. Ye disse que firmou acordo com a Gap porque queria vender seus produtos por um preço mais acessível – o que conseguiu. Mas ele vem reclamando por não ser incluído em reuniões e por ser ignorado pela administração.

“Em cada passo da minha carreira, havia um obstáculo “, disse Ye. “Eles realizaram o sonho, mas sem Ye”.

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Ye também está com problemas com seu banco, o JPMorgan Chase & Co. (JPM), que passou a gerir seu patrimônio. No Instagram, ele criticou os executivos Bill Grous, do negócio de gestão de patrimônio do JPMorgan, o vice-presidente de bancos de investimento Jing Ulrich e o CEO Jamie Dimon. Ele disse que não conseguia falar com o CEO no telefone nem destravar qualquer acordo. Representantes de Dimon e do JPMorgan não quiseram comentar.

Sinto que há muito controle e manipulação para suprimir minha capacidade de afetar a economia e a indústria americana”, disse Ye sobre sua experiência com o banco.

Finanças complexas

A saga das finanças de Ye é complexa e data de muitos anos atrás, quando disse que tinha milhões em dívidas e fazia rap sobre morrer falido. Ele deu uma forte guinada desde então. Um balanço não auditado de suas finanças revisto pela Bloomberg News no ano passado mostrou que ele tinha US$ 122 milhões em dinheiro e ações, com bilhões em outros ativos, como a Yeezy. Seu negócio Yeezy rendeu US$ 191 milhões em royalties somente com o negócio com a Adidas em 2020, segundo com um documento privado elaborado pelo UBS Group.

Ye costumava manter seu patrimônio em um pequeno banco do estado americano de Wyoming antes de mudar para o JPMorgan. Ele vem cortando seus laços com o estado, onde passou muito tempo quando se mudou para Cody, uma pequena cidade com uma população de 10 mil habitantes, em 2019. Ele colocou um de seus ranchos à venda no final do ano passado, mais ou menos quando Ye e sua ex-mulher Kim Kardashian estavam se divorciando. O rancho, que inclui lagos, uma cabana, um estábulo e uma pista de kart, segundo o anúncio imobiliário, foi tirado do mercado.

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Quanto a esses acordos de marca, Ye quer negociar com a Adidas para obter 20% de royalties sobre todos os calçados que ele projetou com a empresa perpetuamente e guardá-los para seus quatro filhos. Como ele vai conseguir isso?

“Se essas empresas querem me enfrentar, saibam que eu banquei o bonzinho até agora”, disse Ye.

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